30 de set. de 2005

A vitória de Rebelo e o desespero da direita


Tribuna da Imprensa, 30/09/2005
Perdão, leitores, mas estou comemorando a vitória do deputado Aldo Rebelo. Eu o conheci numa viagem ao Oriente Médio, quando ele presidia a UNE - é bem humorado e bom papo. Mas não festejo por isso e sim porque a interpretação dos jornalões de que foi vitória dos corruptos é despeito. O resultado expõe a derrota da arrogante dupla PSDB-PFL, que irresponsavelmente elegeu Severino no início do esforço rumo ao golpe branco.

A derrota é deliciosa por ser também da mídia arrogante. Até a véspera os jornalões apostavam tudo no pefelista José Thomaz Nonô, vice de Severino na eleição anterior. "O Globo" queixou-se, indignado, na manchete: "Negociação com partidos do mensalão elege Aldo". O "Estado de S. Paulo" não conteve a irritação: "Governo abre o cofre e elege Aldo por 15 votos".

O "Jornal do Brasil", com seu jornalismo semifalido mas ainda engraçado: "Governo vence e fica refém das barganhas no varejo". E a "Folha de S. Paulo", primeiro jornal a canonizar Roberto Jefferson como santo padroeiro da luta contra a corrupção: "Rolo compressor de Lula dá vitória a Aldo". Herr Bornhausen e Eduardo Azeredo assinariam tudo isso embaixo, em nome de seus partidões, PFL e PSDB.

Aquelas vestais fraudulentas
Teria "O Globo" preferido ver Aldo (ou o governo) negociar com os partidões que compraram votos a US$ 300 mil por cabeça para dar a reeleição a FHC? Eu me dispenso de voltar à corrupção do partido de Herr Bornhausen, serviçal da ditadura militar, adepto de Collor, ou às privatizações do PSDB-PFL, que entregaram nossas empresas estatais a gangues e telegangues estrangeiras, com financiamento do BNDES.

Mas não dá para esquecer Eduardo Azeredo, atual presidente do PSDB e inventor do que agora é chamado "mensalão". Que diabo, como governador de Minas ele usou o mesmo Marcos Valério e o mesmo Banco Rural no caixa 2 de sua campanha pela reeleição. Itamar Franco, punido (por FHC) por tê-lo derrotado, recebeu Minas às portas da falência, foi sabotado e saneou as finanças do estado arrasado por Azeredo.

O PSDB e seu cúmplice PFL, com os filhotes de Maias e os netinhos de ACMs, apresentam-se como vestais em luta contra a corrupção - e assim aparecem na tela da TV e nas primeiras páginas. De fato, entendem muito de valerioduto, que não era melhor quando administrado pelo PSDB de Azeredo. Continua tão condenável hoje como foi no passado, no tempo de outros corruptos, talvez mais espertos.

Mais acusações irresponsáveis
Só que o erro maior deste governo atual, como do anterior, é a política econômica que a tudo atravessa, incólume, para favorecer a agiotagem internacional. E enquanto o moralismo digno dos velhos Clubes da Lanterna comanda a vida nacional, os banqueiros continuam a roubar o País e a reinar, com o aplauso da mídia - corrupta, para variar -, que desvia a atenção para a lama mas evita citar os corruptos amigos.

Como qualquer brasileiro, não quero ver corrupto triunfar. Tampouco acho que o País tenha de se curvar a vestais fraudulentas. Desde a ditadura essa gente corrompe o sistema. Agora invoca a desculpa de que seu passado corrupto "é História" e não tem de ser investigado, como alegou FHC. Deslumbrados como Fernando Gabeira entram na dança, sedentos de primeiras páginas de jornalões e "sound bites" da TV.

Gabeira atacou o curso "Silêncio dos Intelectuais" - iniciativa séria, que sabia ter sido planejada um ano antes da atual crise, envolvendo até críticos do governo Lula, como Chico de Oliveira. E se alguém o acusasse de ter trocado por US$ 300 mil seu voto na emenda de FHC? Cortejado pela direita, não resiste à tentação de aderir a ela. E, de quebra, retoma o antigo caso de amor com o oportunismo e o exibicionismo.

Hitler e Stálin, PSDB e PFL
Gabeira foi visto em toda parte exibindo-se de braço dado com os novos Hitler e Stálin - tão bem representados pelos herdeiros da UDR e do PCB, como do PSDB e do PFL. Se o pretexto era Severino, por que se associar exatamente àqueles que antes o fizeram presidente da Câmara, com a mesma obsessão de livrar-se de Lula - "dessa raça", como disse Herr Bornhausen? Mas aderiu à idéia fixa do golpe branco, de Azeredos e FHCs.

O próprio Severino relatou uma vez sua "conversa amigável" com FHC ("Telefonei a ele, depois ele me ligou de volta"). Manifestou então a certeza de que o ex-presidente mandara deputados do PSDB votarem nele. Como Severino tinha apoiado a ditadura militar no passado, quando defendia empresários que violam a CLT, sempre esteve afinado com a gente que fundou o PFL para continuar no poder ao fim da ditadura.

Severino teve 300 votos. Depois da votação, personalidades do PSDB e do PFL festejaram o resultado. FHC e o governador Geraldo Alckmin, candidato potencial ao Planalto, estiveram entre os que, junto com os jornalões, comemoraram o resultado como derrota de Lula e do partido do governo. Já na ânsia do golpe branco, alegavam então que o governo era autoritário e buscava desestabilizar os partidos da oposição.

27 de set. de 2005

Os milagres de Lula

- Acabou com o PT, com o PP, com o PL e com o PTB
- Colocou o bispo do baixo-clero na fogueira
- Dizimou boa parte dos trezentos picaretas
- Botou o Maluf na cadeia
- Enterrou a carreira da Marta, do João P Cunha, do Mercadante, do Ingenoino, do Luizinho, do Dirceu Borboleta, do Bittar, da Benedita, da Ideli, do Olívio Dutra, do Tarso Genro, do Humberto Costa, do, da, do, da......
- Devolveu o Zé Dirceu pro Fidel
- Acabou com o Duda Mendonça e com o Marcos Valério
- Fechou o Banco Rural
- Desmazelou o corporativismo no governo e nas estatais, aniquilou os sindicatos, ridicularizou o MST, a CUT e a UNE
- Ressuscitou o Gabeira
- Fez com que a maioria dos brasileiros fossem informados sobre as obras de Getulio e JK
- Mostrou aos brasileiros que agüentar o mesmo discurso todo dia é coisa pra surdo!

E com apenas duas vítimas fatais: Celso Daniel, o mártir de Santo André e Toninho, o mártir de Campinas

26 de set. de 2005

O PT NÃO MORREU...

