29 de dez. de 2006

As pérolas dos porcos

A frase do ano de 2006: "Defendi o projeto-mãe, infelizmente ele foi derrotado, sem ele não tem por que votar os projetos filhos. Se a mãe morreu, não tem como os filhos serem sustentados." Uma filosofada de Cesar Busatto.
A paulista Yeda Crusius, eleita pela metade de retardados que vivem no RS, nem começou seu governo, e já sai derrotada. Durante toda a campanha negou que aumentaria impostos. Como todo tucano, bico grande e pouco cérebro, tentou empurrar um pacotaço goela abaixo dos retardados e dos não lhe deram votos. Com o beneplácito dos ex-patrões da RBS, Yeda foi poupada pela mídia que volta a defender o "cavalo do comissário".
Cesar Busatto, secretário municipal da prefeitura de Porto Alegre licenciou-se do cargo e assumiu o cargo de deputado estadual para vender o "mico Yeda". Desde cedo, o papagaio de pirata ocupou espaços nos veículos da RBS para defender o indefensável.Para encerrar o episódio e o ano com chave de ouro, soltou a pérola que filho sem mãe não merece viver. Por aí se vê o retrato da político social da Prefeitura de Porto Alegre na gestão Fogaça, como também aquela do governador Rigotto, que se encerra, e anuncia a visão social do governo Yeda que se inicia.
Terminamos o ano menos mal que poderia ter sido, mas que pode ser melhor dos quatro que virão.
Deus nos salve, já que os gaúchos temos um pendor por governadores medíocres: Antônio Britto, Germano Rigotto e agora Yeda Crusius. E depois não sabem porque o Rio Grande vai mal de mal a pior. Tirando o oásis do governo Olívio, quando o RS cresceu mais que média nacional, e ainda sobrou para criar a UERGS, todos os demais foram desastrosos para os gaúchos, menos para a RBS, que vem emplacando seus ex-funcionários. Vou pedir exílio no Nordeste!

24 de dez. de 2006

Eles não sabiam?

Pimenta Neves, diretor de redação do Estadão praticava o moderno "assédio sexual". Exacerbou. Matou a ex-pretendente. Ninguém do Estadão sabia, não é mesmo Mesquita?
José Messias Xavier foi repórter da Folha e do Globo. A Polícia Federal do Lula descobriu que ele era gilete, cortava dos dois lados: publicando matérias com a qual tirava o ganha-pão, e também a fornecia a quadrilhas. O envolvimento do jornalista com o crime organizado e o desorganizado passou desapercebido pelos seus chefes, mesmo aqueles mais próximos, que lhe ditavam a pauta. Também os Frias e os Marinhos não sabiam de nada?
Por que só o Lula precisa saber tudo o que seus subordinados fazem e os Mesquistas, os Frias e os Marinho não?

30 de nov. de 2006

Mídia Procustiana

O escândalo Ustra e o papel da mídia
Argemiro Ferreira, na Tribuna da Imprensa

Ainda humilhada por sua própria derrota nas eleições de outubro, a grande mídia do país - do império Globo no Rio à "Folha de S.Paulo", passando pelo Estadão, "Veja", "Jornal do Brasil" e veículos regionais de menor penetração nacional - obstina-se na pândega "cruzada ética" para derrubar o presidente que o Brasil consagrou nas urnas. Com isso, ignora deliberadamente os temas relevantes.

Não foi tal mídia corporativa e sim uma família duramente golpeada pela prática da tortura no regime militar que tomou a iniciativa de fazer alguma coisa capaz de reviver a discussão desse tema - um processo para o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI em São Paulo, ser declarado torturador, ainda que não pague com pena de prisão pelos crimes que cometeu.

Por que essa mídia iria se deixar sensibilizar pelo assunto? Ela tem suas próprias razões para ficar só no velho denuncismo lacerdista como arma de pressão. Até porque a ditadura militar foi tão generosa com ela que cada um daqueles veículos - "O Globo", Rede Globo, "Veja", Estadão, "Folha", Bloch, etc. - pôde construir edifícios portentosos, nos quais instalou suas sedes novas.
A cumplicidade de cada um

As relações promíscuas das organizações de mídia com a ditadura mais sanguinária que o Brasil conheceu estão fartamente documentadas - como também a maneira submissa com que cada veículo acomodava-se ao papel de divulgador leviano de "press releases" mentirosos para maquiar a face cruel do regime militar, vendido ao mundo como "milagre" e democracia onde imperava a liberdade de imprensa.

A frase "Ninguém segura este País", depois lema da ditadura, foi lançada numa manchete de "O Globo". A Rede Globo festejava a ditadura regularmente nas patriotadas semanais de um certo Amaral Neto. O dedo-duro Cláudio Marques, que fez a campanha contra a TV Cultura de São Paulo, reclamando a prisão de Vladimir Herzog e outros jornalistas, publicava coluna na "Folha".

O Estadão, apesar de censurado algum tempo, negou-se a apoiar o recurso do semanário "Opinião" ao Supremo, contra a censura (alegou já ter a promessa do ditador de levantá-la em seus veículos). E para desencadear a repressão contra o Partido Comunista, a ditadura primeiro tomou a iniciativa de "plantar" na primeira página do "Jornal do Brasil" o texto sobre o espião Adauto Santos.

Faço essas observações para melhor ser entendido o fato de que a reabertura do debate sobre a tortura, com o processo contra Brilhante Ustra é subestimada na grande mídia enquanto websites como "Conversa Afiada", de Paulo Henrique Amorim, perceberam a relevância da questão. O Brasil, como destacou Amorim, é o único país do continente que não está revendo a Lei da Anistia.
Eterno segredo para os arquivos?

Como todo mundo sabe, nossa lei de anistia e as dos outros vieram em plena ditadura militar. A intenção embutida era garantir a impunidade dos torturadores. Na ocasião, organizações da sociedade civil estavam atentas, mas elas tentavam prioritariamente, por razões compreensíveis, restabelecer o estado de direito. No desdobramento tais leis foram revistas - e torturadores expostos e às vezes punidos. Mas não no Brasil.

Amorim trouxe há dias a palavra da professora Flávia Piovesan, especialista em direitos humanos e doutora em Direito Constitucional na PUC de São Paulo. Piovesan acredita que a Lei de Anistia de 1979 estabeleceu regime de concessões recíprocas que aviltou os direitos humanos: pelos parâmetros internacionais, que o Brasil respeita, em caso de tortura e violação grave o Estado assume o dever jurídico de "investigar, processar, punir e reparar essas violações".

Além daquela lei (a 6683/79), foi promulgada em 1995 a que reconheceu como mortos os desaparecidos políticos, estabelecendo indenização aos familiares. "É o que temos enquanto legado", diz a professora Piovesan. Outra lei, de 2005, trata do acesso aos documentos públicos, mantendo "quase em eterno segredo" os arquivos da ditadura.

Os três marcos jurídicos, para ela, estão aquém do que reclama a Constituição, que acolhe a ótica dos direitos humanos e realça sua importância. "Prevê, por exemplo, que os tratados é que mantêm a hierarquia constitucional, caracterizando a tortura como crime. É a primeira vez que isso ocorre na história", explicou a professora de Direito Constitucional
Exemplos para o Brasil seguir

As leis de anistia foram revistas no Chile (onde estão presos, entre outros, o ex-diretor da DINA, coronel Manuel Contreras), na Argentina (onde ex-ditadores são volta e meia recolhidos à prisão), no Peru (onde o ex-ditador Fujimori não ousa retornar porque corre o risco de pagar por seus crimes), e no Uruguai (onde agora ex-ditador Juan Maria Bordaberry passa por maus pedaços).

