30 de set. de 2005

A vitória de Rebelo e o desespero da direita


Tribuna da Imprensa, 30/09/2005
Perdão, leitores, mas estou comemorando a vitória do deputado Aldo Rebelo. Eu o conheci numa viagem ao Oriente Médio, quando ele presidia a UNE - é bem humorado e bom papo. Mas não festejo por isso e sim porque a interpretação dos jornalões de que foi vitória dos corruptos é despeito. O resultado expõe a derrota da arrogante dupla PSDB-PFL, que irresponsavelmente elegeu Severino no início do esforço rumo ao golpe branco.

A derrota é deliciosa por ser também da mídia arrogante. Até a véspera os jornalões apostavam tudo no pefelista José Thomaz Nonô, vice de Severino na eleição anterior. "O Globo" queixou-se, indignado, na manchete: "Negociação com partidos do mensalão elege Aldo". O "Estado de S. Paulo" não conteve a irritação: "Governo abre o cofre e elege Aldo por 15 votos".

O "Jornal do Brasil", com seu jornalismo semifalido mas ainda engraçado: "Governo vence e fica refém das barganhas no varejo". E a "Folha de S. Paulo", primeiro jornal a canonizar Roberto Jefferson como santo padroeiro da luta contra a corrupção: "Rolo compressor de Lula dá vitória a Aldo". Herr Bornhausen e Eduardo Azeredo assinariam tudo isso embaixo, em nome de seus partidões, PFL e PSDB.

Aquelas vestais fraudulentas
Teria "O Globo" preferido ver Aldo (ou o governo) negociar com os partidões que compraram votos a US$ 300 mil por cabeça para dar a reeleição a FHC? Eu me dispenso de voltar à corrupção do partido de Herr Bornhausen, serviçal da ditadura militar, adepto de Collor, ou às privatizações do PSDB-PFL, que entregaram nossas empresas estatais a gangues e telegangues estrangeiras, com financiamento do BNDES.

Mas não dá para esquecer Eduardo Azeredo, atual presidente do PSDB e inventor do que agora é chamado "mensalão". Que diabo, como governador de Minas ele usou o mesmo Marcos Valério e o mesmo Banco Rural no caixa 2 de sua campanha pela reeleição. Itamar Franco, punido (por FHC) por tê-lo derrotado, recebeu Minas às portas da falência, foi sabotado e saneou as finanças do estado arrasado por Azeredo.

O PSDB e seu cúmplice PFL, com os filhotes de Maias e os netinhos de ACMs, apresentam-se como vestais em luta contra a corrupção - e assim aparecem na tela da TV e nas primeiras páginas. De fato, entendem muito de valerioduto, que não era melhor quando administrado pelo PSDB de Azeredo. Continua tão condenável hoje como foi no passado, no tempo de outros corruptos, talvez mais espertos.

Mais acusações irresponsáveis
Só que o erro maior deste governo atual, como do anterior, é a política econômica que a tudo atravessa, incólume, para favorecer a agiotagem internacional. E enquanto o moralismo digno dos velhos Clubes da Lanterna comanda a vida nacional, os banqueiros continuam a roubar o País e a reinar, com o aplauso da mídia - corrupta, para variar -, que desvia a atenção para a lama mas evita citar os corruptos amigos.

Como qualquer brasileiro, não quero ver corrupto triunfar. Tampouco acho que o País tenha de se curvar a vestais fraudulentas. Desde a ditadura essa gente corrompe o sistema. Agora invoca a desculpa de que seu passado corrupto "é História" e não tem de ser investigado, como alegou FHC. Deslumbrados como Fernando Gabeira entram na dança, sedentos de primeiras páginas de jornalões e "sound bites" da TV.

Gabeira atacou o curso "Silêncio dos Intelectuais" - iniciativa séria, que sabia ter sido planejada um ano antes da atual crise, envolvendo até críticos do governo Lula, como Chico de Oliveira. E se alguém o acusasse de ter trocado por US$ 300 mil seu voto na emenda de FHC? Cortejado pela direita, não resiste à tentação de aderir a ela. E, de quebra, retoma o antigo caso de amor com o oportunismo e o exibicionismo.

Hitler e Stálin, PSDB e PFL
Gabeira foi visto em toda parte exibindo-se de braço dado com os novos Hitler e Stálin - tão bem representados pelos herdeiros da UDR e do PCB, como do PSDB e do PFL. Se o pretexto era Severino, por que se associar exatamente àqueles que antes o fizeram presidente da Câmara, com a mesma obsessão de livrar-se de Lula - "dessa raça", como disse Herr Bornhausen? Mas aderiu à idéia fixa do golpe branco, de Azeredos e FHCs.

O próprio Severino relatou uma vez sua "conversa amigável" com FHC ("Telefonei a ele, depois ele me ligou de volta"). Manifestou então a certeza de que o ex-presidente mandara deputados do PSDB votarem nele. Como Severino tinha apoiado a ditadura militar no passado, quando defendia empresários que violam a CLT, sempre esteve afinado com a gente que fundou o PFL para continuar no poder ao fim da ditadura.

Severino teve 300 votos. Depois da votação, personalidades do PSDB e do PFL festejaram o resultado. FHC e o governador Geraldo Alckmin, candidato potencial ao Planalto, estiveram entre os que, junto com os jornalões, comemoraram o resultado como derrota de Lula e do partido do governo. Já na ânsia do golpe branco, alegavam então que o governo era autoritário e buscava desestabilizar os partidos da oposição.

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