... CADUCOU!
Entrou em coma quando seus líderes só pensaram em ganhar eleição. Prova: Lula não quis ser prefeito, nem governador. Piorou quando os mesmos líderes, tendo vendido a alma ao diabo, ganhou as eleições, passou a esnobar a esquerda e se alinhou à direita para gozar dos quinze minutos de fama.
Definha a cada oportunidade que alguém do PT abre a boca para dizer que está vivo.
Em Porto Alegre o PT começou a apodrecer quando a utopia que valia era a Utopia do Possível. Isso não é nem nunca foi utopia, tem outro nome, e não ouso pronunciá-lo em sala com criança.
O PT entrou em coma profunda em Porto Alegre quando Tarso Genro (apoiado por gente (sic) como Maria do Rosário) comprou pesquisa para derrotar a reeleição de Olívio Dutra para o governo do RS, desembarcando do recém iniciado governo municipal. A pá de cal do PT porto-alegrense foi o não reconhecimento que a mais recente derrota nas eleições municipais deu-se exclusivamente por culpa do lulismo desvairado de gente como Tarso Genro, Paulo Pimenta e Maria do Rosário. Águias no uso de cargos e da mídia, mas esclerosados, com sinais de senilidade precoce, quando justificam a derrota municipal ao desgaste de 16 anos de PT. Tão cegos que não se deram nem se dão conta que o PT perdeu em Caxias, em Pelotas, em Santa Maria e em São Paulo, e nesses municípios o PT não tinha 16 anos de casa...
Mas a certidão de óbito foi dada pelos 42% dos petistas votantes em Ricardo Berzoini. Ora, depois de tudo o que o Campo Majoritário fez, votar em Ricardo Berzoini é avalizar, é locupletar-se, é debochar da inteligência alheia. Qual a diferença entre José Dirceu e Eliseu Padilha? Entre Lula e FHC?
Será que esses petistas não lembram mais o tratamento que esse tal de Berzoini dispensou aos aposentados? E não lembrando, é possível levá-los a sério?
A esquerda não pode ser instrumentalizada pela Direita, dizem os lulistas desvairados, mas não vêem nenhum problema em o PT ser instrumentalizado pela Direita. Quem foi instrumentalizado a ponto de dar um cheque em branco ao Roberto Jefferson?
Agora dizem que a esquerda não deve se dividir porque senão a direita, que é unida, ganha. A esquerda unida ganhou, é verdade. Mas o lulismo desvairado ganhou com a esquerda mas governou com e para a direita. Alguém tem dúvida disso? Então? Então fodam-se!
E venho dizendo isso desde a véspera da posse de Lula. Não é profecia, é sabedoria popular: Me dizes com quem andas e eu direi quem és. E todos sabiam com quem Lula quis governar.
A única coisa que continua vivo é o autismo do lulismo desvairado.
AH! NO PASARAN!

25 de set. de 2005

Halawa

Com esta palavra árabe, os homens da CIA ganharam a confiança de Osama Bin Laden para a luta contra a União Soviética. Para não serem pegos na cumplicidade da luta dos Talibãs do Afeganistão contra a URSS, os EUA ensinaram formas de transferirem recursos sem deixar lastros. Para os EUA, ou confiavam ou confiavam, não tinham alternativa. A palavra “halawa”, significa “eu confio em você”, pois não há documento escrito. E os EUA confiavam em Bin Laden, a ponto de a ele entregarem armas, dinheiro e informações.
Não por acaso os talibãs do neoliberalismo são ferrenhos inimigos da burocracia de Estado, e aí transformam a burocracia definida por Max Weber, denegrindo-a, para poderem traficarem sem deixar pegadas. Por exemplo, quando os donos da mídia brasileira se reuniram com Lula, não houve reportagem de seus veículos. As fotos saíram através dos veículos burocráticos, que registram a agenda governamental, pois queriam foto nem agenda de compromissos, apenas empréstimos do BNDES para saldar suas dívidas contraídas em dólar.
É a mesma razão pela qual Fernando Collor de Mello implantou a perseguição do servidor público, chamando-o de marajás. E os que vieram depois só fizeram continuar maculando a imagem do servidor público porque o servidor público continua, eles, não! Lula também acha que os problemas do Estado Brasileiro são os aposentados. Os males do Brasil são as saúvas Marcos Valérios, Genuínos, Delúbios, Sérgios Mottas, Padilhas, FHCs, Paulos César Farias, Malufs e Borghousens. A montanha de dinheiro público parida nos pardieiros dessas raposas paga todos os aposentados e ainda sobraria bufunfa para financiar as campanhas políticas.
Sempre tem um ignorante ou um safado para dizer que o dinheiro das campanhas não é dinheiro público. Mas é. A empresa que declara o valor dado, deixa de pagar tributos sobre ele. Além disso, os grandes valores são os bilhetes das concorrências fraudadas, das isenções, incentivos fiscais e PROERs da vida...
No sistema “halawa”, um doleiro de Porto Alegre que quer depositar US$ 1 nas Ilhas Cayman, onde a RBS possui um empresa, entra em contato com um corresponde da Suiça, que faz o depósito em Cayman. O doleiro gaúcho registra um crédito para seu parceiro suíço no mesmo valor. Quando o parceiro precisar mandar dinheiro para o Brasil, o doleiro de Porto Alegre faz o pagamento em reais para o cliente do doleiro das Ilhas Cayman, sem que haja remessa física de dinheiro.
Assim funciona com as empresas brasileiras que têm “subsidiárias” (por quê?) nas Ilhas Cayman, como os políticos que gastam montanhas de dinheiro nas campanhas. É a mesma regra de funcionamento da Al Qaeda. Provar? É por isso que o Maluf e o Al Capone só foram pegos pelo Imposto de Renda. E o imposto de renda é controlado pelos marajás servidores públicos. Deu para entender!?

21 de set. de 2005

O racismo visto por racistas


UOL - 21/09/2005
Sarcasmo sobre racismo tem efeito bumerangue
A situação dos negros na França não é diferente de Nova Orleans

John Tagliabue
Em Paris

Os veículos de informação franceses foram cativados pelo furacão Katrina. Eles apontam de que maneira a reação pífia do governo americano ao desastre trouxe à tona, e à vista de todos, a triste condição de muitos negros americanos. Mas, desta vez, os franceses, que há muito têm criticado o racismo da América, não puderam evitar traçar alguns paralelos com o que ocorre no seu próprio território.


Sissouo Cheicka teve dificuldade para obter empréstimo ao abrir sua loja, que dá lucro
"É verdade que as devastações do Katrina expuseram cruelmente à luz do dia as feridas da América, a multiplicação dos guetos na sociedade, a pobreza, a criminalidade, as tensões raciais e territoriais", afirma o diário conservador "Le Figaro", num editorial publicado em 8 de setembro. "Na França, os que discordam com essa situação apressam-se a apedrejar o `modelo americano' e o seu presidente neo-conservador. Mas será que eles ao menos viram o estado em que se encontra o seu próprio país?".

Quatro dias apenas antes disso, um incêndio havia destruído um apartamento no sul de Paris, matando doze pessoas, a maioria das quais era negra. E poucos dias antes disso, 17 negros morreram num único incêndio. Desde abril, 48 pessoas, a maioria das quais eram crianças e todas elas negras, morreram em quatro incêndios diferentes em Paris.

Em cidades suburbanas tais como Château Rouge, lotadas de centenas de milhares de imigrantes não-brancos, entre os quais alguns árabes, mas, sobretudo uma maioria de negros, os quais a França foi absorvendo ao longo dos anos, vindos das suas ex-colônias na África e no Caribe, dá para sentir a cólera das pessoas no ar.