O sanguinário Augusto Pinochet - que, como outros, tem milhões de dólares escondidos em bancos espalhados pelo mundo - só escapou de castigo pior porque seus advogados alegam estar com a saúde muito abalada. E na Argentina a Corte Suprema deu outro exemplo, ao invalidar leis que impediam o julgamento dos torturadores do regime militar.

Enquanto isso, o Brasil fica apenas no esforço em favor da ação declaratória contra o coronel Ustra, sem prisão ou indenização para as vítimas. A esta altura, o tema deveria estar sendo discutido diariamente na grande mídia - mas esta, além de cúmplice da ditadura, está ocupada demais na "cruzada" ridícula contra Lula, que ela teima em castigar pela ousadia de desmentí-la e ganhar a eleição.

21 de nov. de 2006

Falácias da carga tributária

José Paulo Kupfer
21.11.2006-A economia se presta a manipulações dos mais variados quilates, menos pela dificuldade de entender seus fenômenos do que pelo fato de que muitos de seus conceitos não são intuitivos. A inflação, por exemplo, da qual os brasileiros de todos os níveis sociais são grandes especialistas, é um deles. A intuição diz que preço alto e inflação são sinônimos. Mas inflação não é preço alto. É alta (persistente) de preço.

Se, num mês, os preços sobem 100% e no mês seguinte ficam onde foram parar no mês anterior, a inflação mensal, no mês observado, é zero. Quando o Plano Real começou, em março de 1994, com a URV (unidade real de valor, lembram?), os preços foram estimulados a disparar. Quando veio o fim da URV e o início do real - resultado da conversão do dinheiro da época, o cruzeiro real (alguém lembra?), pela cotação do dólar de 30 de junho do mesmo ano -, os preços passaram a subir muito mais devagar, e a inflação despencou de 5.000% para 5%, de junho para julho daquele ano, num “passe de mágica”.

O mesmo problema ocorre com o conceito de carga tributária. Este também não é intuitivo, e o fato de não sê-lo faz a festa dos ignorantes ou, mais grave, dos de má-fé. Começa com a ocultação do fato de que, no Brasil, toda e qualquer contribuição compulsória a fundos públicos, deixa de considerar, como em outros países, se a contribuição pressupõe ou não retorno individual do dinheiro recolhido.

Você sabia que, no Brasil, diferentemente da maioria dos outros países, as contribuições para a previdência pública entram no saco de gatos da carga tributária? E que, se fosse para comparar corretamente, não considerando as contribuições previdenciárias, a carga tributária no Brasil seria de 30% do PIB – não de 38%, como se divulga? Ainda seria alta, mas não tão distante dos outros.

Carga tributária alta parece, mas nem sempre é sinônimo de imposto alto e muito menos de alta de impostos. Carga tributária não é alguma coisa em si mesma. Depende não só do volume de arrecadação de impostos, taxas, contribuições e tributos, mas também do Produto Interno Bruto (PIB).

Como se trata de uma relação entre o volume total em reais arrecadado e o PIB total também em reais, dependendo do comportamento de um e de outro, tudo pode acontecer com a carga tributária. Reduzida a sua expressão mais simples, a carga tributária é uma fração, definida, portanto, de acordo com o comportamento do numerador e do denominador.

Muito simples, mas também muito fácil também de distorcer e atender a interesses nem sempre claros. Até a maneira de apresentar a carga tributária não escapa da confusão. Quando se diz que a carga é de 38% do PIB, não são poucos os que se deixam levar pela idéia de que, de tudo o que a sociedade produz, quase metade vai para o ralo do governo.

Sem discordar de que muito do que é recolhido em impostos pelo governo vai pelo ralo – ou pior, acaba em bolsos indevidos –, a verdade não é nada disso. O que se deveria entender é que o total de impostos, taxas, contribuições e tributos arrecadados no ano soma cerca de R$ 750 bilhões, o equivalente a 38% do PIB, que anda em torno de R$ 2 trilhões anuais e representa o total, em termos líquidos, do que é produzido anualmente pelos brasileiros.

Dessas confusões conceituais todas decorre o singelo fato de que a carga tributária pode cair com aumentos de impostos ou pode aumentar quando se dá uma redução de impostos. Basta que, no primeiro caso, o avanço do PIB seja proporcionalmente maior do que o do volume de impostos. E que, no segundo caso, o PIB avance menos do que o corte de impostos. Só isso é suficiente para perceber o quanto de falácia envolve a discussão da carga tributária.

Entre nós, em razão das inigualáveis distorções do sistema tributário, com o perdão da heresia, aumentos de carga tributária nem sempre serão ruins e cortes nem sempre serão positivos. Duvida?

Costuma-se dizer que, no Brasil, para cada real arrecadado um outro real é sonegado. É possível que não seja exatamente essa a proporção, mas dificilmente alguém duvidará de que sonegar impostos é um dos esportes nacionais mais praticados. Vamos então supor que essa relação de um para um seja verdadeira e que, por algum milagre, tudo o que, pela lei, de fato deve ser recolhido em impostos, taxas, tributos e contribuições venha a pingar nos cofres públicos de um dia para o outro.

O que aconteceria? Obviamente, a carga tributária dobraria, alcançando monumentais 80% do PIB. Mas isso não significaria um grama de aumento de carga para os que já recolhem e, simplesmente, implodiria o déficit público, com todas as vantagens do equilíbrio fiscal.

Agora, imagine um corte drástico e linear nos impostos diretos e progressivos sobre a renda individual. Isso, num primeiro momento, aliviaria a vida de todos os que ganham o suficiente para não serem isentos de recolhimento do imposto de renda. Mas, é lógico, favoreceria proporcionalmente mais quem ganha mais. O resultado seria um colapso econômico, com estímulo à produção de bens supérfluos e a falência definitiva de serviços públicos tipo segurança, controle ambiental, pesquisas etc.

Esses poucos exemplos devem ser suficientes para que se entenda que as questões tributárias não são triviais. Não deveriam, portanto, serem tratadas do modo trivial como são. O problema menos grave é que, nessa área conflagrada da economia brasileira, não faltam interpretações rústicas e levianas. O mais grave é que quase todas, intencionalmente ou não, acabam escamoteando interesses conservadores e resistentes à redução consistente das desigualdades e iniqüidades sociais de que o Brasil é um vergonhoso campeão mundial.



pkupfer@nominimo.ibest.com.br

18 de out. de 2006

Mídia Procustiana

Mandei um e-mail ao Clovis Rossi da Folha de São Paulo e ainda não obtive resposta:
Caro Clovis Rossi
há muito venho observando em seus artigos opiniões que
beiram a infantilidade porque buscam apenas ofender, senão
ao governo Lula, pelo menos aos leitores da Folha de São
Paulo. Ao adotar a parcialidade indisfarçada, trata-me, seu
leitor, como se fosse um imbecil. Como se eu não soubesse
nada, não lesse nada, não tivesse qualquer discernimento.
Viraste um parsonagem procustiano
( http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=procustiano&cod=154620).

