30 de dez. de 2005

Bush dá razão a Fidel, infelizmente!


Depois de um ano guardado em segredo pela "imprensa livre e independente" do país "mais democrático e liberal" do mundo, veio enfim a público a informação de que o Governo dos EUA, diga-se Bush, em conluio com as empresas de telecomunicações, espionou e prendeu cidadãos sem o devido processo legal. O grande chefe branco diz que os fins justificam os meios, já que o combate ao "terrorismo dos outros" legitima qualquer ato seu. Até aqui, tudo muito parecido com as justificativas de Fidel Castro para se perpetuar ao poder, com pelo menos três diferenças: 1ª) o Furacão Katrina mostrou que nos EUA há cidadãos e cidadãos; 2ª) Guantánamo fica em Cuba, mas a tortura que lá se comete é americana; 3ª) o terrorista Luis Posada Carriles, que derrubou um avião cubano lotado de passageiros de outras nacionalidades, recebeu abrigo e proteção do governo Bush.
O conluio das empresas telefônicas com o terrorista Bush indica que a EMBRATEL, que o professor Cardoso doou aos americanos sem mesmo a necessidade de trocar de nome, pode estar fazendo o mesmo aqui. Aliás, se lá onde as instituições públicas ainda tem um relativo grau de funcionamento, imagina o que não estão fazendo por aqui.
A desfaçatez americana nunca teve limites, basta ver o histórico de participação da CIA nos golpes militares nas várias partes do mundo e na América Latina em particular. Dois exemplos recentes: o apoio aos golpistas venezuelanos de Pedro Carmona, para derrubar o governo eleito democraticamente de Hugo Cháves, e as ameaças contra o recém-eleito Ivo Morales, da Bolívia.
Então, de que democracia americana estamos falando?

22 de dez. de 2005

De tanto bater, meu coração parou

Um belo filme francês (De battre mon coeur s'est arrêté), mas não é este o tema. Diz o ditado que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, mas meu coração é mole, muito mole. E bate desavergonhadamente. Pra que tanto sacrifício se minha cara impede de vê-lo. Fantasia, mais vale batidas a mais que emoção de menos. Vida curta, alegria eterna. Ou, é melhor um dia de leão que a eternidade de cordeiro. As diamantes são para sempre, e daí. Eles não têm emoção, não amam, não choram, não desviam o olhar.
A emoção ainda é a melhor lembrança. Parada obrigatória, só a do coração. O resto é seguir em frente, com serenidade. E, como Quintana, não perder as estribeiras:

"Se as coisas são
inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!"

 



Bom final de ano e que venha 2006!

20 de dez. de 2005

Sugestão de Pauta

O Céu é o limite!
Estou esperando para qualquer momento uma nota conjunta do PFL & PSDB, nos seguintes termos: Hugo Chaves financiou campanha de Evo Morales". Afinal, o novo Presidente da Bolívia é um Hugo Chavez, um Lula pré-assassinato da esperança.
Mais tardar a edição de fim de semana da revista dos boçais, a VEJA, deve trazer reportagem apontado aviões, pessoas e contas. Ela, com CIA nas coxas, sabe de tudo, inclusive o que não é mais gostaria que fosse.
Arthur Virgílio e Jorge Bornhausen andaram nervosos, ao celular. Ouvi um nome, parecia Pedro Carmona. E coisa e tal sobre essa raça. Sei lá, será que eu também ando vendo coisas... Para os sonhadores o céu é o limite. Para golpistas, também.
Mistura fina: VEJA, BORNHAUSEN, RAÇA.

19 de dez. de 2005

"Essa eleição não é para aventureiros."

O atual governador do Rio Grande do Sul, até que enfim, tomou uma decisão sábia, se excluiu do processo eleitoral para a Presidência. A declaração em entrevista para a Folha de São Paulo, em 19/12/2005, de que "essa eleição não é para aventureiros" comporta, além da própria exclusão, de que as outras eleições eram para aventureiros. Bem. Nesta o aventureiro foi e é Lula, o que, convenhamos, acertou na mosca, ou no moscão. Antes o aventureiro foi o professor Cardoso, de quem "seu" Rigotto foi legítimo líder no Congresso.
Como se pode ver, ele entende do riscado. E aventureiro por aventureiro, por que não um que trouxe o descalabro para o Rio Grande. De aumento, só a violência.
O que Rigotto não disse mas quem tem dois neurônios sabe, é que está se lançando para a Presidência para melhor se cacifar para a reeleição no Estado. Nesse tranco, pode acabar onde começou, em Caxia do Sul. Oxalá!

18 de dez. de 2005

Musse de xuxu

"Arranje um trabalho para o meu filho, para a minha irmã, para a minha mãe". Esse é o nosso desafio. Geraldo Alckmin, na Folha de São Paulo, 18/12/2005.

Vem aí o pai do emprego... para a família. Não vai sobrar Alckmin desempregado. Lula criou os cargos, Alckmin distribuirá... entre os seus...
E assim se constrói a história do patrimonialismo brasileiro. Nada demais. Já existe no judiciário, em boa parte dos órgãos públicos. Se faltava apenas como política de governo, agora já está na baco de um dos principais representantes da apropriação do Estado pelo poder privado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. E não poderia vir de outro partido. O professor Cardoso foi pródigo com familiares. (Filha bastardo não conta. Para estes, desde os tempos do império, só o degredo). Uma filha foi secretária particular, a outra ganhou empresas privatizadas. Aliás, há algum ex-Ministro de FHC que não tenha conseguido emprego nas empresas doadas às privadas?!

13 de dez. de 2005

GESTAPO AMERICANA

13/12/2005
A guerra secreta dos EUA: no rastro da CIA
Desde o 11 de Setembro a CIA exerceu um papel vital na guerra contra o terror. Mas que papel é esse? Operando nas sombras, o serviço secreto americano recebeu amplos poderes do governo Bush, que incluem assassinato, seqüestro e tortura - parte 1

Manfred Ertel, Erich Follath, Hans Hoyng,
Marion Kraske, Georg Mascolo e Jan Puhl



Leia também:


Parte 2 - Cheney fica no lado negro


Parte 3 - Torturados até a morte pela CIA


Parte 4 - Vôos obscuros pela Europa


Parte 5 - Sem mortes nem processos


NYT - Bush mantém oposição a lei antitortura

Sábado, 15 de setembro de 2001, quatro dias depois dos ataques terroristas a Nova York e Washington. O presidente George W. Bush se retira com os assessores mais próximos para Camp David, para escapar do caos da semana e desenvolver os primeiros planos para enfrentar o novo e inédito desafio dos EUA.

À tarde, o então chefe da CIA, George Tenet, distribui uma pasta a todos os participantes da cúpula de crise. Chama-se "Indo à guerra". Dentro estão os primeiros esboços da próxima guerra ao terrorismo. No canto superior esquerdo da pasta há um círculo vermelho dentro do qual está um retrato de Osama bin Laden cortado por uma linha preta.

Tenet quer partir para a ofensiva. E sua lista de prioridades é ambiciosa. Objetivo número 1: destruir a Al Qaeda e fechar as zonas de segurança do grupo terrorista, onde quer que estejam.

Segundo Bob Woodward, em seu livro "Bush at War", essa é uma lista com poderes muito amplos garantidos às autoridades que combatem o terror mundial. Tenet não recua. Ele pede que seus agentes recebam autorização para eliminar a Al Qaeda sempre que a CIA localizar seus membros. Ele quer carta branca para operações clandestinas sem ter de passar pelo longo processo de autorização.

Além disso, os agentes da CIA deveriam voltar a ter autoridade para matar --um poder que foi retirado dos agentes da inteligência americana em 1976 pelo presidente Gerald Ford.

Também está na lista de Tenet um pedido de milhões de dólares para comprar agentes secretos estrangeiros. Especificamente, Tenet achava que agentes do Egito, Jordânia e Argélia poderiam ajudar a CIA a localizar e eliminar a Al Qaeda.

Três dias depois, Bush assina uma diretriz presidencial cujo texto exato só alguns americanos conhecem até hoje. Ponto a ponto, os pedidos feitos pela CIA foram concedidos, e com isso o documento tornou-se o primeiro tiro disparado na guerra mundial ao terrorismo. Bush ordenou que a CIA fosse a primeira no novo front. As agências secretas americanas estavam liberadas.

Quatro anos depois, os serviços de inteligência americanos --e especialmente a CIA (o "carro-chefe do negócio ... aonde você vai se quiser o padrão de ouro", segundo o novo diretor do órgão, Peter Goss)-- tornaram-se uma das armas mais polêmicas no combate ao terror.

O exército mais poderoso da história do mundo tornou-se uma força de ocupação no Iraque, e por sua mera presença atraiu toda uma nova geração de mujahedin; mas a comunidade de inteligência de Bush lutou sua parte da batalha sob o aparente lema: "O fim justifica todos os meios".

Os agentes secretos de Washington, cujo desdém pelas normas legais internacionais até os anos 70 lhes granjeou a reputação de americanos feios, estão de volta ao palco político internacional. Nem todo mundo está feliz em vê-los.

E Bush está usando todas as ferramentas de que dispõe. Avaliado por números e capacidade, o gigantesco aparato do serviço secreto americano parece tão onipotente quanto o dos militares: 15 agências com 200 mil empregados e um orçamento anual de cerca de US$ 40 bilhões. A soma representa mais que o gasto total da maioria dos países com os militares.

Os satélites dessas agências podem ler placas de automóveis do espaço --e a mais nova geração desses satélites espiões avançados é tão sofisticada quanto o Telescópio Espacial Hubble. Mas, em vez de bisbilhotar as profundezas do universo, eles olham para o que acontece aqui na terra.

Todos os dias, analistas desse exército secreto entregam suas descobertas a superiores e, na forma do Briefing Diário Presidencial, ao próprio presidente Bush. É uma espécie de jornal diário supersecreto --com circulação severamente limitada--, com 12 a 30 páginas. É a coisa mais importante que você tem de ler todo dia, disse Bush pai --que foi chefe da CIA por um ano-- a seu filho Bush Jr. quando assumiu o cargo.

Mas a guerra secreta não termina com as agências de espionagem americanas. Da mesma forma, nas sombras --às vezes operando dentro da lei internacional, às vezes fora dela-- estão as forças especiais militares americanas. O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, as envia em missões ao redor do mundo; elas talvez já estejam, como dizem alguns, operando no interior do Irã, que continua sua busca por armas nucleares.

Ashton Carter, que foi secretário-assistente de Defesa de Bill Clinton, diz que ficaria "surpreso e desapontado" se medidas secretas ainda não tiverem sido tomadas contra o programa de armamentos do Irã.

E, onde o pessoal americano não pode ir, a rede mundial da Agência de Segurança Nacional (NSA) pode bisbilhotar. A NSA habitualmente escuta a ONU em Nova York --o secretário geral da ONU, Kofi Annan, pelo menos por algum tempo, foi um dos alvos principais da agência, segundo James Bamford, um especialista em NSA.

Uma das mais novas armas do arsenal do serviço secreto chama-se "geolocalização". Quando satélites localizam um suspeito através de um sinal de telefone celular, por exemplo, forças especiais ou aviões de guerra podem atacar rapidamente. A tecnologia tornou-se tão precisa que celulares podem ser localizados num raio de um metro.

De fato, a capacidade de localizar um alvo precisamente foi instrumental para se matar o chefe militar da Al Qaeda Mohammed Atif, em sua casa perto de Cabul em novembro de 2001, ou se prender o assessor de bin Laden Abu Subeida no Paquistão. Mas o sistema também comete graves erros. Em 2002 no Afeganistão, por exemplo, bombardeiros mobilizados às pressas despejaram sua carga sobre uma festa de casamento em vez de uma reunião de terroristas.

O chefe da CIA, Goss, que foi agente da CIA durante dez anos antes de entrar na política, incentiva seus agentes a assumir riscos. "E quando der errado eu os apoiarei", ele disse. Goss mandou seus agentes com poderes mortíferos e sacolas cheias de dólares para operações em todo o mundo, nas quais eles também têm autoridade para chamar poder aéreo. Ou podem chamar um Predator --aviões teleguiados armados de foguetes Hellfire controlados a laser.

Gestapo americana

Nas décadas de 80 e 90, as operações secretas em países estrangeiros tornaram-se mais raras, e a análise ganhou ênfase. Mas essa era a velha CIA --uma organização de que a ex-oficial Melissa Boyle zombou dizendo que os tempos de James Bond acabaram. O presidente Bush advertiu diversas vezes os americanos de que o novo inimigo dos EUA é totalmente diferente de todos os anteriores.