"Pode até ser uma coincidência", diz Sissouo Cheickh, num tom amargo, "mas há uma pergunta à qual os franceses precisam responder: Das 48 pessoas que morreram, por que todas as 48 eram negras?".

Cheickh, 28, obteve um diploma universitário na França, mas em vez de trabalhar para alguma pessoa ou empresa e de ter de encarar aquilo que ele e outros jovens negros chamam de "baixo teto de vidro da França", ele optou por iniciar o seu próprio negócio. Seis meses atrás, ele juntou algum dinheiro e abriu uma loja.

"Você vê esses tecidos? Tudo isso vem da África, da minha família", diz Cheickh, que é originário do Mali, gesticulando em volta de rolos de panos multicoloridos.

Há muito a França se gaba de ser o berço dos direitos humanos e um baluarte contra o racismo. No passado, regularmente, ela denunciava o racismo nos Estados Unidos, abria as suas portas para artistas que se dispunham a fazer a viagem de Harlem até Paris, convidava negros americanos talentosos tais como a dançarina Josephine Baker, músicos como Sidney Bechet e escritores como Richard Wright e James Baldwin.

Mas a insistência dos franceses em defender a igualdade entre os homens os empurra fora da realidade, segundo afirmam os seus críticos negros, uma vez que eles perpetuam com isso a ficção de uma sociedade sem minorias.

O censo na França não classifica as pessoas por raças. Com isso, enquanto se supõe que o número de negros seja de cerca de 1,5 milhão, para uma população total de 59 milhões, ninguém sabe realmente qual é o número exato, o qual na realidade, segundo outras estimativas, é bem mais elevado.

Não há praticamente negros no mundo empresarial francês, enquanto os negros não têm praticamente nenhuma representação política. Nenhuma pessoa negra tem assento na Assembléia Nacional ou num parlamento regional, e raros são aqueles vistos atuando nas câmaras municipais. A União Européia financia programas de ajuda às minorias, mas não na França, por causa da sua recusa a reconhecer a existência das minorias.

Com isso, hoje, os negros não aparecem nem um pouco na ordem do dia francesa. Depois dos recentes incêndios, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, propôs implantar um programa de ação afirmativa e um projeto de lei visando a pôr fim à ocultação da identidade racial ou étnica de uma pessoa. Mas os outros membros do ministério, inclusive o ministro para a igualdade das oportunidades, rejeitaram essas idéias, alegando que elas ofendem o princípio fundamental de igualdade.

"Os franceses gostam de dizer: `Os negros são um problema social, não racial"', diz Gaston Kelman, 52, um nativo de Camarões autor de muitos livros sobre a população negra na França. "Por esta razão, as nossas instituições não têm meios para resolver o problema".

Até recentemente, praticamente todos os negros encontravam-se no degrau mais baixo da escada social. No entanto, aos poucos, uma nova geração, da qual faz parte Cheickh, recebe uma educação, uma formação, abre empresas e gradualmente vai dando à luz uma classe média negra. Eles estão sentindo a discriminação que, segundo eles impregna a sociedade francesa e estão começando a resistir.

Após ter obtido em diploma em economia e processamento de dados, Claude Vuaki fez a sua aprendizagem em vários empregos antes de decidir iniciar o seu próprio negócio.

Junto com a sua mulher, Kibe, ele abriu um salão de beleza na região central de Paris. Mas a procura de Vuaki de um capital para a sua start-up foi típica dos sofrimentos que os negros costumam suportar. "Eles disseram imediatamente, nada de empréstimo, nada de dinheiro", conta Vuaki, 52. Junto com a sua mulher, ele conseguiu reunir algum dinheiro economizado pela sua família para auto-financiar sua loja.

Agora, os negócios vão indo tão bem que eles planejam abrir uma segunda loja, em Nice ou em Cannes. Kibe Vuaki viaja regularmente para os Estados Unidos onde ela estuda os cortes de cabelos afro-americanos.

Ainda assim, ela se inclui dentro de uma minoria relativamente pequena. A maioria dos negros é empregada em trabalhos domésticos ou servis, na construção civil ou nos transportes. O que incentiva pessoas como Vuaki é que o teto de vidro que os jovens negros que têm acesso a uma formação sentem com tanta freqüência não os deixa desencorajados, mas, cada vez mais, os motiva a irem à luta por conta própria.

"Muitas pessoas que eu conheço querem criar algo por conta própria", diz ele, com freqüência nos setores do paisagismo, da construção e dos serviços de entrega.

Mesmo assim, Kelman precisa que esta pequena abertura não está inibindo muitos jovens africanos que receberam uma educação de irem embora para a Grã-Bretanha, o Canadá ou os Estados Unidos, onde eles acreditam que encontrarão maiores oportunidades.

Indagado se o povo francês é racista, Kelman respondeu: "É um racismo matizado. Todo francês lhe dirá imediatamente: `Um dos meus melhores amigos é negro"'.

Kelman acrescenta que as políticas de habitação e de emprego criam uma "fábrica de guetos institucionalizada". Ele descreve dando boas risadas uma típica entrevista para um emprego para um candidato negro.

Quando o patrão percebe que o candidato é negro, ele começa celebrando as paisagens e os sons da África, que ele descobriu durante suas mais recentes férias neste continente: As praias de perder de vista, a vegetação belíssima, o vasto céu. Nem é preciso dizer que o candidato não consegue o emprego.

Nas escolas, os alunos brancos são normalmente incentivados a darem prosseguimento aos seus estudos, enquanto as crianças negras não raro são orientadas a seguirem estudos vocacionais. A influência dos afro-americanos, por intermédio da televisão, dos filmes e dos esportes, está em toda parte.

Alguns jovens negros acabam se voltando para o afrocentrismo (filosofia que faz da África o centro do mundo), explica Kelman, outros para os rappers e outros ainda para os grupos de negros muçulmanos. O que eles não fazem é se inserir na corrente principal da sociedade francesa.

"Nós estamos num impasse", conclui Kelman.

"A mídia diz: Somos onipotentes e fazemos seu silêncio falar"