Ainda não li nenhuma palavra sua, senão de indignação, pelo
menos de simples registro a respeito do comportamento da
mídia no episódio da compra do dossiê Serra/Barjas Negri. A
Carta Capital desvela que as vestais da Folha/Estadão e
Globo estão mancomunados numa grande suruba. Isto também é
bandistimo. Moralista, pronto sempre em apontar as
imbecilidades do Governo Lula, tens coragem de apontar as
próprias e da empresa em que trabalhas ?!
É isso que chamas de liberdade de imprensa?

Gilmar Crestani
crestani@uol.com.br

29 de set. de 2006

Frias: da tortura ao golpe midiático


Frias: da tortura ao golpe midiático

Altamiro Borges

"Entre o Otávio [Frias Filho, diretor da Folha de S.Paulo] e o Roberto [Civita, diretor da revista Veja] é um páreo duro para ver quem é o mais imbecil". Mino Carta, editor da revista Carta Capital.

Otávio Frias Filho, também chamado nos banquetes dos ricaços de "Otavinho", está excitadíssimo com a eclosão da nova crise política no Brasil. Em recente artigo, o diretor de redação da Folha de S.Paulo e um dos herdeiros da Famiglia Frias, deixou de lado qualquer imparcialidade para xingar Lula e apostar todas as suas fichas na possibilidade do segundo turno das eleições. Metido a cientista político, ele teorizou que a recente "guerra de dossiês" comprovaria que "a cúpula petista instalou uma máfia sindical-partidária no aparelho do Estado. A função dessa máfia é garantir condições para que Lula e seu grupo se eternizem no poder... O que caracteriza os integrantes dessa máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o chefão".

Já sinalizando qual será postura das elites na hipótese da reeleição de Lula, o pseudo-jornalista afirma que o badalado "dossiêgate" demonstrou que, "sob o beneplácito de Lula, a máfia continua a agir de modo cada vez mais desabrido. A impunidade gerou a desfaçatez... O favoritismo eleitoral de Lula, turbinado pelas políticas de transferência de renda, aumentou ainda mais a sensação de impunidade. E espicaçou o atrevimento, a ponto da facção mafiosa correr o risco de prejudicar a reeleição do chefe na tentativa de reverter a vantagem dos tucanos na eleição paulista... Se houver segundo mandato, haverá muito trabalho para o Ministério Público, para o Judiciário e para o que restar de imprensa independente neste país".

É muita petulância deste executivo yuppie! Quem é ele para falar em "máfia no aparelho do Estado", para condenar a "sensação de impunidade" ou para se arrogar em patrono da "imprensa independente"? Todo e qualquer o jornalista com um mínimo de imparcialidade e dignidade, e não qualquer baba-ovo de plantão, sabe que a Famiglia Frias cresceu incrustada no poder, como uma máfia servil sob as benesses do regime militar. Sabe que esta empresa não foi condenada – ou mesmo se desculpou – por emprestar sua estrutura para a prisão e tortura de presos políticos. Sabe ainda que não existe vestígio de jornalismo independente neste grupo, manipulado e controlado sob a mão de ferro dos Frias – do velho patrono aos herdeiros.

Veículo da oligarquia rural

A Folha nasceu em 1921 sob o formato de um jornal vespertino, a Folha da Noite. Os seus fundadores, Pedro Cunha e Olival Costa, eram jornalistas do Estado de S.Paulo e, durante algum tempo, o jornal foi impresso e distribuído por esta empresa. O próprio Júlio de Mesquita Filho, dono do oligárquico Estadão, redigiu o primeiro editorial da Folha da Noite. No início, o jornal manifestou simpatia pelo movimento tenentista e encampou algumas bandeiras progressistas, como a do voto secreto e o direito de férias. Mas, como registra Maurício Puls, numa cronologia bajuladora deste veículo no seu octogésimo aniversário, essa postura durou pouco tempo. Rapidamente, o jornal virou um instrumento da direita brasileira.

Em 1929, com a saída de Pedro Cunha, a linha editorial sofreu uma inflexão e o jornal passou a apoiar a ostensivamente a reacionária oligarquia do café de São Paulo. "Os líderes da Aliança Liberal foram alvos de seguidos ataques. O resultado dessa tomada de posição contra Getúlio Vargas foi a destruição do jornal. Na noite de 24 de outubro de 1930, a multidão que comemorava a deposição do presidente em São Paulo destruiu as instalações da Folha. As máquinas de escrever e os móveis foram jogados na rua e incendiados. Olival Costa assistiu ao empastelamento da esquina. Quando a multidão deixou o prédio, pediu licença aos soldados para entrar no prédio. Lá viu um homem vestindo seu sobretudo. Ao observar que aquela roupa era sua, recebeu a seguinte resposta: 'Foi sua, amigo. Hoje, tudo isto é nosso'".

A Folha deixou de circular até janeiro de 1931, quando foi comprada por outro barão do café, Octaviano Alves. Em 1932, apoiou abertamente a oligárquica Revolução Constitucionalista "para libertar o Brasil de um grupo que se instalou no poder empenhado em desfrutá-lo" – o mesmo discurso usado atualmente por Otavinho. Em 1945, contrário às mudanças progressistas efetuadas por Getúlio, Octaviano vende o jornal por considerar "inútil o trabalho e insana a espera". José Nabantino assume a empresa sob o compromisso de manter "a imparcialidade em relação aos partidos". Mas, ainda segundo Maurício Puls, "sua orientação fiscalista guardava certa afinidade com a UDN" – a principal organização golpista deste período histórico.

Carregando presos para a tortura

Durante este longo período, a Folha de S.Paulo foi um jornal provinciano, sem maior projeção no cenário nacional. Em 13 de agosto de 1962, endividado e desolado com uma greve dos jornalistas, José Nabantino vendeu o jornal para os empresários Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho. De imediato, ele se tornou um dos principais instrumentos da conspiração golpista que resultou na deposição de João Goulart. Suas manchetes espalhafatosas contra o "perigo comunista" e seus editorais raivosos contra "a corrupção e a subversão" envenenaram a classe média.

O veterano jornalista Mino Carta lembra que "a mídia vinha invocando o golpe há tempos... Neste período, a Folha de S.Paulo não tinha o peso que adquiriu depois. Mas os jornais soltavam editoriais candentes implorando a intervenção militar para impedir o caos".

Numa entrevista à jornalista Adriana Souza, o atual editor da revista Carta Capital, que já dirigiu os principais órgãos de imprensa do país e avalia que "o Brasil tem a pior mídia do mundo", dá outros elementos indispensáveis para se entender a história da Folha de S.Paulo. Ao contrário da propaganda deste jornal, que engana muita gente com o seu falso ecletismo e a sua aparente pluralidade, Mino Carta mostra que ele sempre serviu à ditadura e construiu sua pujança graças às benesses do poder autoritário:

"A Folha de S.Paulo nunca foi censurada. Ela até emprestou as suas C-14 [veículo tipo perua, usado na distribuição do jornal] para recolher os torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban (Operação Bandeirantes). Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha... E hoje você vê esses anúncios da Folha – o jornal desse menino idiota chamada Otavinho – que parece que ela, nos anos de chumbo, sofreu muito, mas ela não sofreu nada. Quando houve uma mínima pressão, o Sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi 'mínima pressão' porque o Sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas possíveis na sucessão do general Geisel. A Folha apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército, da chamada linha dura, fascista]. O Cláudio Abramo foi afastado por isso".

