10 de jul. de 2007

Mel


O Belo


Pergunte a um sapo o que é o belo e receberás como resposta, segundo Voltaire, que belo são aqueles dois olhos enormes e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo. Para os gregos, o belo estava associado às boas ações, à virtude. No espaço e no tempo, o conceito de belo muda.


Hesíodo narra que as Musas cantaram no casamento de Cadmo e Harmonia os seguintes versos: "Quem é belo é caro, quem não é belo não é caro". Cuidado! O caro das musas significa querido, amado. Nestes tempos de grife, o caro também pode ser belo, na medida da exclusividade. Conta bancária recheada ou presença constante na mídia tornam qualquer um belo...

Mas, para mim, o belo é minha querida, amada, desejada, MEL.

É minha MELhor obra.


O Nome


Ao meu primeiro cão, um labrador, dei o nome de Argos. Os seguintes foram Ulisses e Penélope, também labradores. Aspásia, Lesbos, Helena, Themis, Hera, Géia, Afrodite, Atena são nomes gregos femininos disponíveis no mercado, mas não o adequado para minha filha. Se nos antigos nada me parecia apropriado, encontrei nos tempos modernos uma boa/bela referência quando lia "O Caso Elgin, de Theodore Vrettos": MELina Mercuri, ou Maria Amalia Mersuris(1925-1994). Nesta grega moderna havia espírito cívico, identidade cultural, disposição de luta, e grandeza de caráter e doçura na voz. A grande atriz que viveu exilada e virou Ministra da Cultura do primeiro governo socialista grego após a ditadura dos coronéis e ousou cobrar o retorno dos bens culturais gregos que haviam sido roubados ao longo dos tempos, desde os romanos, e pela Inglaterra, particularmente os frisos do Partenon. MELina, inteira é grega. MEL é MELhor parte dessa herança.


O Ridículo


Apesar dos avanços da ciência moderna, os filhos ainda não são clonados. São frutos de uma união, por isso também a escolha do nome não é solitária. Uma sugestão com tributo à cultura clássica grega, mas que, para vingar, não podia denunciar sua origem. Entre as preocupações com o início e o fim da chamada e o tributo a uma herança cultural, há também a preocupação de não expor a "vítima" ao ridículo.

O Cartório de Registro Civil da Rua Dr. Armando Barbedo, 480/501, na Tristeza, se encarregou de criar o primeiro dilema (di = dois; lema = premissa), conforme segue:

- Boa tarde! Gostaria de registrar o nascimento de minha filha.

- Preciso da informação do nascimento e dos documentos do pai e da mãe.

Entreguei os documentos solicitados mais o informativo do Hospital Moinhos de Vento.

- Menino ou menina?

- Menina.

- Nome?

- MEL Scop Crestani.

- MEL não pode ser.

- Por quê?

- Por que expõe a pessoa ao ridículo.

- Existe alguma lei, regulamento ou algo parecido dizendo que quem ostenta o nome de MEL ao ridículo?

- Só um minuto, vou falar com o Oficial.

- Olha, não é possível, não.

- Posso então botar o nome de Dulce?

- Sim.

- Maria?

- Sim.

- Miele?

- Sim.

- Veja só, Dulce é doce em italiano. Maria vai com as outras e Miele é mel em italiano.

- Mas já existem pessoas com esses nomes, mel é só produto das abelhas.

- Não são só as abelhas que produzem mel. Eu também. Sou um zangão e minha esposa é uma rainha. Não é o nome mas o comportamento, como o de vocês, que expõe a pessoa ao ridículo. Minha filha terá o nome de MEL quer vocês queiram ou não.

Saí furioso. No Cartório da Av. Venâncio Aires, 243, na Cidade Baixa, ninguém representou papel ridículo...