Essa advertência representa o nascimento da nova CIA --uma agência que deve causar medo no coração de seus inimigos.

Então, a CIA está a caminho de restabelecer a notoriedade que teve por tanto tempo no Terceiro Mundo? Aquela de um poder secreto e assustador que seqüestrava políticos, comprava tropas mercenárias e derrubava governos à vontade, simplesmente porque Washington não os aprovava?

Pouco depois da fundação do órgão, em 26 de julho de 1947, pelo presidente Harry Truman, a CIA já tinha feito do mundo seu playground. Começou decidindo quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos e a punir os maus sob ordens da Casa Branca.

A "firma" tinha licença para matar e a usou durante a guerra fria contra um inimigo soviético que era pelo menos igualmente brutal. Nos anos 60, a CIA desenvolveu uma flecha altamente venenosa que não deveria deixar vestígios durante uma autópsia. Ela também experimentou treinar golfinhos para levar explosivos até um alvo.

Mas essas foram vitórias ocas. Misturados aos sucessos estiveram missões desastrosas no exterior e erros embaraçosos em casa. A combinação levou a CIA a tornar-se mais um peso que uma ajuda. O país ficou horrorizado ao saber que o presidente Richard Nixon usou ex-agentes para a invasão de Watergate; os americanos ficaram decepcionados pelo fato de o governo espionar dezenas de milhares de cidadãos que o criticavam; o termo "Gestapo americana" começou a circular. [Gestapo era a temida polícia da Alemanha de Hitler, que torturou e matou adversários do regime, que durou de 1933 a 1945, e participou do Holocausto, o extermínio de aproximadamente 6 milhões de judeus na Europa.]

O resultado foi uma contenção do Big Brother. Em 1974, entrou em vigor uma lei que exigia que todas as operações clandestinas no exterior fossem aprovadas pelo Congresso. Os serviços de inteligência começaram a se concentrar quase exclusivamente na coleta de dados tecnológicos --e assim ficaram amplamente fora da revolução iraniana.

Num combate do Afeganistão contra a União Soviética, a CIA deixou de avaliar que os mujahedin --generosamente abastecidos com armas e dinheiro americanos-- não apenas eram oponentes fanáticos dos serviços, mas também contrários aos "cruzados" americanos.

11 de dez. de 2005

"Stano tutto bene"

Marcelo Mastroiani estrelou um filme italiano centrado na figura de um pai que percorre a Itália visitando os filhos. Estes escondem do pai os verdadeiros problemas, seja familiares ou econômicos, para livrá-lo de aborecimentos. A mídia em geral, e os jornais em particular, tem sido como os filhos para com os pais da corrupção. O PT se revelou igual aos demais, só que a mídia, dá como corrupto apenas o PT, escondendo todas falcatruas perpetradas pelos demais, em particular protege os corruptos do PSDB e do PFL, que, por coincidência, são também detém concessão de rádios, jornais e tevês.

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO

Bebidas, roupas, jóias e brindes foram distribuídos para políticos e instituições com as quais as agências SMPB e DNA tinham contrato
PT e políticos ganharam presentes de Valério

RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA , FOLHA DE SÃO PAULO, 11/12/2005.

O publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza deu um presente de R$ 17,2 mil para o departamento financeiro do PT no primeiro Natal após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002, dois presentes de R$ 4.700 ao todo para o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), além de bebidas, roupas, jóias e brindes para políticos, empresários e funcionários públicos que ocupavam cargos-chave em órgãos com os quais mantinha contratos.
Os registros dos presentes dados pelas empresas de Valério entre 2001 e 2004 estão na contabilidade oficial da SMPB Comunicação e da DNA Propaganda. O CD com as informações, pesquisado pela Folha, foi entregue à CPI dos Correios e à Receita Federal pelo próprio Valério.
A pesquisa revela que as empresas desembolsaram pelo menos R$ 100 mil para presentear 23 políticos e executivos em Minas Gerais e Brasília, além de servidores de primeiro e segundo escalões geralmente vinculados às áreas de propaganda e marketing de órgãos públicos.
O presente para o "Financeiro PT", não especificado, foi comprado na joalheria mineira Manoel Bernardes Comércio e Indústria Ltda. Na época do presente, o publicitário já tinha sido apresentado ao tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares pelo deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), outro presenteado, segundo os documentos de Valério.
Ontem o publicitário, por meio de sua assessoria, disse não se lembrar do presente ao partido nem se o presenteado era o ex-tesoureiro Delúbio Soares, mas alegou que o PT era "um cliente" - uma de suas empresas havia atuado para a campanha do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) à presidência da Câmara - e seria "uma prática normal" a distribuição de presentes a clientes.
A contabilidade indica a compra de presente de aniversário de R$ 237,40 para o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz (PC do B-DF), em novembro de 2004 - a SMPB tem contrato de R$ 10 milhões com o ministério. Pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal, o servidor público não pode receber presentes de valor superior a R$ 100.
Um registro de fevereiro de 2002 aponta presente de R$ 509,40 para o então secretário secretário Nacional de Esportes, Lars Grael, hoje secretário da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo. Grael nega ter recebido o presente.
O aniversário do governador do DF, Joaquim Roriz, foi lembrado no agosto de dois anos: 2003 e 2004. Um dos presentes, de R$ 1.000, foi uma sela para montaria. Sobre a natureza do outro, de R$ 3.700, não há pistas.
O secretário de Articulação Institucional do governo do DF, Hélio Doyle, recebeu 12 CDs do cantor e compositor Chico Buarque, mas achou que era um presente pessoal de Eliane Lopes, então a representante em Brasília mais influente do grupo de Valério.
Só na última sexta-feira, após consulta da reportagem, disse saber que se tratava de um mimo da SMPB Comunicação. A empresa mantém contrato com o governo do DF.
Um alto executivo da siderúrgica Usiminas recebeu entre outros mimos, "presente de Natal" de R$ 15,5 mil da mesma joalheira Manoel Bernardes e produtos de até R$ 3.000 comprados da grife Hugo Boss.
A Usiminas aparece no noticiário do escândalo do mensalão quando a CPI revelou que dinheiro destinado por Valério à campanha do deputado Roberto Brant (PFL-MG) teve como origem o caixa da siderúrgica.

Tucano na lista
O Banco Rural, um dos bancos que teriam alimentado o caixa dois do PT com supostos empréstimos, também aparece com destaque na lista dos presenteados. A presidente do banco, Kátia Rabelo, que reconheceu em Valério um "facilitador" nos negócios com o governo, recebeu presente de R$ 2.900 no Natal de 2002, seis meses depois de a SMPB ter pago R$ 1.400 por outro presente comprado para ela em loja da grife Louis Vuitton.
Rabelo negou que o banco soubesse das triangulações envolvendo a instituição, as empresas de Valério e o PT. "O banco foi usado", disse a presidente.
Outro personagem que freqüentou o noticiário, por empréstimos tomados no Banco Rural com aval de Valério, o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga (PSDB-MG) aparece na contabilidade recebendo casaco de couro adquirido por R$ 2.680.
De acordo com a contabilidade, Andréa Neves, irmã do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG), que na prática comanda a comunicação social do governo, recebeu dois "brindes" faturados por R$ 800.
A lista de Valério atesta que as empresas do publicitário não economizavam em presentes. Há o registro da compra, por R$ 520, de um abridor de garrafas de vinho para presentear o executivo de um shopping localizado em Belo Horizonte, sede das empresas do grupo.

17 de nov. de 2005

Nepotismo


O Conselho Nacional de Justiça publicou uma resolução proibindo o nepotismo no Poder Judiciário. Nem precisaria, nepostismo é fraude a concurso. Se pegar dois tribunais, um campeão de nepotismo e outro com um sistema de ingresso justo e legal, evidentemente por concurso público, vai se ver que este é bem melhor do que aquele. Basta querer ver, exemplos não faltam. Como a cara de pau não tem limite, os corregedores e presidentes dos Tribunais de Justiça resolveram publicar uma carta contra a decisão do CNJ. Direito deles. Contudo, a se creditar na matéria da Folha de São Paulo de 17/11/2005: "A carta divulgada pelos corregedores sugere que os tribunais "resistam ao cumprimento de determinações do CNJ que impliquem no desrespeito à Constituição". O desembargador Washington Freitas, do TJ de Alagoas e presidente do colegiado dos corregedores-gerais, disse, no entanto, estar disposto a abrir diálogo com o CNJ para evitar um confronto."
Ora, como pode um Presidente de um Tribunal de Justiça negociar a ilegalidade ou a legalidade de uma resolução do CNJ? Até um beócio sabe que o órgão competente para julgar constitucionalidade do que quer que seja é o STF.
O Rei está nu, e ele preside os órgãos máximos de aplicação da justiça nas esferas estaduais.
E já que os bispos também já fazem greve de fome, vamos recorrer ao banqueiros do jogo do bicho. Pelo menos lá vale o que está escrito.
Pois é, até nas flores pode-se encontrar lagartas...

25 de out. de 2005

Corruptos e Chantagistas


Qual a diferença? Nenhuma. Salafrário é salafrário, o resto é política. PSDB/PFL tem corruptos? Tem! O PT copiou tudo, e bem. Pegos pela simploriedade das malhas estendidas, o PT desmanchou-se como lesma no sal. E o PSDB/PFL, "no limite da irresponsabilidade", usando "a minha, a tua, a nossa paciência", cantou de galo acocorados no galinheiro. Acordaram com titica na cabeça. Juntos Arthur Virgílio e Jorge Bornhausen dizem mais infantilidades que todos as crianças dos Jardins de Infância de Porto Alegre antes de chegarem à vida adulta.
A política dá nojo porque os políticos são nojentos. Dizem as maiores imbelicidades, como se fôssemos todos boçais como eles para acreditarmos nos seus discursos vazios de sentido e sentimento. O diz o senhor Jorge Borhausen agora? Caso seja apontado algum corrupto do PFL, vai retaliar. Isto é, "se" denunciares o meu corrupto, então, e só então, denunciarei o teu. Estes são os senhores que fazem as leis que devemos cumprir.
Seriam mais engraçados se cada um dissesse: "Nossos corruptos são mais lindos que os deles."

21 de out. de 2005

Ad referendum



A campanha da turma da bala não tem limites. Agora conseguiram mais um voto. Um, não. Dois. Cuidado, dois malufs soltos. Taí, pelo sim pelo não, o Supremo, instituição que doravante deixa de ser citado na presença de crianças, definiu o que é um "homem de bem". É aquele que tendo roubado a vida toda vira jurisprudência de si mesmo. A decisão foi uma malufada (ou uma baforada na nuca): roube mas não divulgue, em Brasília é uma Variant de "estupre mas não mate".
Como a Emília, se tiver que roubar, só no milhão. Não levarei uma vida Severina desses tantos que enchem as prisões. Se deixam levar por migalhas. Espelhar-me-ei em Maluf. E agora com jurisprudência do pretório excelso. Não por acaso, pretório rima com mictório. E a cacofônica malufada, comcagada.
E para não dizer que não falei de flores, se ter arma é um direito, quero granada. Granada é arma. E também sou um cidadão de bem. Pelo menos de bem com a vida, e para isso não preciso de arma.
Depois que o STF soltou os representantes do "NÃO" deixei de ter medo de armas e passei a ter medo dos "cidadãos de bem".

14 de out. de 2005

VEJA só!