Prosperidade durante a ditadura

Até hoje a Folha de S.Paulo, que gosta de posar de democrata e transparente, tenta esconder essa período macabro que revela todo o seu caráter de classe e a sua postura direitista. Alguns jornalistas, talvez para conseguirem as benções dos Frias, fazem de tudo para relativizar o papel deste jornal durante a ditadura. Mario Sérgio Conti, no livro Notícias do Planalto, até registra o episódio, mas de maneira deturpada e num linguajar tipicamente reacionário. Afirma que "até o final de 1968, as organizações terroristas de esquerda destacaram alguns de seus militantes jornalistas para trabalhar na Folha... No início dos anos 70 foi a vez de policiais dos órgãos de informação da ditadura se assenhorearem do jornal".

Outro livro, o recém-lançado "A trajetória de Octavio Frias de Oliveira", do jornalista Engel Paschoal, é quase uma peça publicitária de adulação do dono da empresa. O próprio autor confessa que o biografado é "meu tipo inesquecível entre todos". Mas apesar destas tentativas de ocultar a história, o envolvimento da Famiglia Frias com os órgãos de repressão é inquestionável. Até já serviu para uma cômica disputa entre duas empresas reconhecidas pelo servilismo nos duros tempos da ditadura. Como resposta a uma coluna da jornalista Barbara Gancia, uma famosa lambe-botas da Folha que acusou a TV Globo de ter apoiado o regime militar, o diretor de jornalismo da poderosa emissora, Evandro Carlos de Andrade, deu o troco:

"Aproveito para recomendar que procure saber um pouco da história da Folha, empresa apenas comercial que prosperou extraordinariamente na ditadura, não graças à receptividade do público e à qualidade do que produziu, mas apenas em retribuição ao incondicional apoio dado por este jornal ao regime militar. A senhora por acaso já se interessou por saber a causa de, naquele tempo, serem queimadas as Kombis da Folha?", retrucou o diretor da TV Globo (20/01/2000). Na fase mais cruel da ditadura, a Folha divulgava a "morte" de "terroristas" em "emboscadas com a polícia", quando estes ainda estavam na prisão. A falsa notícia servia para acobertar as torturas, como no caso do assassinado de Joaquim Seixas. Como resposta, grupos armados incendiaram três peruas da empresa e o durão Frias passou a dormir no prédio da Folha.

Baluarte do receituário neoliberal

A briga entre a TV Globo e a Folha serve para elucidar que foi exatamente na fase mais dura da ditadura que a Famiglia Frias ergueu o seu império com base nos subsídios e nas benesses do poder. A cronologia apologética já citada registra que, em 1967, "a Folha dá inicio à revolução tecnológica e à modernização do seu parque gráfico. O jornal é pioneiro na impressão offset em cores, utilizada em larga tiragem pela primeira vez no Brasil... Em 1971, o jornal adota o sistema eletrônico de fotocomposição, pioneiro no Brasil". No mesmo ano, lembra o texto, "o ex-capitão Carlos Lamarca, líder do grupo guerrilheiro MR-8, é morto pelo Exército na Bahia. O deputado Rubens Paiva é seqüestrado por militares e desaparece".

Protegida pela ditadura, a Folha cresceu e passou a ter projeção nacional. Ainda em 1977, ela atendeu as ordens de Hugo de Abreu, outro general linha dura, que pediu a demissão do escritor Lourenço Diaféria, que escrevera uma crônica sobre um bombeiro que "urinara" na estátua de Duque de Caxias, no centro de São Paulo. No seu livro autobiográfico, "O outro lado do poder", Hugo Abreu descreve: "Telefonei para o doutor Otávio Frias e ele disse: 'Meu general, estou aqui de mão na pala, fazendo continência'". Somente quando percebe que o regime estava em seus estertores é que o jornal passou a pregar a redemocratização, ao mesmo tempo em que se colocava como "pioneira" do receituário neoliberal de desmonte do Estado.

Na sua badalada pluralidade, a Folha deu espaço para FHC e para o sociólogo tucano Bolívar Lamounier e abriu suas páginas para Plínio Correa de Oliveira, líder da seita católica Tradição, Família e Propriedade (TFP) e para o pefelista Marco Maciel. Num primeiro momento, apoiou o "caçador de marajás" Fernando Collor como única forma de derrotar Lula, mas logo depois engrossou o coro do impeachment. Durante os oito anos de FHC, nada falou contra as suspeitas privatizações e pregou a ortodoxia macroeconômica. Com a eleição de Lula, porém, tornou-se um dos principais instrumentos da oposição de direita. Mesmo colunistas com um passado mais crítico, como Clóvis Rossi, passaram a verter ódio contra o presidente.

A pregação do golpe midiático

Com a eclosão da crise política em maio do ano passado, a Folha de S.Paulo virou um palanque da mais contundente oposição. Ela chegou a fazer coro com os hidrófobos do PFL na proposta do impeachment de Lula, numa autêntica pregação do golpe midiático. Um atento comerciante paulista, Eduardo Guimarães, teve a paciência de acompanhar as manchetes deste jornal em setembro passado. Elas foram arroladas no seu blog na internet ( www.cidadania.com ) e impressionam pelo alto grau de manipulação. "As mensagens desfavoráveis para o candidato Lula são a maioria esmagadora... Já os adversários de Lula, sobretudo o principal, Geraldo Alckmin, foram totalmente poupados. Esse é um fato incontestável".

As conclusões do comerciante foram confirmadas por dois institutos que monitoram sistematicamente a imprensa: o Datamídia, da PUC-RS, e o Observatório Brasileiro da Mídia, filial do Media Watch Global. O primeiro identificou que, entre 13 e 19 de julho, a Folha dedicou 778 centímetros/coluna de texto com tom positivo para Alckmin, enquanto Lula teve, no mesmo período, 562 centímetros/coluna de mensagem positiva. Já o Observatório pesquisou os principais jornais e revistas de julho a agosto, incluindo a Folha, e constatou que o Lula foi retratado de forma negativa em 47,41% das matérias, contra 31,2% em que foi tratado positivamente. No caso de Alckmin, a situação se inverte: 44,56% favoráveis e 31,42% negativas.

Apesar desta descarada manipulação, todas as sondagens eleitorais ainda apontavam a vitória de Lula no primeiro turno para o desespero dos "deformadores de opinião" da mídia. A "operação burrice" de alguns petistas afoitos, que tentaram comprar o dossiê da "máfia das sanguessugas", apenas realimentou o sonho da direita de forçar o segundo turno. É neste contexto que se encaixa o odioso artigo do diretor de redação da Folha citado acima. O tiroteio deste jornal na última semana é devastador. Manchetes sensacionalistas e centenas de matérias, até na seção de esporte, visam satanizar o presidente e apelar para o imperativo do segundo turno, "pelo bem da democracia". A pesquisa do Datafolha inclusive foi antecipada, contrariando a Lei 9.504 que disciplina as eleições, para dar a impressão da inevitabilidade do segundo turno.