"Prezados alunos,
soube, por alguns colegas professores, que muitos de vocês estão intrigados ou perplexos com meu suposto "silêncio". Digo suposto porque, como lhes mostrarei a seguir, essa imagem foi construída pelos meios de comunicação, particularmente pela imprensa. Na verdade, tenho falado bastante em vários grupos de discussão política que se formaram pelo país, mas tenho evitado a mídia e vou lhes dizer os motivos. Antes de fazê-lo, porém, quero fazer algumas observações gerais.
1. Vocês devem estar lembrados de que, durante o segundo turno das eleições presidenciais, a mídia (imprensa, rádio e televisão) afirmava que Lula não iria poder governar por causa dos radicais do PT, isto é, pessoas como Heloisa Helena, Babá e Luciana Genro. Você não acham curioso que, de meados de 2003 e sobretudo hoje, essas pessoas tenham sido transformadas pela mesma mídia em portadores da racionalidade e da ética, verdadeiros porta-vozes de um PT que foi traído e que teria desaparecido? Como indagava o poeta: "Mudou o mundo ou mudei eu?". Ou deveríamos indagar: a mídia é volúvel ou possui interesses muito claros, instrumentalizando aqueles podem servi-los conforme soprem os ventos?
2. Vocês devem estar lembrados de que, desde os primeiros dias do governo Lula, uma parte da mídia, manifestando preconceito de classe, afirmava que, o presidente da República, não tendo curso universitário nem sabendo falar várias línguas, não tinha competência para governar? Cansando dessa tecla, que não surtia resultado, passou-se a ironizar e criticar os discursos de Lula e seus improvisos. Não tendo isso dado resultado, passou-se a falar o populismo presidencial, isto é, a forma arcaica do governo. Como isso também não deu resultado, passou-se a falar num país à beira da crise, alguns chegando a dizer que estávamos numa situação parecida com a de março de 1964 e, portanto, às vésperas de um golpe de Estado! Como o golpe não veio (ele veio agora, sob a forma de um golpe branco), passou-se a falar em crise do governo (as divergências entre Palocci e Dirceu) e em crise do PT (as divergências entre as tendências).
Penso que um dos pontos altos dessa seqüência foi um artigo de um jornalista que dizia que, na arma do policial que matou o brasileiro em Londres, estava a impressão digital de Lula, pois não criando empregos, forçara a emigração! Além de delirante, a afirmação ocultava: a) que aquele brasileiro estava na Inglaterra há cinco anos (emigrou durante o governo FHC); b) estavam publicados os dados de crescimento do emprego no Brasil nos últimos dois anos. Eu poderia prosseguir, mas creio ser suficiente o que mencionei para que se perceba que estamos caminhando sobre um terreno completamente minado.
3. As duas primeiras observações me conduzem a uma terceira, que julgo a mais importante. Vocês sabem que, entre os princípios que norteiam a vida democrática, o direito à informação é um dos mais fundamentais. De fato, na medida em que a democracia afirma a igualdade política dos cidadãos, afirma por isso mesmo que todos são igualmente competentes em política. Ora, essa competência cidadã depende da qualidade da informação cuja ausência nos torna politicamente incompetentes. Assim, esse direito democrático é inseparável da vida republicana, ou seja, da existência do espaço público das opiniões. Em termos democráticos e republicanos, a esfera da opinião pública institui o campo público das discussões, dos debates, da produção e recepção das informações pelos cidadãos. E um direito, como vocês sabem, é sempre universal, distinguindo-se do interesse, pois este é sempre particular. Ora, qual o problema? Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados. Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. E estes sempre ganham a parada.
Apesar de tudo o que lhes disse acima, fiz, como os demais (no mundo inteiro, aliás), uso dos meios de comunicação, consciente dos limites e dos problemas envolvidos neles e por eles. Exatamente por isso, hoje, vocês perguntam por que não os usei para discutir a difícil conjuntura brasileira. Tenho quatro motivos principais para isso. O primeiro, é de ordem estritamente pessoal. Os que fizeram meu curso no semestre passado sabem que mal pude ministrá-lo em decorrência do gravíssimo problema de saúde de minha mãe. Aos 91 anos, minha mãe, no dia 24 de fevereiro, teve um derrame cerebral hemorrágico, permaneceu em coma durante dois meses e, ao retornar à consciência, estava afásica, hemiplégica, com problemas renais e pulmonares. De fevereiro ao início de junho, permaneci no hospital, fazendo-lhe companhia durante 24 horas. Cancelei todos os meus compromissos nacionais e internacionais, não participei das atividades do ano Brasil-França, não compareci às reuniões do Conselho Nacional de Educação, não participei das reuniões mensais do grupo de discussão política e não prestei atenção no que se passava no país. Assim, na fase inicial da crise política, eu não tinha a menor condição, nem o desejo, de me manifestar publicamente.
O segundo motivo foi, e é, a consciência da desinformação. Vendo algumas sessões das CPIs e noticiários de televisão, ouvindo as rádios e lendo jornais, dava-me conta do bombardeio de notícias desencontradas, que não permitiam formar um quadro de referência mínimo para emitir algum juízo. Além disso, pouco a pouco, tornava-se claro não só que as notícias eram desencontradas, mas que também eram apresentadas como surpresas diárias: o que se imaginava saber na véspera era desmentido no dia seguinte. Mas não só isso. Era também possível observar, sobretudo no caso dos jornais e televisões, que as manchetes ou "chamadas" não correspondiam exatamente ao conteúdo da notícia, fazendo com que se desconfiasse de ambos. A desinformação (como disse alguém outro dia: "da missa, não sabemos a metade"), não permitindo análise e reflexão, pode levar a opiniões levianas, num momento que não é leve e sim grave.
Além disso, a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião. Por isso mesmo, a forma da notícia tornou-se assustadora, pois indícios e suspeitas são apresentados como evidências, e, antes que haja provas, os suspeitos são julgados culpados e condenados. Esse procedimento fere dois princípios afirmados em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, quais sejam, todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário e ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos. Ora, vocês conhecem o texto de Hegel [filósofo alemão, 1770-1831], na "Fenomenologia do Espírito", sobre o Terror (em 1793), isto é, a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, morte efetuada sob a forma do espetáculo público. Essa perspectiva, como vocês também sabem, é também desenvolvida por Arendt [Hannah Arendt, filósofa alemã, naturalizada norte-americana, 1906-1975] e Lefort [Claude Lefort, filósofo francês] a respeito dos totalitarismos e seus tribunais, e para isso ambos enfatizam, na Declaração de 1789, o princípio referente à não criminalização das idéias, assinalando que nos regimes totalitários a opinião dissidente é tratada como crime.
Assim, na presente circunstância brasileira, a impressão geral deixada pela mídia é da mescla de espetáculo e terror, tornando mais difícil do que já era manifestar idéias e opiniões nela e por meio dela.
Meu terceiro motivo será compreendido por vocês quando lerem os artigos de jornal que inseri no final desta carta. Um artigo foi escrito antes da posse de Lula ["Desconfiança saudável", na Folha, em 8.dez.2002], alertando para o risco de uma "transição", isto é, um acordo com o PSDB. Os outros dois foram escritos em 2004, quando do "caso Waldomiro" [ambos na Folha: "A disputa simbólica", em 18.fev.2004, e "Em prol da reforma política", em 11.mar.2004]. Ambos insistem na necessidade urgente da reforma política. Os fatos atuais (ou o que aparece como fato) não modificam em nada o que escrevi há quase um ano, pelo contrário, reforçam o que havia dito e por isso não vi razão para voltar a escrever, pois eu escreveria algo ridículo, do tipo: "Como já escrevi no dia tal em tal lugar...". Ou seja, se meu segundo motivo me leva a considerar que não há a menor condição para opinar no varejo sobre cada fato ou notícia, o meu terceiro motivo é que, no que toca ao problema de fundo, já me manifestei publicamente.