Veja como se faz!
Deu a louca na revista "Veja"?
Pode ser implicância minha, mas estou com a "Veja" entalada na garganta. Com farta lista de serviços prestados ao país, parece que a revista resolveu jogar sua sobriedade pela janela se convertendo em uma louca de Chaillot indócil, que atira para todo o lado e reage com histeria aos fatos que deveria relatar com imparcialidade.
Assino "Veja" há 20 anos, leio a revista de cabo a rabo assim que a recebo e faço parte do grupo que acredita que o governo do PT é um embuste digno da queixa coletiva de 121 milhões de eleitores ao Procon. Mesmo assim, não consigo entender a fúria atual de "Veja". Tome, por exemplo, a capa da semana passada, em que a revista apresentava sete motivos para votar "não" no referendo sobre as armas. Estranha conta, sete. Não existiriam motivos suficientes para arredondar o número para dez? E estranha escolha de motivos. O primeiro deles, de que "os países que proibiram a venda de armas tiveram aumento da criminalidade e da crueldade dos bandidos" não encontra respaldo nos dados fornecidos por países que adotaram políticas de desarmamento, como Japão, Austrália, Holanda e Reino Unido.
Outro motivo apresentado, o de que o desarmamento é "historicamente um dos pilares do totalitarismo", não só tenta vincular de forma sub-reptícia a campanha pelo desarmamento à agenda do PT (sendo que o movimento nasceu na sociedade civil e tomou vulto no governo FHC), como ecoa a ladainha alarmista da direita truculenta.
Um dos argumentos usados por Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de "Veja", para explicar a opção da revista pelo "não" foi o de que "um referendo que pergunte ao cidadão se ele quer ter direitos básicos suprimidos não deveria ser proposto jamais. Em sendo, merece apenas uma resposta: não". Ora, se esse é o posicionamento da revista, em vez de oferecer sete motivos para votar "não", não teria sido mais coerente fazer uma capa apontando a inconstitucionalidade do referendo?

"Veja", que se ufana em apontar o dedo para repórteres que recebem iPods de gravadoras, poderia ter sido mais generosa com o leitor ao explicar sua opção pelo "não". Para não deixar dúvidas no ar, por que a revista não nos contou que a empresa à qual pertence paga aluguel de cerca R$ 1 milhão à família Birmann, da construtora homônima, que vem a ser proprietária do prédio que serve de sede da Editora Abril e também, veja só, da CBC, a Companhia Brasileira de Cartuchos?
Folha de São Paulo - 14/10/2005

5 de out. de 2005

Saídas e Bandeiras ou Xixi neles


Por que o ideólogos petistas tem perdido tanto tempo discutindo os "erros" de quem saíram do PT ao invés de se concentraram nos motivos pelos quais houve a debandada. Tanto Flávio Aguiar como Emir Sader, em suas análises no site www.cartamaior.com.br, se enveredaram por uma espécie de perseguição aos que saíram sem uma palavra sequer contra os delúbios e dirceus. O PT já tinha errado nas análises a respeito da derrota eleitoral das prefeituras petistas gaúchas. Erra agora em se preocuparem com quem está saindo ao invés de se concentrarem em sinalizar um norte para os que ficam ou para os que, como eu, mesmo não sendo petistas, sempre estiveram com o PT. Com tudo o que apareceu na gestão do Partido dos Trabalhadores, e considerando que 42% dos petistas que participaram do PED deram aval à prática do Campo Majoritário, como se pode ter esperança dentro do PT? Ao não repudiarem a "filosofia" do Campo Majoritário, a quase metade dos petistas que compareceram nas eleições internas sinalizam que não estão preocupados em corrigir rumos.

Instrumentalizados
Esses colunistas que vêm atacando o PSOL e os ex-petistas por estarem votando com a Direita, esquecem que a Direita está agora empunhando uma bandeira que era do PT. Então, quem mudou? Mudou o PT, que renegou as bandeiras, e mudou a Direita, ao tomar para si as ex-bandeiras petistas. Ou queriam que Heloísa Helena votassem com o PT a Reforma da Previdência?! As esquerdas radicais estariam sendo instrumentalizadas pela Direita. OK. E o governo Lula está sendo instrumentalizado por quem? A política econômica que vem sendo praticada é a mesma da Direita! O superávit primário, é instrumento da Direita!

Servidores Públicos
Cavalgando 52 milhões de votos, o PT tomou uma bandeira histórica da direita, e, para cúmulo, comprou deputados dessa mesma direita (ou o PL e PTB de Roberto Jefferson são de esquerda?!), para desfraldarem o que sempre conduziam, como a Reforma da Previdência e a aprovação dos transgênicos. Além disso, o serviço público assistiu ao assalto das hostes petistas aos cargos em comissão. Não bastasse os cargos que já existiam, criaram mais 2.700 cargos de livre nomeação. O PT tem idéia do que os servidores públicos, que julgavam no PT um partido que vinha para mudar a prática clientelista da máquina pública, pensa a respeito deste aparelhamento?
No campo, a Reforma Agrária não deslanchou. Não se pode dizer o mesmo a respeito do agronegócio e dos transgênicos. A ênfase nas exportações dos produtos agrícolas desmente o Fome Zero: afinal, com tanta gente passando fome aqui faz sentido apoiar uma política de exportação de alimentos?
Com a preocupação exacerbada no superávit fiscal, o governo Lula esqueceu da educação, saúde, moradia e estradas. Para constatar, basta utilizar qualquer um destes serviços.
A única área que o Brasil de fato mudou de inclinação foi a área externa, e acertadamente. Mas aí é fácil, não precisa de dinheiro, basta saliva, o que só prova a ênfase fiscalista do lulismo.

Acerto de Contas
Se tudo isso não é suficiente para abandonar o PT, como perdoar o fato de que o PT deu discurso da moralidade à gangue de pefelistas & de peessedebistas. Como posso perdoar o PT por ser obrigado a agüentar Jorge Bornhausen falando no valérioduto?
Não basta ser PT, tem de ter bandeiras, e as defenderem, à esquerda. Um PT que empunhe bandeiras da Direita, é porque foi cooptado, e, portanto, presta um desserviço à esquerda.

Este texto é uma resposta ao texto do Emir Sader, Entradas, saídas e bandeiras publicado na Agência Carta Maior em 03/10/2005

30 de set. de 2005

A vitória de Rebelo e o desespero da direita


Tribuna da Imprensa, 30/09/2005
Perdão, leitores, mas estou comemorando a vitória do deputado Aldo Rebelo. Eu o conheci numa viagem ao Oriente Médio, quando ele presidia a UNE - é bem humorado e bom papo. Mas não festejo por isso e sim porque a interpretação dos jornalões de que foi vitória dos corruptos é despeito. O resultado expõe a derrota da arrogante dupla PSDB-PFL, que irresponsavelmente elegeu Severino no início do esforço rumo ao golpe branco.

A derrota é deliciosa por ser também da mídia arrogante. Até a véspera os jornalões apostavam tudo no pefelista José Thomaz Nonô, vice de Severino na eleição anterior. "O Globo" queixou-se, indignado, na manchete: "Negociação com partidos do mensalão elege Aldo". O "Estado de S. Paulo" não conteve a irritação: "Governo abre o cofre e elege Aldo por 15 votos".

O "Jornal do Brasil", com seu jornalismo semifalido mas ainda engraçado: "Governo vence e fica refém das barganhas no varejo". E a "Folha de S. Paulo", primeiro jornal a canonizar Roberto Jefferson como santo padroeiro da luta contra a corrupção: "Rolo compressor de Lula dá vitória a Aldo". Herr Bornhausen e Eduardo Azeredo assinariam tudo isso embaixo, em nome de seus partidões, PFL e PSDB.

Aquelas vestais fraudulentas
Teria "O Globo" preferido ver Aldo (ou o governo) negociar com os partidões que compraram votos a US$ 300 mil por cabeça para dar a reeleição a FHC? Eu me dispenso de voltar à corrupção do partido de Herr Bornhausen, serviçal da ditadura militar, adepto de Collor, ou às privatizações do PSDB-PFL, que entregaram nossas empresas estatais a gangues e telegangues estrangeiras, com financiamento do BNDES.

Mas não dá para esquecer Eduardo Azeredo, atual presidente do PSDB e inventor do que agora é chamado "mensalão". Que diabo, como governador de Minas ele usou o mesmo Marcos Valério e o mesmo Banco Rural no caixa 2 de sua campanha pela reeleição. Itamar Franco, punido (por FHC) por tê-lo derrotado, recebeu Minas às portas da falência, foi sabotado e saneou as finanças do estado arrasado por Azeredo.

O PSDB e seu cúmplice PFL, com os filhotes de Maias e os netinhos de ACMs, apresentam-se como vestais em luta contra a corrupção - e assim aparecem na tela da TV e nas primeiras páginas. De fato, entendem muito de valerioduto, que não era melhor quando administrado pelo PSDB de Azeredo. Continua tão condenável hoje como foi no passado, no tempo de outros corruptos, talvez mais espertos.

Mais acusações irresponsáveis
Só que o erro maior deste governo atual, como do anterior, é a política econômica que a tudo atravessa, incólume, para favorecer a agiotagem internacional. E enquanto o moralismo digno dos velhos Clubes da Lanterna comanda a vida nacional, os banqueiros continuam a roubar o País e a reinar, com o aplauso da mídia - corrupta, para variar -, que desvia a atenção para a lama mas evita citar os corruptos amigos.

Como qualquer brasileiro, não quero ver corrupto triunfar. Tampouco acho que o País tenha de se curvar a vestais fraudulentas. Desde a ditadura essa gente corrompe o sistema. Agora invoca a desculpa de que seu passado corrupto "é História" e não tem de ser investigado, como alegou FHC. Deslumbrados como Fernando Gabeira entram na dança, sedentos de primeiras páginas de jornalões e "sound bites" da TV.

Gabeira atacou o curso "Silêncio dos Intelectuais" - iniciativa séria, que sabia ter sido planejada um ano antes da atual crise, envolvendo até críticos do governo Lula, como Chico de Oliveira. E se alguém o acusasse de ter trocado por US$ 300 mil seu voto na emenda de FHC? Cortejado pela direita, não resiste à tentação de aderir a ela. E, de quebra, retoma o antigo caso de amor com o oportunismo e o exibicionismo.

Hitler e Stálin, PSDB e PFL
Gabeira foi visto em toda parte exibindo-se de braço dado com os novos Hitler e Stálin - tão bem representados pelos herdeiros da UDR e do PCB, como do PSDB e do PFL. Se o pretexto era Severino, por que se associar exatamente àqueles que antes o fizeram presidente da Câmara, com a mesma obsessão de livrar-se de Lula - "dessa raça", como disse Herr Bornhausen? Mas aderiu à idéia fixa do golpe branco, de Azeredos e FHCs.

O próprio Severino relatou uma vez sua "conversa amigável" com FHC ("Telefonei a ele, depois ele me ligou de volta"). Manifestou então a certeza de que o ex-presidente mandara deputados do PSDB votarem nele. Como Severino tinha apoiado a ditadura militar no passado, quando defendia empresários que violam a CLT, sempre esteve afinado com a gente que fundou o PFL para continuar no poder ao fim da ditadura.

Severino teve 300 votos. Depois da votação, personalidades do PSDB e do PFL festejaram o resultado. FHC e o governador Geraldo Alckmin, candidato potencial ao Planalto, estiveram entre os que, junto com os jornalões, comemoraram o resultado como derrota de Lula e do partido do governo. Já na ânsia do golpe branco, alegavam então que o governo era autoritário e buscava desestabilizar os partidos da oposição.

27 de set. de 2005

Os milagres de Lula

- Acabou com o PT, com o PP, com o PL e com o PTB
- Colocou o bispo do baixo-clero na fogueira
- Dizimou boa parte dos trezentos picaretas
- Botou o Maluf na cadeia
- Enterrou a carreira da Marta, do João P Cunha, do Mercadante, do Ingenoino, do Luizinho, do Dirceu Borboleta, do Bittar, da Benedita, da Ideli, do Olívio Dutra, do Tarso Genro, do Humberto Costa, do, da, do, da......
- Devolveu o Zé Dirceu pro Fidel
- Acabou com o Duda Mendonça e com o Marcos Valério
- Fechou o Banco Rural
- Desmazelou o corporativismo no governo e nas estatais, aniquilou os sindicatos, ridicularizou o MST, a CUT e a UNE
- Ressuscitou o Gabeira
- Fez com que a maioria dos brasileiros fossem informados sobre as obras de Getulio e JK
- Mostrou aos brasileiros que agüentar o mesmo discurso todo dia é coisa pra surdo!

E com apenas duas vítimas fatais: Celso Daniel, o mártir de Santo André e Toninho, o mártir de Campinas

26 de set. de 2005

O PT NÃO MORREU...