A distorção da Folha de S.Paulo é tão evidente que até seu próprio ombudsman, Marcelo Beraba, teve de registrá-la envergonhado. "O fato de considerar a conspiração para a obtenção do dossiê mais importante do que o dossiê não significa que eu esteja de acordo com o pouco empenho dos jornais na apuração das denúncias contra Serra e Barjas Negri [dois ex-ministro de FHC envolvidos na compra superfaturada de ambulâncias]. Uma cobertura não anula a outra" (FSP, 24/09/06).

Na prática, a empresa de Otávio Frias Filho, o yuppie Otavinho, que no passado cedeu suas caminhonetes para o transporte de presos políticos, hoje prega abertamente um golpe midiático. Esta conduta golpista, seguida pelo grosso da mídia, deveria servir ao menos para acabar com as ilusões sobre o papel imparcial dos meios de comunicação no Brasil.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).

8 de ago. de 2006

Folclore Gaúcho

Livrai-nos destes zorros, Negrinho do Pastoreiro:













































Tipo Desculpa Comparsa Arte
DARCÍSIO PERONDI Deputado PMDB-RS  Improbidade Administrativa
EDIR DE OLIVEIRA Deputado PTB-RS Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
ELISEU PADILHA Deputado PMDB-RS Corrupção Passiva
ÉRICO RIBEIRO Deputado PP-RS Crime Contra a Ordem Tributária e Apropriação Indébita
PAULO JOSÉ GOUVEIA Deputado PL-RS Porte Ilegal de Arma
Paulo Pimenta Deputado PT-RS Compra de Votos, Mensalão

OBS. O homem que se vende sempre recebe mais do que vale!

O OVO DA SERPENTE

A lição de Pontecorvo para não descer a lomba

Em um artigo na Veja, Lya Luft faz um inventário seletivo de indignações. Iguala sem-terras a facínoras, critica política de cotas para “pessoas de cor”, denuncia “frouxidão das instituições” e expressa vontade de “sumir de aspectos da realidade”. E diz não entender “como chegamos à tamanha decadência”. O cineasta Gillo Pontecorvo talvez tenha a resposta.

Marco Aurélio Weissheimer

A escritora Lya Luft dedicou sua coluna na revista Veja, essa semana, para fazer um inventário de suas indignações. Intitulada “Descendo a lomba”, ela coloca no mesmo saco de “temas assustadores”, o caso da morte de um casal de jovens namorados em São Paulo, o da “jovem facínora da classe média paulistana, que com dois cúmplices trucidou os pais, uma “cartilha do MST usada por certas escolas elementares” que estaria “preparando novas gerações de contraventores” e “ilegalidades promovidas pelo governo (federal)”. Ao falar sobre os sem-terra, ela escreveu: “Outro dia foram dar seu apoio a um candidato a presidente. Disseram, entre outras coisas: ‘não queremos a volta da burguesia ao poder’. Gente, estamos em pleno século XXI! Enquanto isso, fazendas produtivas continuam tomadas ou cercadas por bandos ameaçadores, sustentados com nosso dinheiro”, bradou, indignada.

O que significa exatamente essa expressão “gente, estamos em pleno século XXI!”, no contexto citado? Há um sentido óbvio que associa a luta e o discurso dos sem-terra a algo atrasado e anacrônico. O “estar em pleno século XXI” significa estar num estágio da modernidade que não deveria mais conviver com tais anacronismos. No contexto do artigo em questão, afirmar que “fazendas produtivas continuam tomadas ou cercadas por bandos ameaçadores, sustentados com nosso dinheiro” significa dizer que os sem-terra são um bando de malfeitores que devem ser colocados na mesma categoria do “monstro que estuprou muitas vezes, retalhou e matou uma menina de 16 anos” e da “jovem facínora da classe média paulistana” que ajudou a matar os pais. E significa ainda, como a escritora faz explicitamente, associar todos esses fatos ao atual governo federal, à frouxidão das instituições e à “degringolada” geral da nação.

“Pessoas de cor e catiúchas”
A lista de indignações de Lya Luft não pára por aí. Ela manifesta espanto pelo fato de João Pedro Stédile ter sido convidado a dar uma palestra na Escola Superior de Guerra: “Um dos líderes máximos desses grupos – que desvirtuam a verdadeira figura do colono, do trabalhador no campo – recentemente foi convidado a dar (e deu!) uma palestra na Escola Superior de Guerra; não escrevo ‘pasmem’, pois a esta altura nada mais nos assombra”. Critica as cotas para “pessoas de cor” nas universidades: “As cotas para pessoas de cor entrarem em universidades, independentemente de sua capacidade, vão resolver a tragédia da educação brasileira, e o insensato estímulo ao racismo não parece importar”. “Mas consolemo-nos”, acrescenta, irônica: “a também confusa guerra está distante, podemos continuar alegrinhos, sem ‘catiúchas’ caindo em nossa alienada cabeça. Os roncos e estrondos lá fora, de madrugada, são apenas os rachas na minha rua”.

E fala, é claro, dos mensaleiros e dos políticos sanguessugas, que representariam a expressão política de todo esse cenário. “A frouxidão das instituições neste momento, os interesses políticos em época eleitoral e o exemplo da inaceitável absolvição dos mensaleiros não nos permitem grandes ilusões. Para começar, os sanguessugas não serão julgados tão cedo. Podem até continuar candidatos a cargos eletivos: a maioria deles realmente é. Se eleitos, terão imunidade. O que pensar de tudo isso?” – pergunta. Lya Luft diz que não consegue entender “como chegamos a tamanha decadência” e manifesta um desejo de sumir. “Começo a ter vontade de sumir – se não do Brasil, ao menos de aspectos de sua realidade que o insultam e o mancham. Como chegamos a tamanha decadência, não sei explicar. Ninguém me dá uma explicação satisfatória”. O que a escritora não parece perceber é que essa explicação aparece em seu próprio artigo.

“Sumir de aspectos da realidade”
Ela escreve que tem vontade de “sumir de aspectos da realidade que insultam e mancham” o Brasil. Seu artigo indica que já fez essa operação, típica de uma consciência alienada, ultra-conservadora e preconceituosa, que associa lutas sociais (com todas as contradições que elas envolvem) a atos de criminosos e facínoras, que iguala lideranças dessas lutas a criminosos, que se refere à população negra como “pessoas de cor”, e que fala da guerra no Líbano apenas dando graças a Deus pelo fato de que os “katiuchas” – foguetes usados pelo Hezbollah contra Israel – não estão caindo “em nossa alienada cabeça”. O fato de não ter feito menção aos imensamente mais poderosos “katiuchas” de Israel que estão caindo sobre a cabeça de homens, mulheres e crianças no Líbano é mais uma evidência de que ela já “sumiu de aspectos da realidade”. O fato de sua indignação seletiva deixar de lado alguns “aspectos da realidade” é uma explicitação dessa operação.

“Ninguém me dá uma explicação satisfatória” de “como chegamos a tamanha decadência”, escreve ainda. Bem, o fato de usar a expressão “gente, estamos em pleno século XXI” para qualificar certas práticas e discursos como anacrônicas desautoriza essa incompreensão em um duplo e ambíguo sentido. Desautoriza, em primeiro lugar, porque se atingimos um certo “grau evolutivo superior” incompatível com manifestações inferiores de um período anterior, essa superioridade acabará por prevalecer e não há, portanto, motivo para alarme e espanto. Os problemas serão equacionados pois “estamos em pleno século XXI”. E desautoriza, em segundo lugar, num sentido diferente deste, pelo fato de que, se chegamos ao século XXI com todos esses problemas, que causam tanta indignação (seletiva), talvez esse século não seja a expressão exatamente de um ápice da modernidade que seria incompatível com certas manifestações, como o discurso dos sem-terra, por exemplo.