Resta o quarto motivo. Aqui, há duas ordens diferentes de fatos que penso ser necessário apresentar. A primeira, se refere ao ciclo "O Silêncio dos Intelectuais"; a segunda, à atitude da mídia. Há 20 anos, Adauto Novais organiza anualmente ciclos internacionais de conferências e debates sobre temas atuais. Sempre com um ano de antecedência, Adauto se reúne com alguns amigos para discutir e decidir o tema do ciclo. Participo desse grupo de discussão. Em abril de 2004, quando nos reunimos para decidir o ciclo de 2005, alguns membros do grupo (entre os quais, eu) preparavam-se para um colóquio, na França, cujo tema era "Fim da Política?", outros iam participar de um seminário, nos Estados Unidos, sobre o enclausuramento dos intelectuais nas universidades e centros de pesquisa, e outros iniciavam os preparativos para a comemoração do centenário de Sartre, símbolo do engajamento político dos intelectuais.
Nesse ambiente, acabamos propondo que o ciclo discutisse a figura contemporânea do intelectual e Adauto propôs como título "O Silêncio dos Intelectuais". Uma vez feitos os convites nacionais e internacionais aos conferencistas, recebidas as ementas e organizada a infra-estrutura, Adauto fez o que sempre faz: com muitos meses de antecedência, conversou com jornalistas, passou-lhes as ementas, explicou o sentido e a finalidade do ciclo.
Ou seja, no início de 2005, a imprensa tinha conhecimento do ciclo e de seu título. E eis que, de repente, não mais que de repente, durante a crise política, alguns falaram do "Silêncio dos Intelectuais", referindo-se aos intelectuais petistas! Curiosa escolha de título para uma matéria jornalística... ["O silêncio dos inocentes", reportagem da Folha em 19.jun.2005] Veio assim, sem mais nem menos, por pura inspiração. Mais curiosa ainda foi essa escolha, se se considerar que, ao longo de 2005, praticamente todos os intelectuais petistas (talvez com exceção de Antonio Candido e de mim) se manifestaram em artigos, entrevistas, programas de rádio e de televisão!!! Onde o silêncio? Como eu lhes disse, notícias são produzidas sem ou contra os fatos. E com as notícias vieram as versões e opiniões, os julgamentos sumários e as desqualificações públicas, culminando no tratamento dado ao ciclo, quando este se iniciou.
A mídia decidiu que o ciclo se referia aos intelectuais petistas, apesar de saber que fora pensado em 2004, de ler as ementas, de haver participantes que não são petistas, para nem falar dos conferencistas estrangeiros. O ciclo virou espetáculo.
Uma revista afirmou que, entre os patrocinadores (Minc, Petrobras e Sesc), estavam faltando os Correios. Uma outra afirmou que os participantes eram intelectuais do tipo "porquinho prático" (não explicou o que isso queria dizer). Um jornal colocou a notícia da primeira conferência (a minha) no caderno de política, sob a rubrica "Escândalo do Mensalão", com direito a foto etc.
A segunda ordem de fatos está diretamente relacionada comigo. Quando publiquei o artigo sobre o "caso Waldomiro", um jornalista escreveu uma coluna na qual me dirigiu todo tipo de impropérios e usou expressões e adjetivos com que me desqualificava como pessoa, mulher, escritora, professora e intelectual engajada.
Não respondi. Apenas escrevi o segundo artigo, sobre a reforma política, e dei por encerrada minha intervenção pública por meio da imprensa. A partir de então, além de não publicar artigos em jornais, decidi não dar entrevistas a jornais, rádios e televisões (dei entrevistas quando tomei posse no Conselho Nacional de Educação porque julgo que, numa República, alguém indicado para um posto público precisa prestar contas do que faz, mesmo que os meios disponíveis para isso não sejam os que escolheríamos). A seguir, veio a doença de minha mãe e, depois, a crise política como espetáculo.
No entanto, paradoxalmente, não fiquei fora da mídia: houve, por parte de jornais, revistas, rádios e televisões, solicitações diárias de entrevistas e de artigos; a matéria jornalística "O silêncio dos Intelectuais", não tendo obtido entrevista minha, citava trechos de meus antigos artigos de jornal; matérias jornalísticas sobre o PT e sobre os intelectuais petistas traziam, via de regra, uma foto minha, mesmo que nada houvesse sobre mim na notícia.
Finalmente, quando se iniciou o ciclo sobre o silêncio dos intelectuais, um jornal estampou minha foto, colocou em maiúsculas NÃO FALO (resposta que dei a um jornalista que queria uma entrevista quando da reunião dos intelectuais petistas com Tarso Genro, em São Paulo) e o colunista concluía a matéria dizendo que o silêncio dos intelectuais petistas era, na verdade, o silêncio de Marilena Chaui, o qual seria rompido com a conferência ["Ciclo expõe mal-estar e silêncio da academia", reportagem da Folha em 21/08/2005].
Resultado: jornais e revistas, com fotos minhas, não deram uma linha sequer sobre a conferência, mas pinçaram trechos dos debates, sem mencionar as perguntas nem dar por inteiro as respostas e seu contexto, transformando em discurso meu um discurso que não proferi tal como apresentado.
E entrevistaram tucanos (até as vestais da República, Álvaro Dias e Artur Virgílio!!!), pedindo opinião sobre o que decidiram dizer que eu disse! E os entrevistados opinaram!!! Num jornal do Rio de Janeiro e num de São Paulo, FHC disse uma pérola, declarando que por não entender de Espinosa, não fala nem escreve sobre ele e que eu, como não entendo de política, não deveria falar sobre o assunto. Como vocês podem notar, o princípio democrático, segundo o qual todos os cidadãos são politicamente competentes, foi jogado no lixo.
Qual é o sentido disso? Deixo de lado o fato de ser mulher, intelectual e petista (embora isso conte muitíssimo), para considerar apenas o núcleo da relação estabelecida comigo. A mídia está enviando a seguinte mensagem: "Somos onipotentes e fazemos seu silêncio falar. Portanto, fale de uma vez!" É uma ordem, uma imposição do mais forte ao mais fraco. Não é uma relação de poder e sim de força.
Vocês sabem que a diferença entre a ordem humana, a ordem física e a ordem biológica (para usar expressões de Merleau-Ponty [filósofo francês, 1908-1961]) decorre do fato de que as duas últimas são ordens de presença enquanto a primeira opera com a ausência. As leis físicas se referem às relações atuais entre coisas; as normas biológicas se referem ao comportamento adaptativo com que o organismo se relaciona com o que lhe é presente; mas a ordem humana é a do simbólico, ou seja, da capacidade para relacionar-se com o ausente.
É o mundo do trabalho, da história e da linguagem. Somos humanos porque o trabalho nega a imediateza da coisa natural, porque a consciência da temporalidade nos abre para o que não é mais (o passado) e para o que ainda não é (o futuro), e porque a linguagem, potência para presentificar o ausente, ergue-se contra nossa violência animal e o uso da força, inaugurando a relação com o outro como intersubjetividade.
Num belíssimo ensaio sobre "A Experiência Limite", Blanchot [Maurice Blanchot, escritor e crítico francês, 1907-2003] marca o lugar preciso em que emerge a violência na tortura de um ser humano. A violência não está apenas nos suplícios físicos e psíquicos a que é submetido o torturado; muito mais profundamente ela se encontra no fato horrendo de que o torturador quer forçar o torturado a lhe dar o dom mais precioso de sua condição humana: uma palavra verdadeira.
NÃO FALO.
Vocês já leram La Boétie [Étienne de la Boétie, filósofo francês, 1530-1563, amigo do filósofo Michel de Montaigne]. Sabem que a servidão voluntária é o desejo de servir os superiores para ser servido pelos inferiores. É uma teia de relações de força, que percorrem verticalmente a sociedade sob a forma do mando e da obediência. Mas vocês se lembram também do que diz La Boétie da luta contra a servidão voluntária: não é preciso tirar coisa alguma do dominador; basta não lhe dar o que ele pede. NÃO FALO.
A liberdade não é uma escolha entre vários possíveis, mas a fortaleza do ânimo para não ser determinado por forças externas e a potência interior para determinar-se a si mesmo. A liberdade, recusa da heteronomia, é autonomia. Falarei quando minha liberdade determinar que é chegada a hora a vez de falar."