... CADUCOU!
Entrou em coma quando seus líderes só pensaram em ganhar eleição. Prova: Lula não quis ser prefeito, nem governador. Piorou quando os mesmos líderes, tendo vendido a alma ao diabo, ganhou as eleições, passou a esnobar a esquerda e se alinhou à direita para gozar dos quinze minutos de fama.
Definha a cada oportunidade que alguém do PT abre a boca para dizer que está vivo.
Em Porto Alegre o PT começou a apodrecer quando a utopia que valia era a Utopia do Possível. Isso não é nem nunca foi utopia, tem outro nome, e não ouso pronunciá-lo em sala com criança.
O PT entrou em coma profunda em Porto Alegre quando Tarso Genro (apoiado por gente (sic) como Maria do Rosário) comprou pesquisa para derrotar a reeleição de Olívio Dutra para o governo do RS, desembarcando do recém iniciado governo municipal. A pá de cal do PT porto-alegrense foi o não reconhecimento que a mais recente derrota nas eleições municipais deu-se exclusivamente por culpa do lulismo desvairado de gente como Tarso Genro, Paulo Pimenta e Maria do Rosário. Águias no uso de cargos e da mídia, mas esclerosados, com sinais de senilidade precoce, quando justificam a derrota municipal ao desgaste de 16 anos de PT. Tão cegos que não se deram nem se dão conta que o PT perdeu em Caxias, em Pelotas, em Santa Maria e em São Paulo, e nesses municípios o PT não tinha 16 anos de casa...
Mas a certidão de óbito foi dada pelos 42% dos petistas votantes em Ricardo Berzoini. Ora, depois de tudo o que o Campo Majoritário fez, votar em Ricardo Berzoini é avalizar, é locupletar-se, é debochar da inteligência alheia. Qual a diferença entre José Dirceu e Eliseu Padilha? Entre Lula e FHC?
Será que esses petistas não lembram mais o tratamento que esse tal de Berzoini dispensou aos aposentados? E não lembrando, é possível levá-los a sério?
A esquerda não pode ser instrumentalizada pela Direita, dizem os lulistas desvairados, mas não vêem nenhum problema em o PT ser instrumentalizado pela Direita. Quem foi instrumentalizado a ponto de dar um cheque em branco ao Roberto Jefferson?
Agora dizem que a esquerda não deve se dividir porque senão a direita, que é unida, ganha. A esquerda unida ganhou, é verdade. Mas o lulismo desvairado ganhou com a esquerda mas governou com e para a direita. Alguém tem dúvida disso? Então? Então fodam-se!
E venho dizendo isso desde a véspera da posse de Lula. Não é profecia, é sabedoria popular: Me dizes com quem andas e eu direi quem és. E todos sabiam com quem Lula quis governar.
A única coisa que continua vivo é o autismo do lulismo desvairado.
AH! NO PASARAN!

25 de set. de 2005

Halawa

Com esta palavra árabe, os homens da CIA ganharam a confiança de Osama Bin Laden para a luta contra a União Soviética. Para não serem pegos na cumplicidade da luta dos Talibãs do Afeganistão contra a URSS, os EUA ensinaram formas de transferirem recursos sem deixar lastros. Para os EUA, ou confiavam ou confiavam, não tinham alternativa. A palavra “halawa”, significa “eu confio em você”, pois não há documento escrito. E os EUA confiavam em Bin Laden, a ponto de a ele entregarem armas, dinheiro e informações.
Não por acaso os talibãs do neoliberalismo são ferrenhos inimigos da burocracia de Estado, e aí transformam a burocracia definida por Max Weber, denegrindo-a, para poderem traficarem sem deixar pegadas. Por exemplo, quando os donos da mídia brasileira se reuniram com Lula, não houve reportagem de seus veículos. As fotos saíram através dos veículos burocráticos, que registram a agenda governamental, pois queriam foto nem agenda de compromissos, apenas empréstimos do BNDES para saldar suas dívidas contraídas em dólar.
É a mesma razão pela qual Fernando Collor de Mello implantou a perseguição do servidor público, chamando-o de marajás. E os que vieram depois só fizeram continuar maculando a imagem do servidor público porque o servidor público continua, eles, não! Lula também acha que os problemas do Estado Brasileiro são os aposentados. Os males do Brasil são as saúvas Marcos Valérios, Genuínos, Delúbios, Sérgios Mottas, Padilhas, FHCs, Paulos César Farias, Malufs e Borghousens. A montanha de dinheiro público parida nos pardieiros dessas raposas paga todos os aposentados e ainda sobraria bufunfa para financiar as campanhas políticas.
Sempre tem um ignorante ou um safado para dizer que o dinheiro das campanhas não é dinheiro público. Mas é. A empresa que declara o valor dado, deixa de pagar tributos sobre ele. Além disso, os grandes valores são os bilhetes das concorrências fraudadas, das isenções, incentivos fiscais e PROERs da vida...
No sistema “halawa”, um doleiro de Porto Alegre que quer depositar US$ 1 nas Ilhas Cayman, onde a RBS possui um empresa, entra em contato com um corresponde da Suiça, que faz o depósito em Cayman. O doleiro gaúcho registra um crédito para seu parceiro suíço no mesmo valor. Quando o parceiro precisar mandar dinheiro para o Brasil, o doleiro de Porto Alegre faz o pagamento em reais para o cliente do doleiro das Ilhas Cayman, sem que haja remessa física de dinheiro.
Assim funciona com as empresas brasileiras que têm “subsidiárias” (por quê?) nas Ilhas Cayman, como os políticos que gastam montanhas de dinheiro nas campanhas. É a mesma regra de funcionamento da Al Qaeda. Provar? É por isso que o Maluf e o Al Capone só foram pegos pelo Imposto de Renda. E o imposto de renda é controlado pelos marajás servidores públicos. Deu para entender!?

21 de set. de 2005

O racismo visto por racistas


UOL - 21/09/2005
Sarcasmo sobre racismo tem efeito bumerangue
A situação dos negros na França não é diferente de Nova Orleans

John Tagliabue
Em Paris

Os veículos de informação franceses foram cativados pelo furacão Katrina. Eles apontam de que maneira a reação pífia do governo americano ao desastre trouxe à tona, e à vista de todos, a triste condição de muitos negros americanos. Mas, desta vez, os franceses, que há muito têm criticado o racismo da América, não puderam evitar traçar alguns paralelos com o que ocorre no seu próprio território.


Sissouo Cheicka teve dificuldade para obter empréstimo ao abrir sua loja, que dá lucro
"É verdade que as devastações do Katrina expuseram cruelmente à luz do dia as feridas da América, a multiplicação dos guetos na sociedade, a pobreza, a criminalidade, as tensões raciais e territoriais", afirma o diário conservador "Le Figaro", num editorial publicado em 8 de setembro. "Na França, os que discordam com essa situação apressam-se a apedrejar o `modelo americano' e o seu presidente neo-conservador. Mas será que eles ao menos viram o estado em que se encontra o seu próprio país?".

Quatro dias apenas antes disso, um incêndio havia destruído um apartamento no sul de Paris, matando doze pessoas, a maioria das quais era negra. E poucos dias antes disso, 17 negros morreram num único incêndio. Desde abril, 48 pessoas, a maioria das quais eram crianças e todas elas negras, morreram em quatro incêndios diferentes em Paris.

Em cidades suburbanas tais como Château Rouge, lotadas de centenas de milhares de imigrantes não-brancos, entre os quais alguns árabes, mas, sobretudo uma maioria de negros, os quais a França foi absorvendo ao longo dos anos, vindos das suas ex-colônias na África e no Caribe, dá para sentir a cólera das pessoas no ar.

"Pode até ser uma coincidência", diz Sissouo Cheickh, num tom amargo, "mas há uma pergunta à qual os franceses precisam responder: Das 48 pessoas que morreram, por que todas as 48 eram negras?".

Cheickh, 28, obteve um diploma universitário na França, mas em vez de trabalhar para alguma pessoa ou empresa e de ter de encarar aquilo que ele e outros jovens negros chamam de "baixo teto de vidro da França", ele optou por iniciar o seu próprio negócio. Seis meses atrás, ele juntou algum dinheiro e abriu uma loja.

"Você vê esses tecidos? Tudo isso vem da África, da minha família", diz Cheickh, que é originário do Mali, gesticulando em volta de rolos de panos multicoloridos.

Há muito a França se gaba de ser o berço dos direitos humanos e um baluarte contra o racismo. No passado, regularmente, ela denunciava o racismo nos Estados Unidos, abria as suas portas para artistas que se dispunham a fazer a viagem de Harlem até Paris, convidava negros americanos talentosos tais como a dançarina Josephine Baker, músicos como Sidney Bechet e escritores como Richard Wright e James Baldwin.

Mas a insistência dos franceses em defender a igualdade entre os homens os empurra fora da realidade, segundo afirmam os seus críticos negros, uma vez que eles perpetuam com isso a ficção de uma sociedade sem minorias.

O censo na França não classifica as pessoas por raças. Com isso, enquanto se supõe que o número de negros seja de cerca de 1,5 milhão, para uma população total de 59 milhões, ninguém sabe realmente qual é o número exato, o qual na realidade, segundo outras estimativas, é bem mais elevado.

Não há praticamente negros no mundo empresarial francês, enquanto os negros não têm praticamente nenhuma representação política. Nenhuma pessoa negra tem assento na Assembléia Nacional ou num parlamento regional, e raros são aqueles vistos atuando nas câmaras municipais. A União Européia financia programas de ajuda às minorias, mas não na França, por causa da sua recusa a reconhecer a existência das minorias.

Com isso, hoje, os negros não aparecem nem um pouco na ordem do dia francesa. Depois dos recentes incêndios, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, propôs implantar um programa de ação afirmativa e um projeto de lei visando a pôr fim à ocultação da identidade racial ou étnica de uma pessoa. Mas os outros membros do ministério, inclusive o ministro para a igualdade das oportunidades, rejeitaram essas idéias, alegando que elas ofendem o princípio fundamental de igualdade.

"Os franceses gostam de dizer: `Os negros são um problema social, não racial"', diz Gaston Kelman, 52, um nativo de Camarões autor de muitos livros sobre a população negra na França. "Por esta razão, as nossas instituições não têm meios para resolver o problema".

Até recentemente, praticamente todos os negros encontravam-se no degrau mais baixo da escada social. No entanto, aos poucos, uma nova geração, da qual faz parte Cheickh, recebe uma educação, uma formação, abre empresas e gradualmente vai dando à luz uma classe média negra. Eles estão sentindo a discriminação que, segundo eles impregna a sociedade francesa e estão começando a resistir.

Após ter obtido em diploma em economia e processamento de dados, Claude Vuaki fez a sua aprendizagem em vários empregos antes de decidir iniciar o seu próprio negócio.

Junto com a sua mulher, Kibe, ele abriu um salão de beleza na região central de Paris. Mas a procura de Vuaki de um capital para a sua start-up foi típica dos sofrimentos que os negros costumam suportar. "Eles disseram imediatamente, nada de empréstimo, nada de dinheiro", conta Vuaki, 52. Junto com a sua mulher, ele conseguiu reunir algum dinheiro economizado pela sua família para auto-financiar sua loja.

Agora, os negócios vão indo tão bem que eles planejam abrir uma segunda loja, em Nice ou em Cannes. Kibe Vuaki viaja regularmente para os Estados Unidos onde ela estuda os cortes de cabelos afro-americanos.

Ainda assim, ela se inclui dentro de uma minoria relativamente pequena. A maioria dos negros é empregada em trabalhos domésticos ou servis, na construção civil ou nos transportes. O que incentiva pessoas como Vuaki é que o teto de vidro que os jovens negros que têm acesso a uma formação sentem com tanta freqüência não os deixa desencorajados, mas, cada vez mais, os motiva a irem à luta por conta própria.

"Muitas pessoas que eu conheço querem criar algo por conta própria", diz ele, com freqüência nos setores do paisagismo, da construção e dos serviços de entrega.

Mesmo assim, Kelman precisa que esta pequena abertura não está inibindo muitos jovens africanos que receberam uma educação de irem embora para a Grã-Bretanha, o Canadá ou os Estados Unidos, onde eles acreditam que encontrarão maiores oportunidades.

Indagado se o povo francês é racista, Kelman respondeu: "É um racismo matizado. Todo francês lhe dirá imediatamente: `Um dos meus melhores amigos é negro"'.

Kelman acrescenta que as políticas de habitação e de emprego criam uma "fábrica de guetos institucionalizada". Ele descreve dando boas risadas uma típica entrevista para um emprego para um candidato negro.

Quando o patrão percebe que o candidato é negro, ele começa celebrando as paisagens e os sons da África, que ele descobriu durante suas mais recentes férias neste continente: As praias de perder de vista, a vegetação belíssima, o vasto céu. Nem é preciso dizer que o candidato não consegue o emprego.

Nas escolas, os alunos brancos são normalmente incentivados a darem prosseguimento aos seus estudos, enquanto as crianças negras não raro são orientadas a seguirem estudos vocacionais. A influência dos afro-americanos, por intermédio da televisão, dos filmes e dos esportes, está em toda parte.