A lição de Pontecorvo
Gillo Pontecorvo, judeu, italiano e cineasta, contou, certa vez, que quando era um jovem tenista na Itália de Mussollini, era proibido discutir política. Um dia, Pontecorvo foi para Paris e lá conheceu Sartre. Entendeu o que era o fascismo e decidiu resistir. Pontecorvo dirigiu um dos primeiros filmes sobre campos de concentração na Segunda Guerra Mundial. Esse filme se chama “Kapo”, um filme que trata da vertente fascista na Alemanha, o nazismo. Após contribuir para a derrota dos fascistas na Itália, Pontecorvo conheceu Saadi Yacef, ex-preso político argelino que lutou pela independência de seu país contra o colonialismo especialmente cruel dos franceses. Pontecorvo produziu e dirigiu uma das maiores obras-primas da história do cinema, A Batalha de Argel. O testemunho da trajetória de Pontecorvo guarda ensinamentos importantes para completar o quadro da realidade que a escritora insiste em subtrair, querendo se proteger.

Que ensinamentos? Não foi o fascismo que nos ensinou nem nos revelou os horrores do holocausto. Não foi o fascismo que nos ensinou sobre os horrores das ditaduras que fazem presos políticos e tratam como criminosos aqueles que se opõem politicamente à ordem estabelecida. Pontecorvo nos ensinou a estender a mão e a dar voz e expressão contra o fascismo. Foi assim que ele entendeu que o fascismo precisa subtrair aspectos da realidade, entre eles a política (ou sobretudo ela), para que judeus estejam em campos de concentração, para que árabes-muçulmanos tenham seus territórios ocupados, para que camponeses não tenham terra para trabalhar e para que nenhum deles tenha o direito nem a dignidade de ter direitos. O jovem e belo tenista italiano resolveu abrir os olhos para o maior número de aspectos da realidade que ele pôde captar, que seu espírito permitiu, que sua generosidade lhe concedeu, que sua consciência o obrigou. Talvez esteja aí um bom caminho para entendermos como se desce a lomba. Para não descer mais.

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)

3 de ago. de 2006

Faixa faz menção a Serrra na entrega das ambulâncias


O Vampiro do PSDB

Essas ambulâncias eram da Planan, a empresa dos sanguessugas? Não se sabe. Mas leiam o que disse Darci Vedoin, em depoimento à PF, em 23.julho.2006: "...QUE o pagamento de comissão a parlamentares já era uma praxe existente anteriormente, no Congresso Nacional; QUE para o exercício de 2000, o deputado Lino Rossi apresentou essas emendas, através das quais foram vendidos no Estado de Mato Grosso mais de 60 unidades móveis de saúde; QUE as unidades, adquiridas com as emendas individuais, foram entregues paulatinamente; QUE as unidades adquiridas com as emendas de bancada, cerca de 50 unidades, foram entregues em um evento preparado especialmente pela cidade de Cuiabá, inclusive com a presença do Ministro da Saúde". O ministro da Saúde era... José Serra.

Serra entrega chave de ambulância


Os filhos do PSDB

Fotos de Serra com sanguessugas

Blog do Fernando Rodrigues, do site UOL.
Circulam no Congresso fotos de José Serra participando de uma cerimônia de entrega de ambulâncias em Mato Grosso, em maio 2001, ao lado de deputados hoje acusados de participarem do esquema dos sanguessugas.

Nas fotos, lá estão eles: Serra e os deputados Lino Rossi (PL-MT), Pedro Henry (PP-MT) e Ricarte de Freitas (PTB-MT). Como se observa, os 3 deputados pertencem aos partidos mais fortemente identificados com o escândalo do mensalão, além do PT. Henry foi citado nos dois casos. Na lista fornecida por Darci Vedoin sobre os sanguessugas à Polícia Federal estão citados Lino, Henry e Freitas.

José Serra, como se sabe, foi ministro da Saúde de março de 98 a fevereiro de 2002. O esquema das vendas superfaturadas de ambulâncias começou em algum momento no início da década. A Folha publica hoje reportagem (só para assinantes) sobre a convocação de Serra para depor à CPI dos Sanguessugas --por requisição do líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS).

As fotos de Serra com os sanguessugas não provam nada. Assim como Lula, Serra também pode argumentar que não sabia de nada, certo?

Palpite do blog: com essa guerrinha entre oposição e situação para convocar ex-ministros a CPI dos Sanguessugas, já completamente rachada, corre o risco de não terminar bem. O PT quer convocar Serra; o PSDB força a barra para trazer o petista Humberto Costa e o peemedebista Saraiva Felipe para o picadeiro.

Mas as fotos valem muito mais do que qualquer falação (a cerimônia foi para marcar a entrega de 41 unidades móveis de saúde a 38 municípios). A elas:

Da esquerda para a direita, Pedro Henry, Lino Rossi, Serra e Ricarte de Freitas (ao microfone)

2 de ago. de 2006

Segurança como e por quê

Um advogado circulou a seguinte informação para os empregados na companhia dele.

1. Da próxima vez você ordenar talão de cheques peça ao banco que coloque somente as iniciais de teu nome (em vez do nome completo) e sobrenome no talão. Se alguém levar seu talão de cheques, eles não saberão como você assina seus cheques, com somente a inicial de seu nome, mas seu banco saberá como você assina seus cheques.

2. Não assine a parte de trás de seus cartões de crédito. Ao invés, escreva " SOLICITAR RG ".

3. Quando você preencher cheques para pagar seu cartão de crédito considerar, não escreva o número de conta completo na " Para que " linha. Ao invés, ponha somente os últimos quatro números. A companhia de cartão de crédito sabe o resto do número da conta, e qualquer um que poderia estar controlando seu cheque através de todos os
canais do processamento do cheque não terá acesso a esta informação.

4. Ponha seu número de telefone de trabalho em seus cheques em vez de seu telefone de casa. Se você tiver uma Caixa Postal de Correio use este em vez de seu endereço residencial. Se você não tiver uma Caixa Postal, use seu endereço de trabalho. Ponha seu telefone celular ao invés do residencial. Nunca tenha seu CPF impresso em seus cheques. (Você pode colocá-lo se for necessário). Mas se estiver impresso, qualquer um pode ver.

5.Tire Xerox do conteúdo de tua carteira. Tire cópia de ambos os lados de todos os documentos, cartão de crédito, etc. Você saberá o que você tinha em sua carteira e todos os números de conta e números de telefone para chamar e cancelar. Mantenha a fotocópia em um lugar seguro. Também leve uma fotocópia de seu passaporte quando for viajar para o estrangeiro. Se sabe de muitas estórias de horror de fraudes com mes,CPF, RG, cartão de créditos, etc... roubados.

Infelizmente, eu, um advogado, tenho conhecimento de primeira mão porque minha
carteira foi roubada no último mês. Dentro de uma semana, os ladrões ordenaram
um caro pacote de telefone celular, aplicaram para um cartão de crédito VISA,
tiveram uma linha de crédito aprovada para comprar um computador, dirigiram com minha carteira, e mais. Mas aqui está um pouco de informação crítica para limitar o dano no caso de isto acontecer a você ou alguém que você conheça.