Marilena Chaui

19 de set. de 2005

Tem limite?

LAYMERT GARCIA DOS SANTOS E FRANCISCO DE OLIVEIRA

Os parad oxos não param de proliferar: no poder, o Partido dos Trabalhadores paga mensalão para deputados da direita votarem leis neoliberais. O presidente reconhece que sua legenda tem caixa dois, mas não admite que alguém possa discutir ética com ele.
O PSDB pede apuração rigorosa das denúncias, mas não aceita que o esquema de Marcos Valério nasceu na era FHC. O governo segue à risca a ortodoxia capitalista, mas quer apoio dos operários, dos movimentos sociais e do povo em geral.
A elite brasileira prefere um operário a um empresário na Presidência. Lula acusa "as elites" de quererem desestabilizar o seu governo, enquanto o correspondente do "New York Times" escreve: "Se há uma conspiração no país, ela é comandada pela oposição e grandes empresários de São Paulo [e visa] manter Lula no poder, e não tirá-lo".
O maior paradoxo, porém, é o consenso de que a crise nada tem a ver com a economia, o que exige de todos um esforço "cívico" para circunscrevê-la à esfera jurídico-política e moral; de quebra, e como decorrência, impõe-se a idéia de que se trata de um desvio que precisaria ser sanado com uma "reforma política", e até mesmo com a desconstituição da Constituição! Quando na verdade a questão é o oposto: se a política hoje se reduz a uma cena grotesca -que tem como trama central a desqualificação da representação política, a desmoralização da esquerda no Brasil e, com ela, a liquidação da resistência ao neoliberalismo- é porque foi submetida aos ditames do mercado.
Não há "refundação" do PT, cassação "exemplar" de deputados ou "transparência" nos gastos de campanha que possam dar conta do recado. Em lugar do aparelhamento do Estado pelo PT, é o contrário que ocorre: o partido foi aparelhado pelo Estado, não passa de um braço deste para a realização de funções estatais. Entre as quais a primeira de todas: o controle da sociedade.

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O PT é um braço do Estado para realizar funções estatais. Entre as quais a primeira de todas: o controle da sociedade
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Não deixa de ser irônico constatar que Lula chegou "lá" pelas mãos do mesmo marqueteiro que agora contribui para destituí-lo. Sabe-se que o presidente petista optou por aprofundar a implantação da lógica neoliberal de seus antecessores; mas não se vê menção ao fato de o partido ter começado a abraçá-la ao substituir a política pelo marketing. Pois foi na estratégia de suas campanhas que o líder e o PT renderam-se ao neoliberalismo. Sempre se precisou de dinheiro para vencer eleição; em tempos neoliberais, porém, o processo exige muito dinheiro.
O problema é incontornável, torna a corrupção endêmica e se agrava porque a relação marketing-corrupção não se restringe ao campo eleitoral se pensarmos, com Deleuze, que, no capitalismo atual, a corrupção ganha uma nova potência quando o marketing se torna "o instrumento de controle social e forma a raça impudente de nossos senhores". Nesse sentido, o "timing" dos eleitores e militantes do PT está atrasado: o "escândalo" maior não reside na revelação das "mutretas" -escandalosa não é a desconstrução do PT, é a construção da vitória de Lula e de seu governo em bases neoliberais.
Parafraseando o filósofo, só existe uma verdade universal no capitalismo contemporâneo: o mercado. Por isso mesmo, o neoliberalismo considera que o Estado não deve governar para a sociedade. Nunca é demais repetir: trata-se de governar para o mercado, e não por causa dele, o que implica regular a sociedade para que ela se curve aos interesses econômicos.
É o que o presidente e o seu "staff" vinham escrupulosamente fazendo, até mesmo quando votos foram comprados para obter a aprovação da reforma da Previdência e da Lei de Biossegurança. Entretanto governar para o mercado tem um ônus que não parece ter sido bem compreendido: na medida em que a política consiste em não ter política, fica impossível servir ao mercado e, ao mesmo tempo, pretender monopolizar no plano político a intermediação de seus interesses.
Nesse sentido, o conflito Palocci/Dirceu, que alimentou a surda luta palaciana pelo poder até a eclosão do escândalo, pode ser visto como a expressão dessa incompatibilidade e sugere, aliás, o caráter anacrônico da iniciativa de aparelhar o Estado, cujo risco seria a emergência de uma instância com alguma autonomia em relação ao mercado.
A crise é um episódio de uma espécie de "golpe de Estado permanente" perpetrado pelo mercado contra as instituições republicanas e democráticas. Há já algum tempo o capitalismo vem se mostrando incompatível com a democracia. Na periferia, tal incompatibilidade reveste-se de tons dramáticos, pois a aceleração permanente da economia não se compatibiliza com instituições políticas, cuja tarefa é, precisamente, regular a economia.
Portanto, quando todos concordam em evitar a contaminação da economia pela política, estão apenas preparando a próxima crise. Os políticos e os governos parecem mariposas: voam em direção àquilo que os queima e os torna descartáveis. Vejamos em que estado está a crise: a blindagem do presidente parece urgente, quando ela não é mais necessária, pois o impeachment político já foi decretado. Faltam-lhe as formalidades jurídicas que, aliás, busca-se evitar pelas repercussões econômicas. Quem governa? A resposta está lá atrás: o mercado.



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Laymert Garcia dos Santos, sociólogo, é professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Francisco de Oliveira, economista e sociólogo, professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é coordenador científico do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP.

Frases sobre política

Todos reclamam reformas, mas ninguém quer se reformar.
Marques de Maricá, brasileiro

Quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro desperta.
Carl Jans, suíço

É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra.
Millôr Fernandes, brasileiro

Eu sou otimista, mas um otimista que carrega um guarda-chuva.
Harold Wilson, inglês

É bem barato construir castelos no ar e bem cara o sua destruição.
François Mauriac, francês

É fácil falar em nome do povo: ele não tem voz.
Carlos Drummond de Andrade, brasileiro

A política é arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações.
Júlio Camargo, brasileiro

Em política, se trai o país ou o eleitorado. Prefiro trair o eleitorado!
Charles de Gaulle, francês

A máquina política triunfa porque é uma minoria unida atuando contra uma maioria dividida.
Will Durant, americano

Quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem.
Adolf Hitler, alemão

Demagogia é a capacidade de vestir as idéias menores com as palavras maiores.
Abraham Lincoln, americano

O melhor partido não é nada senão um tipo de conspiração contra o restante da nação.
Marques de Halifax, inglês



De quatro anônimos sobre corrupção:
Todo homem tem seu preço. E tem um monte que está em promoção!
-Político profissional jamais tem medo de escuro. Tem medo da claridade.
-Mentir às pessoas para obter dinheiro é fraude. Mentir para obter votos é política.
-A livre iniciativa é privada. A calamidade é pública.