Alguns jovens negros acabam se voltando para o afrocentrismo (filosofia que faz da África o centro do mundo), explica Kelman, outros para os rappers e outros ainda para os grupos de negros muçulmanos. O que eles não fazem é se inserir na corrente principal da sociedade francesa.

"Nós estamos num impasse", conclui Kelman.

"A mídia diz: Somos onipotentes e fazemos seu silêncio falar"



"Prezados alunos,
soube, por alguns colegas professores, que muitos de vocês estão intrigados ou perplexos com meu suposto "silêncio". Digo suposto porque, como lhes mostrarei a seguir, essa imagem foi construída pelos meios de comunicação, particularmente pela imprensa. Na verdade, tenho falado bastante em vários grupos de discussão política que se formaram pelo país, mas tenho evitado a mídia e vou lhes dizer os motivos. Antes de fazê-lo, porém, quero fazer algumas observações gerais.
1. Vocês devem estar lembrados de que, durante o segundo turno das eleições presidenciais, a mídia (imprensa, rádio e televisão) afirmava que Lula não iria poder governar por causa dos radicais do PT, isto é, pessoas como Heloisa Helena, Babá e Luciana Genro. Você não acham curioso que, de meados de 2003 e sobretudo hoje, essas pessoas tenham sido transformadas pela mesma mídia em portadores da racionalidade e da ética, verdadeiros porta-vozes de um PT que foi traído e que teria desaparecido? Como indagava o poeta: "Mudou o mundo ou mudei eu?". Ou deveríamos indagar: a mídia é volúvel ou possui interesses muito claros, instrumentalizando aqueles podem servi-los conforme soprem os ventos?
2. Vocês devem estar lembrados de que, desde os primeiros dias do governo Lula, uma parte da mídia, manifestando preconceito de classe, afirmava que, o presidente da República, não tendo curso universitário nem sabendo falar várias línguas, não tinha competência para governar? Cansando dessa tecla, que não surtia resultado, passou-se a ironizar e criticar os discursos de Lula e seus improvisos. Não tendo isso dado resultado, passou-se a falar o populismo presidencial, isto é, a forma arcaica do governo. Como isso também não deu resultado, passou-se a falar num país à beira da crise, alguns chegando a dizer que estávamos numa situação parecida com a de março de 1964 e, portanto, às vésperas de um golpe de Estado! Como o golpe não veio (ele veio agora, sob a forma de um golpe branco), passou-se a falar em crise do governo (as divergências entre Palocci e Dirceu) e em crise do PT (as divergências entre as tendências).
Penso que um dos pontos altos dessa seqüência foi um artigo de um jornalista que dizia que, na arma do policial que matou o brasileiro em Londres, estava a impressão digital de Lula, pois não criando empregos, forçara a emigração! Além de delirante, a afirmação ocultava: a) que aquele brasileiro estava na Inglaterra há cinco anos (emigrou durante o governo FHC); b) estavam publicados os dados de crescimento do emprego no Brasil nos últimos dois anos. Eu poderia prosseguir, mas creio ser suficiente o que mencionei para que se perceba que estamos caminhando sobre um terreno completamente minado.
3. As duas primeiras observações me conduzem a uma terceira, que julgo a mais importante. Vocês sabem que, entre os princípios que norteiam a vida democrática, o direito à informação é um dos mais fundamentais. De fato, na medida em que a democracia afirma a igualdade política dos cidadãos, afirma por isso mesmo que todos são igualmente competentes em política. Ora, essa competência cidadã depende da qualidade da informação cuja ausência nos torna politicamente incompetentes. Assim, esse direito democrático é inseparável da vida republicana, ou seja, da existência do espaço público das opiniões. Em termos democráticos e republicanos, a esfera da opinião pública institui o campo público das discussões, dos debates, da produção e recepção das informações pelos cidadãos. E um direito, como vocês sabem, é sempre universal, distinguindo-se do interesse, pois este é sempre particular. Ora, qual o problema? Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados. Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. E estes sempre ganham a parada.
Apesar de tudo o que lhes disse acima, fiz, como os demais (no mundo inteiro, aliás), uso dos meios de comunicação, consciente dos limites e dos problemas envolvidos neles e por eles. Exatamente por isso, hoje, vocês perguntam por que não os usei para discutir a difícil conjuntura brasileira. Tenho quatro motivos principais para isso. O primeiro, é de ordem estritamente pessoal. Os que fizeram meu curso no semestre passado sabem que mal pude ministrá-lo em decorrência do gravíssimo problema de saúde de minha mãe. Aos 91 anos, minha mãe, no dia 24 de fevereiro, teve um derrame cerebral hemorrágico, permaneceu em coma durante dois meses e, ao retornar à consciência, estava afásica, hemiplégica, com problemas renais e pulmonares. De fevereiro ao início de junho, permaneci no hospital, fazendo-lhe companhia durante 24 horas. Cancelei todos os meus compromissos nacionais e internacionais, não participei das atividades do ano Brasil-França, não compareci às reuniões do Conselho Nacional de Educação, não participei das reuniões mensais do grupo de discussão política e não prestei atenção no que se passava no país. Assim, na fase inicial da crise política, eu não tinha a menor condição, nem o desejo, de me manifestar publicamente.
O segundo motivo foi, e é, a consciência da desinformação. Vendo algumas sessões das CPIs e noticiários de televisão, ouvindo as rádios e lendo jornais, dava-me conta do bombardeio de notícias desencontradas, que não permitiam formar um quadro de referência mínimo para emitir algum juízo. Além disso, pouco a pouco, tornava-se claro não só que as notícias eram desencontradas, mas que também eram apresentadas como surpresas diárias: o que se imaginava saber na véspera era desmentido no dia seguinte. Mas não só isso. Era também possível observar, sobretudo no caso dos jornais e televisões, que as manchetes ou "chamadas" não correspondiam exatamente ao conteúdo da notícia, fazendo com que se desconfiasse de ambos. A desinformação (como disse alguém outro dia: "da missa, não sabemos a metade"), não permitindo análise e reflexão, pode levar a opiniões levianas, num momento que não é leve e sim grave.
Além disso, a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião. Por isso mesmo, a forma da notícia tornou-se assustadora, pois indícios e suspeitas são apresentados como evidências, e, antes que haja provas, os suspeitos são julgados culpados e condenados. Esse procedimento fere dois princípios afirmados em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, quais sejam, todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário e ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos. Ora, vocês conhecem o texto de Hegel [filósofo alemão, 1770-1831], na "Fenomenologia do Espírito", sobre o Terror (em 1793), isto é, a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, morte efetuada sob a forma do espetáculo público. Essa perspectiva, como vocês também sabem, é também desenvolvida por Arendt [Hannah Arendt, filósofa alemã, naturalizada norte-americana, 1906-1975] e Lefort [Claude Lefort, filósofo francês] a respeito dos totalitarismos e seus tribunais, e para isso ambos enfatizam, na Declaração de 1789, o princípio referente à não criminalização das idéias, assinalando que nos regimes totalitários a opinião dissidente é tratada como crime.
Assim, na presente circunstância brasileira, a impressão geral deixada pela mídia é da mescla de espetáculo e terror, tornando mais difícil do que já era manifestar idéias e opiniões nela e por meio dela.
Meu terceiro motivo será compreendido por vocês quando lerem os artigos de jornal que inseri no final desta carta. Um artigo foi escrito antes da posse de Lula ["Desconfiança saudável", na Folha, em 8.dez.2002], alertando para o risco de uma "transição", isto é, um acordo com o PSDB. Os outros dois foram escritos em 2004, quando do "caso Waldomiro" [ambos na Folha: "A disputa simbólica", em 18.fev.2004, e "Em prol da reforma política", em 11.mar.2004]. Ambos insistem na necessidade urgente da reforma política. Os fatos atuais (ou o que aparece como fato) não modificam em nada o que escrevi há quase um ano, pelo contrário, reforçam o que havia dito e por isso não vi razão para voltar a escrever, pois eu escreveria algo ridículo, do tipo: "Como já escrevi no dia tal em tal lugar...". Ou seja, se meu segundo motivo me leva a considerar que não há a menor condição para opinar no varejo sobre cada fato ou notícia, o meu terceiro motivo é que, no que toca ao problema de fundo, já me manifestei publicamente.
Resta o quarto motivo. Aqui, há duas ordens diferentes de fatos que penso ser necessário apresentar. A primeira, se refere ao ciclo "O Silêncio dos Intelectuais"; a segunda, à atitude da mídia. Há 20 anos, Adauto Novais organiza anualmente ciclos internacionais de conferências e debates sobre temas atuais. Sempre com um ano de antecedência, Adauto se reúne com alguns amigos para discutir e decidir o tema do ciclo. Participo desse grupo de discussão. Em abril de 2004, quando nos reunimos para decidir o ciclo de 2005, alguns membros do grupo (entre os quais, eu) preparavam-se para um colóquio, na França, cujo tema era "Fim da Política?", outros iam participar de um seminário, nos Estados Unidos, sobre o enclausuramento dos intelectuais nas universidades e centros de pesquisa, e outros iniciavam os preparativos para a comemoração do centenário de Sartre, símbolo do engajamento político dos intelectuais.
Nesse ambiente, acabamos propondo que o ciclo discutisse a figura contemporânea do intelectual e Adauto propôs como título "O Silêncio dos Intelectuais". Uma vez feitos os convites nacionais e internacionais aos conferencistas, recebidas as ementas e organizada a infra-estrutura, Adauto fez o que sempre faz: com muitos meses de antecedência, conversou com jornalistas, passou-lhes as ementas, explicou o sentido e a finalidade do ciclo.
Ou seja, no início de 2005, a imprensa tinha conhecimento do ciclo e de seu título. E eis que, de repente, não mais que de repente, durante a crise política, alguns falaram do "Silêncio dos Intelectuais", referindo-se aos intelectuais petistas! Curiosa escolha de título para uma matéria jornalística... ["O silêncio dos inocentes", reportagem da Folha em 19.jun.2005] Veio assim, sem mais nem menos, por pura inspiração. Mais curiosa ainda foi essa escolha, se se considerar que, ao longo de 2005, praticamente todos os intelectuais petistas (talvez com exceção de Antonio Candido e de mim) se manifestaram em artigos, entrevistas, programas de rádio e de televisão!!! Onde o silêncio? Como eu lhes disse, notícias são produzidas sem ou contra os fatos. E com as notícias vieram as versões e opiniões, os julgamentos sumários e as desqualificações públicas, culminando no tratamento dado ao ciclo, quando este se iniciou.
A mídia decidiu que o ciclo se referia aos intelectuais petistas, apesar de saber que fora pensado em 2004, de ler as ementas, de haver participantes que não são petistas, para nem falar dos conferencistas estrangeiros. O ciclo virou espetáculo.
Uma revista afirmou que, entre os patrocinadores (Minc, Petrobras e Sesc), estavam faltando os Correios. Uma outra afirmou que os participantes eram intelectuais do tipo "porquinho prático" (não explicou o que isso queria dizer). Um jornal colocou a notícia da primeira conferência (a minha) no caderno de política, sob a rubrica "Escândalo do Mensalão", com direito a foto etc.
A segunda ordem de fatos está diretamente relacionada comigo. Quando publiquei o artigo sobre o "caso Waldomiro", um jornalista escreveu uma coluna na qual me dirigiu todo tipo de impropérios e usou expressões e adjetivos com que me desqualificava como pessoa, mulher, escritora, professora e intelectual engajada.
Não respondi. Apenas escrevi o segundo artigo, sobre a reforma política, e dei por encerrada minha intervenção pública por meio da imprensa. A partir de então, além de não publicar artigos em jornais, decidi não dar entrevistas a jornais, rádios e televisões (dei entrevistas quando tomei posse no Conselho Nacional de Educação porque julgo que, numa República, alguém indicado para um posto público precisa prestar contas do que faz, mesmo que os meios disponíveis para isso não sejam os que escolheríamos). A seguir, veio a doença de minha mãe e, depois, a crise política como espetáculo.
No entanto, paradoxalmente, não fiquei fora da mídia: houve, por parte de jornais, revistas, rádios e televisões, solicitações diárias de entrevistas e de artigos; a matéria jornalística "O silêncio dos Intelectuais", não tendo obtido entrevista minha, citava trechos de meus antigos artigos de jornal; matérias jornalísticas sobre o PT e sobre os intelectuais petistas traziam, via de regra, uma foto minha, mesmo que nada houvesse sobre mim na notícia.
Finalmente, quando se iniciou o ciclo sobre o silêncio dos intelectuais, um jornal estampou minha foto, colocou em maiúsculas NÃO FALO (resposta que dei a um jornalista que queria uma entrevista quando da reunião dos intelectuais petistas com Tarso Genro, em São Paulo) e o colunista concluía a matéria dizendo que o silêncio dos intelectuais petistas era, na verdade, o silêncio de Marilena Chaui, o qual seria rompido com a conferência ["Ciclo expõe mal-estar e silêncio da academia", reportagem da Folha em 21/08/2005].
Resultado: jornais e revistas, com fotos minhas, não deram uma linha sequer sobre a conferência, mas pinçaram trechos dos debates, sem mencionar as perguntas nem dar por inteiro as respostas e seu contexto, transformando em discurso meu um discurso que não proferi tal como apresentado.
E entrevistaram tucanos (até as vestais da República, Álvaro Dias e Artur Virgílio!!!), pedindo opinião sobre o que decidiram dizer que eu disse! E os entrevistados opinaram!!! Num jornal do Rio de Janeiro e num de São Paulo, FHC disse uma pérola, declarando que por não entender de Espinosa, não fala nem escreve sobre ele e que eu, como não entendo de política, não deveria falar sobre o assunto. Como vocês podem notar, o princípio democrático, segundo o qual todos os cidadãos são politicamente competentes, foi jogado no lixo.
Qual é o sentido disso? Deixo de lado o fato de ser mulher, intelectual e petista (embora isso conte muitíssimo), para considerar apenas o núcleo da relação estabelecida comigo. A mídia está enviando a seguinte mensagem: "Somos onipotentes e fazemos seu silêncio falar. Portanto, fale de uma vez!" É uma ordem, uma imposição do mais forte ao mais fraco. Não é uma relação de poder e sim de força.
Vocês sabem que a diferença entre a ordem humana, a ordem física e a ordem biológica (para usar expressões de Merleau-Ponty [filósofo francês, 1908-1961]) decorre do fato de que as duas últimas são ordens de presença enquanto a primeira opera com a ausência. As leis físicas se referem às relações atuais entre coisas; as normas biológicas se referem ao comportamento adaptativo com que o organismo se relaciona com o que lhe é presente; mas a ordem humana é a do simbólico, ou seja, da capacidade para relacionar-se com o ausente.
É o mundo do trabalho, da história e da linguagem. Somos humanos porque o trabalho nega a imediateza da coisa natural, porque a consciência da temporalidade nos abre para o que não é mais (o passado) e para o que ainda não é (o futuro), e porque a linguagem, potência para presentificar o ausente, ergue-se contra nossa violência animal e o uso da força, inaugurando a relação com o outro como intersubjetividade.
Num belíssimo ensaio sobre "A Experiência Limite", Blanchot [Maurice Blanchot, escritor e crítico francês, 1907-2003] marca o lugar preciso em que emerge a violência na tortura de um ser humano. A violência não está apenas nos suplícios físicos e psíquicos a que é submetido o torturado; muito mais profundamente ela se encontra no fato horrendo de que o torturador quer forçar o torturado a lhe dar o dom mais precioso de sua condição humana: uma palavra verdadeira.
NÃO FALO.
Vocês já leram La Boétie [Étienne de la Boétie, filósofo francês, 1530-1563, amigo do filósofo Michel de Montaigne]. Sabem que a servidão voluntária é o desejo de servir os superiores para ser servido pelos inferiores. É uma teia de relações de força, que percorrem verticalmente a sociedade sob a forma do mando e da obediência. Mas vocês se lembram também do que diz La Boétie da luta contra a servidão voluntária: não é preciso tirar coisa alguma do dominador; basta não lhe dar o que ele pede. NÃO FALO.
A liberdade não é uma escolha entre vários possíveis, mas a fortaleza do ânimo para não ser determinado por forças externas e a potência interior para determinar-se a si mesmo. A liberdade, recusa da heteronomia, é autonomia. Falarei quando minha liberdade determinar que é chegada a hora a vez de falar."