1. Nós fomos informados que nós deveríamos cancelar nossos cartões de crédito
imediatamente. Mas a chave é ter os números de telefone gratuitos e os números
de cartões à mão, assim você sabe quem chamar. Mantenha estes onde você os possa achar.

2. Abra um Boletim Policial de Ocorrência imediatamente na jurisdição onde seus
cartões de crédito, etc., foram roubados. Isto prova aos credores você tomou ações imediatas, e este é um primeiro passo para uma investigação (se houver uma).

Mas aqui está o que é talvez mais importante que tudo:

3. Chame imediatamente o SEPROC e SERASA (e outros orgãos de crédito se houver) para pedir que seja colocado um alerta de fraude em seu nome e número de CPF.
Eu nunca tinha ouvido falar disto até que fui avisado por um banco que chamou
para confirmar sobre uma aplicação para empréstimo que havia sido feita pela internet em meu nome. O alerta serve para que qualquer empresa que confira seu crédito saiba que sua informação foi roubada, e eles têm que contatar você por telefone antes que o crédito seja aprovado.
Até que eu fosse aconselhado a fazer isto (quase duas semanas depois do roubo), todo o dano já havia sido feito. Há registros de todos os cheques usados para compras pelos ladrões, nenhum de que eu soube depois que eu coloquei o o alerta. Desde então, nenhum dano adicional foi feito, e os ladrões jogaram fora minha carteira. Este fim de semana alguém a devolveu para mim. Esta ação parece ter feito eles desistirem.

Nós passamos para frente muitas piadas pela Internet; nós passamos de quase tudo. Mas se você estiver disposto a passar esta informação, realmente poderia ajudar alguém com quem você se preocupe.

A Morte do Senador

Um senador está andando tranqüilamente quando é atropelado e morre. A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada.
-"Bem-vindo ao Paraíso!"; diz São Pedro.
-"Antes que você entre, há um probleminha. Raramente vemos parlamentares por aqui, sabe, então não sabemos bem o que fazer com você.
-"Não vejo problema, é só me deixar entrar", diz o antigo senador.
-"Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o seguinte:
-Você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade.
-"Não precisa, já resolvi. Quero ficar no Paraíso diz o senador.
-"Desculpe, mas temos as nossas regras. "
Assim,São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce, desce, desce até o Inferno.
A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe.Ao fundo o clube onde estão todos os seus amigos e outros políticos com os quais havia trabalhado. Todos muito felizes em traje social.
Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre os bons tempos em que ficaram ricos às custas do povo.Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta
e caviar. Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo dançando e contando piadas.Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir embora.
Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe. Ele sobe, sobe, sobe e porta se abre outra vez. São Pedro está esperando por ele.
Agora é a vez de visitar o Paraíso.
Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando.Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro retorna.
-"E aí ? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso.
Agora escolha a sua casa eterna." Ele pensa um minuto e responde:
-"Olha, eu nunca pensei ..O Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou ficar melhor no Inferno."
Então São Pedro o leva de volta ao elevador e ele desce, desce, desce até o Inferno.
A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo. Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho e colocando em sacos pretos.O diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do senador.
-"Não estou entendendo", - gagueja o senador - "Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, e nós dançamos e nos divertimos o
tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados!!!"
O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:
"Ontem estávamos em campanha. Agora, já conseguimos o seu voto..."

11 de jul. de 2006

A cabeçada de Zidane , uma história de honra e racismo

Zélia Leal Adghirni (*)

Não entendo nada de futebol. Só sei quando é gol porque todo mundo grita. Mas entendo um pouco de cultura árabe e muçulmana. Sou jornalista e morei quase dez anos anos no mundo árabe onde sempre fui tratada com o maior respeito e consideração. E sei bem o que pode ofender profundamente um muçulmano.



Quando vi aquela terrível cabeçada do Zidane no peito de Materazzi não tive dúvida. Foi reação a um insulto. O que teria dito o jogador italiano para deixar o francês/argelino/kabyle daquele jeito? Só podia ser um insulto à sua religião ou à sua família. E isso, muçulmano nenhum tolera. Imediatamente comecei a ligar para meus amigos muçulmanos de Brasília. Eles tinham a mesma convicção: insulto da mais grave potência. Zidane não teve dúvida. Preferiu perder a Copa do que levar desaforo para casa.



Passada a euforia da vitória italiana, a cerimônia oficial da entrega das medalhas, o constrangimento dos “Bleus” sem a presença do capitão do time, e ainda sob o impacto da cabeçada do Zidane, os comentaristas de futebol começaram a tentar explicar o que parecia inexplicável. A imagem rolou e desenrolou dezenas de vezes na telinha da TV. Sob os mais diversos ângulos, dezenas de câmeras captaram o tresloucado gesto. E eu, que não entendo e não gosto de futebol, fiquei ali, diante da TV, até de madrugada.



O que teria dito o Materazzi que, seguindo Zidane a alguns passos de distância, murmurava coisas que não podíamos ouvir (não seria o caso de chamar os meninos da Globo para fazer a leitura labial?) para que o galante rapaz de origem argelina enfurecesse daquele jeito e como um touro selvagem irrompesse com uma cabeçada no peito do italiano...



Começaram a surgir algumas hipóteses: que Materazzi teria chamado Zinedine Zidane de terrorista. Que Materazzi teria chamado a irmã de Zidane de prosituta (certamente não seria este termo politicamente correto mas um sonoro putana, que na língua italiana ecoa com vibrações fantásticas). Até agora ninguém sabe o que realmente aconteceu e Zidane ainda não se pronunciou.



A mídia, no mundo inteiro repercutiu o fato. Título do New York Times : “Uma estrela se quebra, a França declina e a Itália se regozija", qualificando de vergonhoso o último jogo de Zizou quando poderia ter sido um glorioso coroamento.



As mais severas críticas contra o capitão da equipe francesa vêm da Alemanha, país sede do campeonato mundial. Bild, o jornal de maior tiragem, com 12 milhões de leitores, afirma que “Zidane é o responsável pelo aspecto mais sujo do nosso Mundial”. E deplora que ele tenha destruído sua auréola de santo.


Mas o mais grave não se passou no estádio. Nem na cabeça de Zidane. Ele sempre lidou bem com aquilo que o diferençava de um verdadeiro francês. Não cantava a Marseillese, mas beijava a camisa do time quando fazia um gol. O mais grave se passou na cabeça de alguns franceses que engolem o gênio da raça de Zidane no futebol mas não engolem sua raça estrangeira.



Zinedine Zidane nasceu na França, em La Castellane, bairro miserável de Marseille, filho de pais de nacionalidade argelina e etnia kabyle. Os Kabyles são os povos primitivos da Argélia como os Berberes são do Marrocos. Eles foram convertidos pelas guerras santas da islamização e depois colonizados pelos franceses que ficaram quase cem anos na Argélia. Foi preciso uma guerra para tirar os franceses de lá.