O mais escandaloso dos escândalos é que nos habituamos a eles.
Simone de Beauvoir, francesa

Em vez de dar a um político as chaves da cidade, seria melhor trocar as fechaduras.
Doug Larson, americano

Dinheiro público é como água benta: todos põem a mão.
Provérbio Italiano

Na política é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo.
Henri Beraud, francês

Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração.
James Clarke, inglês

Os vivos são e serão sempre cada vez governados pelos mais vivos.
Barão de Itararé (pseudônimo do humorista Apparicio Torelly)

Um estadista é um político que se coloca a serviço da nação. Um político é um estadista que coloca a nação a seu serviço.
George Pompidou, francês.

Democracia é quando as pessoas são livres para escolher alguém que as frustarão.
Laurence Peter, canadense

A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos.
G.B. Shaw, irlandês

Todos os males da democracia se podem curar com mais democracia.
Alfredo Emanuel Smith, americano

É verdade que existem vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados.
Hubert Humprey, norte-americano

Todos querem comer à mesa do governo, mas ninguém quer lavar os pratos.
Werner Finck, alemão

A solução do governo para um problema é usualmente tão ruim quando o problema.
M. Friedman, americano

Que governo é o melhor? Aquele que nos ensina a governar a nós mesmos!
J. Goethe, alemão

Metade dos meus homens de governo não é capaz de nada, e a outra metade é capaz de tudo.
Getúlio Vargas, brasileiro

O governo é uma máquina cara demais pelos serviços que presta.
Roberto Campos, brasileiro

O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter que prestar concurso.
Ronald Reagan, americano

É uma idéia socialista que lucrar é um vício. Eu considero que o vício verdadeiro é fazer prejuízo.
Winston Churchill, britânico

É difícil acreditar que um homem esteja dizendo a verdade quando nós mentiríamos se estivéssemos em seu lugar.
H.L. Mencken, americano

A repetição não transforma em verdade uma mentira!
Franklin Roosevelt, americano



E duas de Juscelino Kubitscheck, tão citado ultimamente pelo nosso Presidente :
1)O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.
2) Volto atrás, sim. Com o erro não há compromisso.



Finalmente:
No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim...
Fernando Sabino, brasileiro

9 de set. de 2005

O mais brasileiro dos italianos

Sergio Endrigo, l'altra faccia dello chansonnier
Il cantautore si è spento a Roma Colto, raffinato, comunista inquieto, protagonista di stagioni fondamentali della musica italiana, l'artista di «Teresa», «Canzone per te» e «Tango rosso» è sempre stato un outsider, fuori da mode e oltre le ideologie
ALDO F. COLONNA
ROMA
Sergio Endrigo si è spento ieri. Entrato in clinica per la riabilitazione motoria di una gamba, gli esami di routine avevano evidenziato una malattia allo stadio terminale che lo ha divorato in pochi mesi. Aveva compiuto 72 anni lo scorso giugno. Adesso che Endrigo se n'è andato, rimane impressa nella memoria quella figura estraniata, coricata, persa dietro chissà quali pensieri quando lo andammo a trovare in clinica per l'ultima intervista. Chissà che non pensasse a una goletta in rotta verso i mari del Sud o, meglio, verso quell'Eldorado che rappresentava per lui il Brasile. Quando lo chiamai e riemerse dalle sue astrazioni ebbi l'impressione che avesse già staccato la spina, in una forma cosciente di ideale eutanasia. Sembrò, a ripensarci bene, una delle scene iniziali de La notte di Antonioni allorché Giovanni (Mastroianni) fa visita in ospedale a un amico morente (Bernhard Wicki) e insieme blaterano sul lavoro intellettuale svolto per la rivista Paragone. Coincidenza strana, parlammo in quell'occasione anche dell'utilità delle riviste letterarie! Da una parte un uomo che intuisce il baratro che gli si è aperto davanti e si sforza di minimizzare, dall'altra un uomo alle prese con un senso di fallimento esistenziale e estraniato nonostante fosse partita da lui l'idea dell'intervista. Si schermiva, come tenesse di più alla visita dell'amico e sembrava dicesse «non parliamo di me» mentre io ero lì proprio per parlare di lui.

Ricordo una cosa, in quel frangente, che gli premeva su tutte: che parlassi della questione del plagio, che Bacalov lo aveva fregato e lui non ci stava. Il nome di Endrigo rimarrà scolpito a chiare lettere nella storia della nostra cultura recente. Buon sangue non mente, fu quasi figlio d'arte: il padre era un tenore autodidatta, davvero bravo se si esibì negli anni `20 al Dal Verme di Milano ne La bohème e in Madame Butterfly. A dieci anni, nell'osteria sotto casa dove andava a comprare il vino, l'oste lo prendeva di peso, lo metteva sul tavolo e il piccolo Sergio deliziava gli avventori cantando La donna è mobile (e cominciando a guadagnare le prime lire). Ha attraversato stagioni importanti, quella dei cantautori genovesi e milanesi, quella della Ricordi e dell'Rca, quella del Piccolo Teatro di Milano dove s'inventò la figura dello chansonnier che non proponeva semplicemente le sue canzoni ma intratteneva il pubblico, interagiva con esso, alla maniera di Yves Montand tanto per intenderci e precedendo senza saperlo la stagione più prettamente politica di Gaber.

Intrecciò rapporti con l'intellighenzia frequentando Buttitta, Ungaretti, Pasolini, Rafael Alberti e lavorando su loro proposta, frequentò Gianni Rodari al quale lo legò una fruttuosa amicizia stabilendo per suo tramite un contatto con il mondo dell'infanzia. Il legame con Bardotti, poi, fu la finestra sull'esotismo che portò al sodalizio con i brasiliani: Vinicius De Moraes, Chico Buarque De Hollanda, Toquinho. Nel 2001 vinse il Premio Tenco. Autore di almeno 250 canzoni (solo per citarne qualcuna in ordine sparso: Mani bucate, La brava gente, Io che amo solo te, Via Broletto 34, Teresa, Canzone per te, Lontano dagli occhi, Viva Maddalena), Endrigo fu in realtà artista eclettico. Nel `72 fu protagonista del film di Carlo Tuzii Tutte le domeniche mattina presentato a Venezia ma mai distribuito nelle sale; scrisse un romanzo aspro, di buon taglio, Quanto mi dai se mi sparo? sulle flatulenze dell'industria discografica e i suoi compromessi, negletto dal primo editore, oggi riproposto con buon successo da Stampa Alternativa; è noto il suo impegno ecologista col progetto Ci vuole un fiore che impegnò le scolaresche romane qualche anno fa.