Marilena Chaui

19 de set. de 2005

Tem limite?

LAYMERT GARCIA DOS SANTOS E FRANCISCO DE OLIVEIRA

Os parad oxos não param de proliferar: no poder, o Partido dos Trabalhadores paga mensalão para deputados da direita votarem leis neoliberais. O presidente reconhece que sua legenda tem caixa dois, mas não admite que alguém possa discutir ética com ele.
O PSDB pede apuração rigorosa das denúncias, mas não aceita que o esquema de Marcos Valério nasceu na era FHC. O governo segue à risca a ortodoxia capitalista, mas quer apoio dos operários, dos movimentos sociais e do povo em geral.
A elite brasileira prefere um operário a um empresário na Presidência. Lula acusa "as elites" de quererem desestabilizar o seu governo, enquanto o correspondente do "New York Times" escreve: "Se há uma conspiração no país, ela é comandada pela oposição e grandes empresários de São Paulo [e visa] manter Lula no poder, e não tirá-lo".
O maior paradoxo, porém, é o consenso de que a crise nada tem a ver com a economia, o que exige de todos um esforço "cívico" para circunscrevê-la à esfera jurídico-política e moral; de quebra, e como decorrência, impõe-se a idéia de que se trata de um desvio que precisaria ser sanado com uma "reforma política", e até mesmo com a desconstituição da Constituição! Quando na verdade a questão é o oposto: se a política hoje se reduz a uma cena grotesca -que tem como trama central a desqualificação da representação política, a desmoralização da esquerda no Brasil e, com ela, a liquidação da resistência ao neoliberalismo- é porque foi submetida aos ditames do mercado.
Não há "refundação" do PT, cassação "exemplar" de deputados ou "transparência" nos gastos de campanha que possam dar conta do recado. Em lugar do aparelhamento do Estado pelo PT, é o contrário que ocorre: o partido foi aparelhado pelo Estado, não passa de um braço deste para a realização de funções estatais. Entre as quais a primeira de todas: o controle da sociedade.

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O PT é um braço do Estado para realizar funções estatais. Entre as quais a primeira de todas: o controle da sociedade
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Não deixa de ser irônico constatar que Lula chegou "lá" pelas mãos do mesmo marqueteiro que agora contribui para destituí-lo. Sabe-se que o presidente petista optou por aprofundar a implantação da lógica neoliberal de seus antecessores; mas não se vê menção ao fato de o partido ter começado a abraçá-la ao substituir a política pelo marketing. Pois foi na estratégia de suas campanhas que o líder e o PT renderam-se ao neoliberalismo. Sempre se precisou de dinheiro para vencer eleição; em tempos neoliberais, porém, o processo exige muito dinheiro.
O problema é incontornável, torna a corrupção endêmica e se agrava porque a relação marketing-corrupção não se restringe ao campo eleitoral se pensarmos, com Deleuze, que, no capitalismo atual, a corrupção ganha uma nova potência quando o marketing se torna "o instrumento de controle social e forma a raça impudente de nossos senhores". Nesse sentido, o "timing" dos eleitores e militantes do PT está atrasado: o "escândalo" maior não reside na revelação das "mutretas" -escandalosa não é a desconstrução do PT, é a construção da vitória de Lula e de seu governo em bases neoliberais.
Parafraseando o filósofo, só existe uma verdade universal no capitalismo contemporâneo: o mercado. Por isso mesmo, o neoliberalismo considera que o Estado não deve governar para a sociedade. Nunca é demais repetir: trata-se de governar para o mercado, e não por causa dele, o que implica regular a sociedade para que ela se curve aos interesses econômicos.
É o que o presidente e o seu "staff" vinham escrupulosamente fazendo, até mesmo quando votos foram comprados para obter a aprovação da reforma da Previdência e da Lei de Biossegurança. Entretanto governar para o mercado tem um ônus que não parece ter sido bem compreendido: na medida em que a política consiste em não ter política, fica impossível servir ao mercado e, ao mesmo tempo, pretender monopolizar no plano político a intermediação de seus interesses.
Nesse sentido, o conflito Palocci/Dirceu, que alimentou a surda luta palaciana pelo poder até a eclosão do escândalo, pode ser visto como a expressão dessa incompatibilidade e sugere, aliás, o caráter anacrônico da iniciativa de aparelhar o Estado, cujo risco seria a emergência de uma instância com alguma autonomia em relação ao mercado.
A crise é um episódio de uma espécie de "golpe de Estado permanente" perpetrado pelo mercado contra as instituições republicanas e democráticas. Há já algum tempo o capitalismo vem se mostrando incompatível com a democracia. Na periferia, tal incompatibilidade reveste-se de tons dramáticos, pois a aceleração permanente da economia não se compatibiliza com instituições políticas, cuja tarefa é, precisamente, regular a economia.
Portanto, quando todos concordam em evitar a contaminação da economia pela política, estão apenas preparando a próxima crise. Os políticos e os governos parecem mariposas: voam em direção àquilo que os queima e os torna descartáveis. Vejamos em que estado está a crise: a blindagem do presidente parece urgente, quando ela não é mais necessária, pois o impeachment político já foi decretado. Faltam-lhe as formalidades jurídicas que, aliás, busca-se evitar pelas repercussões econômicas. Quem governa? A resposta está lá atrás: o mercado.



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Laymert Garcia dos Santos, sociólogo, é professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Francisco de Oliveira, economista e sociólogo, professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é coordenador científico do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP.

Frases sobre política

Todos reclamam reformas, mas ninguém quer se reformar.
Marques de Maricá, brasileiro

Quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro desperta.
Carl Jans, suíço

É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra.
Millôr Fernandes, brasileiro

Eu sou otimista, mas um otimista que carrega um guarda-chuva.
Harold Wilson, inglês

É bem barato construir castelos no ar e bem cara o sua destruição.
François Mauriac, francês

É fácil falar em nome do povo: ele não tem voz.
Carlos Drummond de Andrade, brasileiro

A política é arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações.
Júlio Camargo, brasileiro

Em política, se trai o país ou o eleitorado. Prefiro trair o eleitorado!
Charles de Gaulle, francês

A máquina política triunfa porque é uma minoria unida atuando contra uma maioria dividida.
Will Durant, americano

Quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem.
Adolf Hitler, alemão

Demagogia é a capacidade de vestir as idéias menores com as palavras maiores.
Abraham Lincoln, americano

O melhor partido não é nada senão um tipo de conspiração contra o restante da nação.
Marques de Halifax, inglês



De quatro anônimos sobre corrupção:
Todo homem tem seu preço. E tem um monte que está em promoção!
-Político profissional jamais tem medo de escuro. Tem medo da claridade.
-Mentir às pessoas para obter dinheiro é fraude. Mentir para obter votos é política.
-A livre iniciativa é privada. A calamidade é pública.



O mais escandaloso dos escândalos é que nos habituamos a eles.
Simone de Beauvoir, francesa

Em vez de dar a um político as chaves da cidade, seria melhor trocar as fechaduras.
Doug Larson, americano

Dinheiro público é como água benta: todos põem a mão.
Provérbio Italiano

Na política é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo.
Henri Beraud, francês

Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração.
James Clarke, inglês

Os vivos são e serão sempre cada vez governados pelos mais vivos.
Barão de Itararé (pseudônimo do humorista Apparicio Torelly)

Um estadista é um político que se coloca a serviço da nação. Um político é um estadista que coloca a nação a seu serviço.
George Pompidou, francês.

Democracia é quando as pessoas são livres para escolher alguém que as frustarão.
Laurence Peter, canadense

A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos.
G.B. Shaw, irlandês

Todos os males da democracia se podem curar com mais democracia.
Alfredo Emanuel Smith, americano

É verdade que existem vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados.
Hubert Humprey, norte-americano

Todos querem comer à mesa do governo, mas ninguém quer lavar os pratos.
Werner Finck, alemão

A solução do governo para um problema é usualmente tão ruim quando o problema.
M. Friedman, americano

Que governo é o melhor? Aquele que nos ensina a governar a nós mesmos!
J. Goethe, alemão

Metade dos meus homens de governo não é capaz de nada, e a outra metade é capaz de tudo.
Getúlio Vargas, brasileiro

O governo é uma máquina cara demais pelos serviços que presta.
Roberto Campos, brasileiro

O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter que prestar concurso.
Ronald Reagan, americano

É uma idéia socialista que lucrar é um vício. Eu considero que o vício verdadeiro é fazer prejuízo.
Winston Churchill, britânico

É difícil acreditar que um homem esteja dizendo a verdade quando nós mentiríamos se estivéssemos em seu lugar.
H.L. Mencken, americano

A repetição não transforma em verdade uma mentira!
Franklin Roosevelt, americano



E duas de Juscelino Kubitscheck, tão citado ultimamente pelo nosso Presidente :
1)O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.
2) Volto atrás, sim. Com o erro não há compromisso.



Finalmente:
No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim...
Fernando Sabino, brasileiro

9 de set. de 2005

O mais brasileiro dos italianos

Sergio Endrigo, l'altra faccia dello chansonnier
Il cantautore si è spento a Roma Colto, raffinato, comunista inquieto, protagonista di stagioni fondamentali della musica italiana, l'artista di «Teresa», «Canzone per te» e «Tango rosso» è sempre stato un outsider, fuori da mode e oltre le ideologie
ALDO F. COLONNA
ROMA
Sergio Endrigo si è spento ieri. Entrato in clinica per la riabilitazione motoria di una gamba, gli esami di routine avevano evidenziato una malattia allo stadio terminale che lo ha divorato in pochi mesi. Aveva compiuto 72 anni lo scorso giugno. Adesso che Endrigo se n'è andato, rimane impressa nella memoria quella figura estraniata, coricata, persa dietro chissà quali pensieri quando lo andammo a trovare in clinica per l'ultima intervista. Chissà che non pensasse a una goletta in rotta verso i mari del Sud o, meglio, verso quell'Eldorado che rappresentava per lui il Brasile. Quando lo chiamai e riemerse dalle sue astrazioni ebbi l'impressione che avesse già staccato la spina, in una forma cosciente di ideale eutanasia. Sembrò, a ripensarci bene, una delle scene iniziali de La notte di Antonioni allorché Giovanni (Mastroianni) fa visita in ospedale a un amico morente (Bernhard Wicki) e insieme blaterano sul lavoro intellettuale svolto per la rivista Paragone. Coincidenza strana, parlammo in quell'occasione anche dell'utilità delle riviste letterarie! Da una parte un uomo che intuisce il baratro che gli si è aperto davanti e si sforza di minimizzare, dall'altra un uomo alle prese con un senso di fallimento esistenziale e estraniato nonostante fosse partita da lui l'idea dell'intervista. Si schermiva, come tenesse di più alla visita dell'amico e sembrava dicesse «non parliamo di me» mentre io ero lì proprio per parlare di lui.

Ricordo una cosa, in quel frangente, che gli premeva su tutte: che parlassi della questione del plagio, che Bacalov lo aveva fregato e lui non ci stava. Il nome di Endrigo rimarrà scolpito a chiare lettere nella storia della nostra cultura recente. Buon sangue non mente, fu quasi figlio d'arte: il padre era un tenore autodidatta, davvero bravo se si esibì negli anni `20 al Dal Verme di Milano ne La bohème e in Madame Butterfly. A dieci anni, nell'osteria sotto casa dove andava a comprare il vino, l'oste lo prendeva di peso, lo metteva sul tavolo e il piccolo Sergio deliziava gli avventori cantando La donna è mobile (e cominciando a guadagnare le prime lire). Ha attraversato stagioni importanti, quella dei cantautori genovesi e milanesi, quella della Ricordi e dell'Rca, quella del Piccolo Teatro di Milano dove s'inventò la figura dello chansonnier che non proponeva semplicemente le sue canzoni ma intratteneva il pubblico, interagiva con esso, alla maniera di Yves Montand tanto per intenderci e precedendo senza saperlo la stagione più prettamente politica di Gaber.

Intrecciò rapporti con l'intellighenzia frequentando Buttitta, Ungaretti, Pasolini, Rafael Alberti e lavorando su loro proposta, frequentò Gianni Rodari al quale lo legò una fruttuosa amicizia stabilendo per suo tramite un contatto con il mondo dell'infanzia. Il legame con Bardotti, poi, fu la finestra sull'esotismo che portò al sodalizio con i brasiliani: Vinicius De Moraes, Chico Buarque De Hollanda, Toquinho. Nel 2001 vinse il Premio Tenco. Autore di almeno 250 canzoni (solo per citarne qualcuna in ordine sparso: Mani bucate, La brava gente, Io che amo solo te, Via Broletto 34, Teresa, Canzone per te, Lontano dagli occhi, Viva Maddalena), Endrigo fu in realtà artista eclettico. Nel `72 fu protagonista del film di Carlo Tuzii Tutte le domeniche mattina presentato a Venezia ma mai distribuito nelle sale; scrisse un romanzo aspro, di buon taglio, Quanto mi dai se mi sparo? sulle flatulenze dell'industria discografica e i suoi compromessi, negletto dal primo editore, oggi riproposto con buon successo da Stampa Alternativa; è noto il suo impegno ecologista col progetto Ci vuole un fiore che impegnò le scolaresche romane qualche anno fa.

Uomo di sinistra immune dalla febbre che genera sempre più spesso voltagabbana, mai ideologizzato, e animato sempre dalla maledetta voglia di capire, scrisse nel '90 Tango Rosso, lettura critica della crisi che attanagliava il Pci. Partecipò a manifestazioni nazional-popolari come Canzonissima e il Festival di Sanremo senza mai farsene condizionare e con onestà ammise di aver vinto l'edizione del '68 sull'abbrivio della tragedia che aveva travolto Tenco l'anno prima. Interprete personalissimo, calato nel suo tempo e a questo mai estraneo, sempre teso ad ancorare i suoi testi al sentimento collettivo e alle problematiche sociali, assolutamente estraneo alle mode, Endrigo si è confrontato in modo inesausto con culture dissimili e alternative e con le più disparate forme artistiche, intessendo il suo disagio con la poesia e la letteratura.

Era stata Cuba a farci sentire vicini tanti anni fa, in occasione della prima intervista che mi rilasciò nella sua casa di Mentana e che finì in un pranzo luculliano affogato da una decina di mojitos che preparava con preciso rispetto della tradizione. Amava le donne Endrigo e il loro mondo ma la moglie, che in quell'occasione viveva felice la serenità del marito, fu la donna che amò sopra tutte. Non era credente e mi spiegò una volta il suo ateismo riallacciandosi all'aforisma di Ambrose Bierce: «Credere senza prove a ciò che ci viene detto da uno che parla senza cognizione di causa di cose senza paragone».

Era un lettore indefesso, colto. Da adolescente «rubò» nella biblioteca dello zio Manzoni e Salgari; tra le sue letture si annoverano Maupassant, Ibsen, Pasolini ma Steinbeck rimane il suo preferito. Anche se non l'aveva approfondito, conosceva bene Pavese. E a questo proposito viene in mente anche un altro ricordo: il suo pappagallo carioca con tanto di certificato anagrafico (40 anni!) affisso al muro che ci rifà il verso mentre parliamo di poker, di pasta e fagioli e di Cesare Pavese, appunto.

Malgrado avesse doppiato la boa dei settanta, malgrado questo, è difficile accettare che se ne sia andato quando aveva ancora la testa piena di progetti e gli occhi pieni di oceano.

Diceva di volersi trasferire in Brasile e finire lì i suoi giorni. E adesso, siccome poi alla fine di tante parole uno deve pure fare i conti con il proprio stupore, conviverci in qualche maniera, io mi sono inventato che Sergio ci abbia giocato un tiro mancino. Mi pare già di vederlo: ha indossato una maglietta a striscie orizzontali bianche e blu, s'è messo la bandana, il sigaro ai bordi della bocca e, carezzato dalla brezza marina, è in attesa di salpare appoggiato al boma. Perché sì, ne sono certo, si è imbarcato sulle navi di Cortez per andare a vedere se nell'altipiano di Tecnochtitlàn si fanno davvero sacrifici umani.

2 de set. de 2005

Taubaté enterra sua "Velhinha"

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Uma cerimônia simbólica realizada na tarde de anteontem em Taubaté (130 km de São Paulo), no Vale do Paraíba, marcou o enterro da Velhinha de Taubaté, personagem criada pelo escritor Luis Fernando Verissimo que entrou para o folclore político nacional por representar a crença na palavra de todos os políticos e governos brasileiros.
Verissimo decretou a morte da personagem em sua coluna no jornal "O Globo", na semana passada. De acordo com o escritor, a Velhinha de Taubaté morreu sentada em frente à televisão, de causa desconhecida -uma referência à profusão de denúncias contra o governo federal e o PT noticiadas na TV.
O enterro simbólico da personagem foi organizado pelo vereador Rodson Lima (PSC), de Taubaté, e levou ao cemitério do Belém, na cidade, cerca de 30 pessoas, a maioria representantes do PSTU de São José dos Campos. Um caixão com uma bandeira do Brasil em cima foi carregado ao longo de um pequeno cortejo.
A cerimônia serviu de plataforma para os protestos dos militantes do PSTU, que levaram para o local bonecos com o rosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do PT José Genoino em roupas de presidiários, além de malas e cuecas com dinheiro -em referência à denúncia de que o suposto "mensalão" seria carregado em malas; e ao petista preso com US$ 100 mil na cueca.
Ao final da cerimônia, uma moção de pesar pela morte da personagem, de autoria de Lima e aprovada esta semana pela Câmara Municipal de Taubaté, foi lida pelo vereador.

1 de set. de 2005

Velhinha tinha conta no exterior

Luiz Fernando Veríssimo, 01/09/2005



"Prosseguem as investigações sobre a morte da Velhinha de Taubaté, que ficou conhecida nacionalmente por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O inquérito está sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dada a repercussão do caso.
Um promotor sai de cinco em cinco minutos da sala em que está sendo interrogado o gato da Velhinha, o Zé, para informar à imprensa o que se passa lá dentro, embora o gato tenha, até agora, dito muito pouco. “Miau”, basicamente.
Houve um princípio de tumulto entre repórteres quando uma equipe da televisão, gravando clandestinamente no interior da casa da Velhinha, localizou um pedaço de papel com números e o que parecia ser a palavra “off-shore” em letra tremida, o que indicaria que a Velhinha tinha uma conta no exterior, onde receberia para acreditar no governo.
Depois se revelou que eram números para jogar na Sena, que a Velhinha sempre acreditava que ia ganhar, e que a palavra escrita era “oxalá”. Mas alguém ficou com o papel e é possível que a notícia “Velhinha tinha conta no exterior” apareça em alguma manchete nos próximos dias para atrair a atenção, mesmo que o texto diga outra coisa. Sabe como é a imprensa.
Todas as CPIs em andamento no Congresso Nacional disputam a prioridade em convocar o Zé para depor em Brasília, o que tem acirrado o conflito entre elas, que muitos temem possa acabar numa guerra aberta com congressista brigando com congressista pelos corredores e todos se juntando para pegar o ACM Neto.
Só o gato poderia contar o que realmente aconteceu, na improvável hipótese de, ao contrário do que fizeram tantos outros nas CPIs, começar a falar. Mas pode-se deduzir o que levou a Velhinha a morrer — ou se matar com veneno no chá. Ela nunca se recuperou totalmente do choque da notícia da compra de votos para reeleger o Fernando Henrique, seu ídolo na ocasião, apesar de depois acreditar em todos os desmentidos.
Debilitada, sofreu outro baque com as denúncias contra o Palocci, seu ídolo atual, e outro baque quando soube que nem no Ministério Público se podia confiar. Foi demais para a Velhinha.
O curioso é que as alegres multidões que iam até a sua casa na esperança de ver o fenômeno, um brasileiro que ainda acreditava, estão sendo substituídas por tristes romeiros que visitam o santuário improvisado na frente da sua casa, em Taubaté, na esperança de recuperar a fé.

A Velhinha pode muito bem se transformar em milagreira depois de morta. As pessoas querem acreditar, pelo menos, em quem acreditou um dia."

27 de ago. de 2005

Por que Veríssimo matou a Velhinha de Taubaté

De Ubiratan Brasil em O Estado de S. Paulo, 27/08/2005

"A descrença na política que hoje domina a sociedade brasileira motivou o escritor e colunista do Estado Luis Fernando Verissimo a anunciar, em crônica publicada na quinta-feira, a morte da Velhinha de Taubaté, um dos seus mais conhecidos personagens. "Ela surgiu durante outro período de pouca crença do povo no governo, o regime militar, e agora não suportou o que está acontecendo", disse Verissimo, durante o último dia da 11.ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.