Uomo di sinistra immune dalla febbre che genera sempre più spesso voltagabbana, mai ideologizzato, e animato sempre dalla maledetta voglia di capire, scrisse nel '90 Tango Rosso, lettura critica della crisi che attanagliava il Pci. Partecipò a manifestazioni nazional-popolari come Canzonissima e il Festival di Sanremo senza mai farsene condizionare e con onestà ammise di aver vinto l'edizione del '68 sull'abbrivio della tragedia che aveva travolto Tenco l'anno prima. Interprete personalissimo, calato nel suo tempo e a questo mai estraneo, sempre teso ad ancorare i suoi testi al sentimento collettivo e alle problematiche sociali, assolutamente estraneo alle mode, Endrigo si è confrontato in modo inesausto con culture dissimili e alternative e con le più disparate forme artistiche, intessendo il suo disagio con la poesia e la letteratura.

Era stata Cuba a farci sentire vicini tanti anni fa, in occasione della prima intervista che mi rilasciò nella sua casa di Mentana e che finì in un pranzo luculliano affogato da una decina di mojitos che preparava con preciso rispetto della tradizione. Amava le donne Endrigo e il loro mondo ma la moglie, che in quell'occasione viveva felice la serenità del marito, fu la donna che amò sopra tutte. Non era credente e mi spiegò una volta il suo ateismo riallacciandosi all'aforisma di Ambrose Bierce: «Credere senza prove a ciò che ci viene detto da uno che parla senza cognizione di causa di cose senza paragone».

Era un lettore indefesso, colto. Da adolescente «rubò» nella biblioteca dello zio Manzoni e Salgari; tra le sue letture si annoverano Maupassant, Ibsen, Pasolini ma Steinbeck rimane il suo preferito. Anche se non l'aveva approfondito, conosceva bene Pavese. E a questo proposito viene in mente anche un altro ricordo: il suo pappagallo carioca con tanto di certificato anagrafico (40 anni!) affisso al muro che ci rifà il verso mentre parliamo di poker, di pasta e fagioli e di Cesare Pavese, appunto.

Malgrado avesse doppiato la boa dei settanta, malgrado questo, è difficile accettare che se ne sia andato quando aveva ancora la testa piena di progetti e gli occhi pieni di oceano.

Diceva di volersi trasferire in Brasile e finire lì i suoi giorni. E adesso, siccome poi alla fine di tante parole uno deve pure fare i conti con il proprio stupore, conviverci in qualche maniera, io mi sono inventato che Sergio ci abbia giocato un tiro mancino. Mi pare già di vederlo: ha indossato una maglietta a striscie orizzontali bianche e blu, s'è messo la bandana, il sigaro ai bordi della bocca e, carezzato dalla brezza marina, è in attesa di salpare appoggiato al boma. Perché sì, ne sono certo, si è imbarcato sulle navi di Cortez per andare a vedere se nell'altipiano di Tecnochtitlàn si fanno davvero sacrifici umani.

2 de set. de 2005

Taubaté enterra sua "Velhinha"

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Uma cerimônia simbólica realizada na tarde de anteontem em Taubaté (130 km de São Paulo), no Vale do Paraíba, marcou o enterro da Velhinha de Taubaté, personagem criada pelo escritor Luis Fernando Verissimo que entrou para o folclore político nacional por representar a crença na palavra de todos os políticos e governos brasileiros.
Verissimo decretou a morte da personagem em sua coluna no jornal "O Globo", na semana passada. De acordo com o escritor, a Velhinha de Taubaté morreu sentada em frente à televisão, de causa desconhecida -uma referência à profusão de denúncias contra o governo federal e o PT noticiadas na TV.
O enterro simbólico da personagem foi organizado pelo vereador Rodson Lima (PSC), de Taubaté, e levou ao cemitério do Belém, na cidade, cerca de 30 pessoas, a maioria representantes do PSTU de São José dos Campos. Um caixão com uma bandeira do Brasil em cima foi carregado ao longo de um pequeno cortejo.
A cerimônia serviu de plataforma para os protestos dos militantes do PSTU, que levaram para o local bonecos com o rosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do PT José Genoino em roupas de presidiários, além de malas e cuecas com dinheiro -em referência à denúncia de que o suposto "mensalão" seria carregado em malas; e ao petista preso com US$ 100 mil na cueca.
Ao final da cerimônia, uma moção de pesar pela morte da personagem, de autoria de Lima e aprovada esta semana pela Câmara Municipal de Taubaté, foi lida pelo vereador.

1 de set. de 2005

Velhinha tinha conta no exterior

Luiz Fernando Veríssimo, 01/09/2005



"Prosseguem as investigações sobre a morte da Velhinha de Taubaté, que ficou conhecida nacionalmente por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O inquérito está sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dada a repercussão do caso.
Um promotor sai de cinco em cinco minutos da sala em que está sendo interrogado o gato da Velhinha, o Zé, para informar à imprensa o que se passa lá dentro, embora o gato tenha, até agora, dito muito pouco. “Miau”, basicamente.
Houve um princípio de tumulto entre repórteres quando uma equipe da televisão, gravando clandestinamente no interior da casa da Velhinha, localizou um pedaço de papel com números e o que parecia ser a palavra “off-shore” em letra tremida, o que indicaria que a Velhinha tinha uma conta no exterior, onde receberia para acreditar no governo.
Depois se revelou que eram números para jogar na Sena, que a Velhinha sempre acreditava que ia ganhar, e que a palavra escrita era “oxalá”. Mas alguém ficou com o papel e é possível que a notícia “Velhinha tinha conta no exterior” apareça em alguma manchete nos próximos dias para atrair a atenção, mesmo que o texto diga outra coisa. Sabe como é a imprensa.
Todas as CPIs em andamento no Congresso Nacional disputam a prioridade em convocar o Zé para depor em Brasília, o que tem acirrado o conflito entre elas, que muitos temem possa acabar numa guerra aberta com congressista brigando com congressista pelos corredores e todos se juntando para pegar o ACM Neto.
Só o gato poderia contar o que realmente aconteceu, na improvável hipótese de, ao contrário do que fizeram tantos outros nas CPIs, começar a falar. Mas pode-se deduzir o que levou a Velhinha a morrer — ou se matar com veneno no chá. Ela nunca se recuperou totalmente do choque da notícia da compra de votos para reeleger o Fernando Henrique, seu ídolo na ocasião, apesar de depois acreditar em todos os desmentidos.
Debilitada, sofreu outro baque com as denúncias contra o Palocci, seu ídolo atual, e outro baque quando soube que nem no Ministério Público se podia confiar. Foi demais para a Velhinha.
O curioso é que as alegres multidões que iam até a sua casa na esperança de ver o fenômeno, um brasileiro que ainda acreditava, estão sendo substituídas por tristes romeiros que visitam o santuário improvisado na frente da sua casa, em Taubaté, na esperança de recuperar a fé.

A Velhinha pode muito bem se transformar em milagreira depois de morta. As pessoas querem acreditar, pelo menos, em quem acreditou um dia."