A Velhinha de Taubaté tornou-se uma celebridade nacional por ser a última pessoa do Brasil que ainda acreditava no governo.

Verissimo conta que precisava revelar sua indignação com as denúncia de corrupção que cercam o governo Lula e, para isso, preferiu uma forma mais lúdica para mostrar que agora ninguém acredita em nada. Mas não nega que a personagem ainda poderá voltar. "Com os avanços da medicina atual, ela pode estar mantida por aparelhos ou até pode ser clonada", brincou.
O escritor pretendeu, com isso, demonstrar como essa é uma das maiores crises já vividas no País. "Nem o ministro Palocci merece mais confiança", comentou. "Não se trata apenas de uma ameaça à existência de um partido, o PT, mas comprova a existência de uma oposição, movida a ideologia, que pretende acabar totalmente com a esquerda no Brasil."
Verissimo concordou com Chico Buarque de Hollanda, que, durante sua passagem por Passo Fundo, comentou que o País está com a alma ferida. "Os acontecimentos são tão impressionantes que ainda não temos a distância necessária para avaliar seus efeitos", disse. "Nossa tarefa agora é descobrir o que está nos acontecendo. Na micro-história, trata-se da derrocada de um partido. Mas, na grande história, parece que vivemos uma tentativa de repetir algo semelhante ao que aconteceu a João Goulart, governante de esquerda que acabou derrubado da Presidência."

Velhinha de Taubaté (1915-2005)

Zero Hora, 25/08/2005
Morreu no último dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista conhecida como "a Velhinha de Taubaté", que se tornou uma celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O fenômeno, que veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas do Estado. Além de estandes de tiro ao alvo e de venda de estatuetas da Velhinha e de uma roda-gigante, ergueram-se tendas para vender caldo de cana e pamonha em volta da pequena casa de madeira onde a Velhinha morava sozinha com seu gato, e não era raro a própria Velhinha sair de casa e oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam em ônibus de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu autógrafo. A Velhinha sempre acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de Getúlio Vargas, inclusive em todos os colaboradores dos governos militares, "até", como costumavam dizer muitos na época, com espanto, "no Delfim Netto!". O presidente Sarney telefonava freqüentemente para Taubaté para saber se a Velhinha, pelo menos, ainda acreditava nele, e Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o deixasse só.

As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de congressistas em Brasília, embora a Velhinha acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara. Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava que como todos estavam dizendo a verdade a crise acabaria logo, mas ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença. A Velhinha acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio.

O ambiente no parque de diversões em torno da casa da Velhinha de Taubaté é de grande consternação.

10 de ago. de 2005

Era uma vez PT

O PT vêm, há muito tempo, deixando pelo caminho gente como César Benjamin. E não se enganem, não, Tarso = José Genoíno = Delúbio Soares = Waldomiro Diniz = José Dirceu > e todos filhos de Lula!

Folha de São Paulo - 07/08/2005
INTELECTUAIS QUE PARTICIPARAM DA CONSTRUÇÃO DO PARTIDO AVALIAM SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA; PARA CÉSAR BENJAMIN, O GRUPO DO PRESIDENTE MONTOU UM ESQUEMA CENTRALIZADOR, "BASEADO NO CRIME", AINDA NA DÉCADA DE 90; PAUL SINGER DEFENDE QUE A SIGLA É DEMOCRÁTICA E DEVE SER CAPAZ DE REAVIVAR O DEBATE INTERNO E CORRIGIR SEUS RUMOS

O MITO DO PARAÍSO PERDIDO

CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Até mesmo a fraude, para que seja eficaz, tem de trabalhar com a esperança, perversamente estimulada. (...) A esperança fraudulenta é uma das maiores malfeitoras da humanidade."
Ernst Bloch, em "O Princípio Esperança".
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Lula sempre compartilhou da intimidade do grupo e foi o principal beneficiário de suas ações
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Com o descalabro do governo Lula, multiplicam-se as pessoas que relembram, saudosas, o velho PT e pregam um retorno ao partido que supostamente existia antes de chegar ao poder. Mais uma vez reaparece a idéia, tão recorrente, de que houve um estado original, mais ou menos puro, que deve ser recuperado. Em outros contextos, quem ainda não ouviu histórias sobre a existência de um homem original, uma sociedade original, uma língua original? Procura-se agora um partido original. São conceitos que pertencem ao universo do pensamento mítico. Na vida real, não há começos absolutos, descontaminados de decadências posteriores. Não há pontos de partida e de chegada. Há processos. Os trabalhos etnológicos de Bronislaw Malinowski [antropólogo inglês nascido na Polônia, 1884-1942] foram decisivos para estabelecer isso.
O caso do PT, por ser tão recente, é ainda mais claro. Os malfeitos que têm vindo à luz não começaram agora nem decorrem de um equívoco individual. Representam apenas a transferência, para a esfera do governo federal, de práticas iniciadas, com certeza, nos primeiros anos da década de 1990, talvez antes, e nunca descontinuadas. As impressões digitais do mesmo grupo aparecem na gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na organização das finanças da campanha presidencial de 1994, na gestão de algumas prefeituras, como a de Santo André, na busca de controle de fundos de pensão, para citar apenas as situações mais notórias.
Sobre tudo isso, há anos, correm histórias escabrosas, pois um esquema tão amplo e longevo nunca permanece completamente invisível. Ao aceitar conviver com isso, ao mesmo tempo mantendo a bandeira da ética para consumo externo, o PT ficou exposto à ação corrosiva da hipocrisia, que o destruiu.

Duendes
Lula sempre compartilhou da intimidade do grupo e foi o principal beneficiário de suas ações. Garante, porém, que nada sabia. Respeito quem acredita nisso, assim como respeito quem acredita em duendes. Seja como for, pelo número de conexões já descobertas e de instituições envolvidas, estatais e privadas, parece claro que estava em curso, em seu governo, a montagem de uma rede de corrupção poucas vezes igualada.
Uma rede sistêmica, planejada, coletivamente organizada. Dos Correios à Petrobras, das empreiteiras com créditos a receber às verbas de publicidade, do Banco do Brasil aos fundos de pensão, nada estava, em princípio, fora de seu raio de ação. Um esquema desse tipo sempre precisa de forte apoio em altos escalões de governo, que ordenam os pagamentos e fazem as nomeações. Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Waldomiro Diniz e outros "operadores" nunca tiveram cargos que lhes permitissem agir sozinhos de forma eficaz.
Novos passos estavam por vir. Depois da reforma sindical, já anunciada, o grupo poderia dar o grande salto, com a transformação das centrais sindicais em entidades muito mais centralizadoras, financeiramente poderosas, aptas a gerenciar bancos, planos de saúde privados e fundos de pensão. O grupo deixaria para trás a fase de "acumulação primitiva", baseada no crime, e se estabeleceria dentro da lei, por meio, principalmente, do sindicalismo de negócios. O trânsito em direção a uma atividade empresarial regular, muito rentável, é o sonho de toda máfia. O predomínio desse projeto ajuda a explicar por que foi abandonada tão fácil e completamente qualquer veleidade de fazer um governo republicano e transformador. Os objetivos, há muito tempo, eram outros.
Estamos diante de um fenômeno novo em nossa história. Ele tem várias dimensões. Uma delas é a introdução, na esquerda brasileira, em larga escala, daquilo que Marx chamava, em outro contexto, o "poder dissolvente do dinheiro". As sociedades antigas, baseadas na tradição, na hierarquia e na religião, desconfiavam de banqueiros e de grandes comerciantes e não raro os reprimiam, porque percebiam que o fortalecimento da esfera do dinheiro desagregaria tudo o mais. Foi o que finalmente aconteceu no mundo moderno, para o bem e para o mal, com a completa mercantilização da vida social. Processo semelhante ocorreu na esquerda brasileira nos 15 últimos anos.
A hegemonia obtida pela Articulação, no PT e na CUT, não pode ser desassociada do uso sistemático dessa nova e poderosa arma, até então desconhecida entre nós, a arma do dinheiro. Ela acabou destruindo sonhos coletivos. Tornou desnecessária a batalha de idéias. Transformou a militância em um estorvo, diante da docilidade dos cabos eleitorais remunerados. E terminou por engolir os seus próprios executores. Seus projetos de origem, que continham alguma política, também foram dissolvidos pelo mesmo poder.
A rede de cumplicidades que o grupo reuniu em torno de si, com variados graus de engajamento e responsabilidade, contamina tão profundamente o PT que uma reforma séria do partido tornou-se inviável. Cumpriu-se minha profecia, feita da tribuna, cara a cara com os 600 delegados no encontro nacional de 1995, o último do qual participei: ao aceitarmos financiamentos de bancos e empreiteiras, feitos à revelia das instâncias partidárias, estávamos diante do ovo da serpente que iria nos engolir.
Dessa responsabilidade histórica, muitíssimo grave, Lula não escapará. Sua liderança corroeu, por dentro, parte expressiva da esquerda. Não deixará nenhum legado político, teórico ou moral.
Lula optou pela esquizofrenia: corta todas as verbas dos ministérios, para fazer o alucinado superávit exigido pelo capital financeiro, e anuncia que nenhum governo realiza tanto quanto o seu; demite Olívio Dutra para nomear um protegido de Severino Cavalcanti e diz horas depois que a elite jamais conseguirá pressioná-lo; seu filho recebe R$ 5 milhões de uma concessionária de serviços públicos, ele nomeia um advogado da mesma empresa desembargador do tribunal onde ela enfrenta suas maiores causas e isso não o impede de anunciar-se como o mais ético dos brasileiros; depois de dois anos e meio na chefia do governo, continua a atribuir as dificuldades a uma herança maldita que ele só fez agravar. Abdicou de uma coerência mínima entre o que faz e o que diz.
Aposta na desinformação do povo e numa identificação pré-política, irracional, com ele, porque um dia, há muito tempo, foi pobre. Está se tornando um "espetáculo excessivo", para usar a expressão de Roland Barthes, referindo-se às lutas de catch. Ao contrário do que normalmente se diz, seu governo é mais conservador na política que na economia. Lula foi a esperança fraudulenta a que Ernst Bloch se referia.

Perto do fim
Há mais de dez anos o PT está morrendo, mas esse processo não podia completar-se antes de o "Lula-lá" se realizar. A agonia se prolongou e o partido apodreceu. Tornou-se uma experiência efêmera, e fundamentalmente equivocada, na vida brasileira. Pretendendo ser o novo absoluto, rompeu a memória das lutas populares. Recusou a teoria. Fechou os olhos para a diversidade do Brasil. Afrouxou os princípios, exacerbou a arrogância. Aceitou a disseminação de um enorme conjunto de antivalores, formando a mais desqualificada geração de quadros e líderes de toda a nossa história.
Perdoem-me os inúmeros petistas honestos, mas não é hora de meias palavras. A imensa maioria deles foi cúmplice da desventura, pelo menos por omissão.
Felizmente, o ciclo do PT está prestes a se encerrar. O partido continuará a existir como mais uma legenda pragmática, destituída de utopia, na qual se disputam eleições e se constroem carreiras. Só isso. Por mais dolorosa que seja a crise, ela permite antever o fim do pesadelo de uma esquerda sem fibra, honra e caráter, incapaz de apresentar à sociedade brasileira um projeto histórico transformador.
Muitos temem que a direita se fortaleça. Estão certos, mas só no curto prazo. Paradoxalmente, a crise do governo Lula poderá vir a ser a crise do neoliberalismo no Brasil, propiciando, finalmente, o aparecimento de uma proposta real de mudanças, cujo contorno continua obscuro.
Não creio, porém, que a sociedade aceite passivamente o retorno dos velhos esquemas, já conhecidos, que afundaram o país no atoleiro. Ela demandará um projeto novo. Nossa grandeza será medida pela capacidade que tivermos para construí-lo. De esquerda, de preferência. Com a esquerda, se possível. Sem a esquerda, se necessário, pois a crise brasileira é grave demais. Há muito sofrimento humano em jogo. No que me diz respeito, o compromisso com o povo e a nação está acima das seitas.
Nossa consigna deve ser, agora, o "motto" do último movimento do opus 35 de Beethoven: "Muss es sein? Es muss sein!" -Deve ser? Deve ser!


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César Benjamin foi fundador do partido e dirigente até 1995. É autor de "A Opção Brasileira" e "Bom Combate" (ambos pela Contraponto) e integra a coordenação nacional do Movimento Consulta Popular.