Anos depois, no boom da industrialização francesa, os argelinos, assim como tantos ex-colonizados foram para a França trabalhar nas fábricas , nos serviços de higiene pública, como pedreiros, operários, porteiros, etc. enfim aquela mão de obra humilde e mal paga que os franceses não queriam e não precisavam fazer. E ali ficaram, tiveram filhos, os filhos cresceram, tiveram mais filhos, mas a integração com a sociedade francesa resta uma questão não resolvida. A prova: a explosão da revolta dos jovens dos subúrbios há alguns meses.



Zidane, o Zizou, teve sorte. Tinha o gênio nas pernas. Virou um grande jogador, um símbolo da equipe francesa, um orgulho nacional. Mas bastou um erro (lamentável, com certeza) para que esta imagem ruísse.



Quem entrou nos fóruns e chats de debates nos sites dos principais jornais franceses pôde ler frases como esta por exemplo: “Tenho vergonha de ser francês. Zidane nos sujou”. Ou então” : Árabe é isso mesmo; Zidane deveria ter ficado lá onde saiu, queimado carros nas ruas com sua gangue”. E eram muitos os insultos racistas contra aquele que até ontem era herói.


Muitos dirão: mas futebol é isso mesmo! Tem que agüentar! Pelé foi tantas vezes provocado e não reagiu... Mas talvez fosse melhor que tivesse reagido para defender sua raça. Nunca vi Pelé defender publicamente os negros. Mas lembro de uma famosa frase do maior jogador entre todos: “Pelé não tem cor, Pelé não tem raça, Pelé não tem religião”. Pelé é Pelé, uma instituição. Foi assim que ele viveu.



Mas Zidane tem o sangue quente dos povos do deserto. Ele é kabyle. É muçulmano. E coloca honra acima de todo como seus ancestrais.



“Diante do que não podia ser mais do que uma grave agressão, o senhor reagiu como um homem de honra antes de sofrer, sem pestanejar, o veredicto”, escreveu o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, em mensagem enviada hoje a Zidane.



(*) Zélia Leal Adghirni é professora da Faculdade de Comunicação na UNB
Publicado no Blog do Noblat, em 11/07/2006

Acróstico

Página 12, 11/07/2006

CONJETURAL

Por Juan Sasturain

A Z.Z. en el vestuario de Berlín

Z umban las voces en la tarde última.
I talos cantan en la galería
n azi una vez, fascista todavía.
E s en venganza por la estirpe única

d e tus ancestros de daga y túnica.
I nvicto Aníbal, cuya valentía
n o dudó ante una Roma que temía
e n el combate, a la fiereza púnica.

Z ama fue la batalla, y la derrota
i mpuso sus rigores al aciago
d estino de los hombres y la flota.
A la soberbia, magnífica Cartago,
n o la olvidó la gloria. La pelota
e n soledad sueña con vos, el Mago.

12 de jun. de 2006

Taça Jules Rimet

Acá está, que la vengan a buscar

Por Darío Pignotti
Desde San Pablo

Juan Carlos Hernández, argentino y traficante de oro, lleva horas en una comisaría de Río de Janeiro esquivando las preguntas de dos investigadores abocados a develar el robo de la Copa del Mundo Jules Rimet, conquistada en México en 1970 por la selección de Pelé. Uno de ellos, Murilo Miguel, advertido de que no podrán arrancarle la confesión buscada se resigna: “Nosotros –dijo a Página/12 más de dos décadas después– tuvimos que ganar tres campeonatos para quedarnos con la copa y viene un argentino y la derrite”.

Fue en febrero de 1984. El relato lo hizo a Página/12 el propio Murilo, abogado jubilado del Ministerio Público al que sirvió hasta el año 1990. “Juan Carlos Hernández era un tipo muy astuto, muy astuto, fingía no saber nada, pero cuando le dije que para los brasileños era una bofetada que un argentino haya convertido a la copa en lingotes de oro me miró con una sonrisa que todavía recuerdo, para mí fue como una confesión”.

El robo había sido planeado a mediados de 1983 en el bar Santo Cristo, zona portuaria de Río, donde un gerente de banco, Antonio Pereira Alves solía compartir las mesas de pocker y cachaça con un reputado manipulador de cajas fuertes, Antonio Setta. Pereira también frecuentaba la Confederación Brasileña de Fútbol (CBF) donde advirtió que la vidriera donde se exhibía el trofeo era un bocado fácil para un experto como Setta. Setta rechazó el convite. Pero aceptaron José Luiz Vieira, alias “Bigote” y Francisco Rocha, el Barba.

En la noche del 19 de diciembre de 1983 Bigote y Barba ingresaron en la vieja sede de la CBF, maniataron al único guarda y en menos de una hora se hicieron con la esfinge de 49 centímetros de altura. A partir de ese momento, el problema fue qué hacer con la criatura de 1,8 kilogramo de oro. Es cuando entró en escena la joyería de Carlos Hernández, “el mayor vendedor de oro robado de Brasil en esos años”, según Murilo Miguel.

La maldición

Con el inicio del Mundial de Alemania, de donde Brasil pretende retornar con su sexta copa, las historias sobre la Jules Rimet vuelven como un recuerdo amargo. “Es un rito que se repite cada cuatro años, los brasileños nos acordamos de la copa que nunca recuperaremos”, se lamenta el ex investigador Murilo Miguel. Una semana atrás la TV Globo abordó el tema en un programa especial y el cineasta Jota Eme estrenó el film El argentino que derritió la Jules Rimet.

“El argentino Juan Carlos Hernández debe ser el único que está con vida de los cuatro condenados por el robo. Todos terminaron sus días penosamente, pobres, perseguidos y eso hizo que la gente crea que hay una maldición. A mi ver eso es mito y tal vez haya habido quema de archivo con alguno de ellos”, especula el director cinematográfico.

La última vez que la Jules Rimet fue vista en un estadio fue el 21 de junio de 1970, cuando el capitán de la selección brasileña Carlos Alberto inauguró el ritual de besar la presea ante más de 115 mil personas en el Estadio Azteca de México. Para ese entonces, el trofeo ya había cumplido 41 años desde que había sido esculpida a instancias del presidente de la FIFA, el francés Jules Rimet, el mismo que impuso la norma según la cual quien ganara tres veces el título se quedaría con ella definitivamente. Antes de ser fundida en la joyería del argentino Hernández la copa ya había sido escondida por el presidente de la Federación Italiana de Fútboltemeroso de que fuera robada durante la II Guerra y en 1966 fue robada y prontamente hallada por un perro doméstico en Inglaterra.

El director de El argentino que derritió la Jules Rimet, reveló a este diario que quiso armar “una historia sin los tintes nacionalistas que muchos le han dado en Brasil. Para mí el robo es más una comedia que la tragedia con que la pintaron los militares en 1984. Por eso jugamos un poco con la ficción y hasta con el absurdo cuando mostramos a un personaje soñando con una guerra entre Brasil y Argentina, donde también mezclamos guerra de Malvinas y la Copa de 1978”.

“El sentimiento y la identificación de los brasileños con la copa era increíble, y hoy eso se sigue viendo. Y posiblemente gracias a esa pasión nacional la policía comenzó a recibir pistas. Cuando Antonio Setta supo por los diarios que se habían llevado el trofeo delató al gerente de banco Pereira, aquel que le había propuesto dar el golpe en un bar. Setta es uno de los personajes más curiosos de la historia, un ladrón sentimental que, según él mismo contó a la prensa, no quiso entrar en el plan de Pereira por razones sentimentales: la copa le traía recuerdos imborrables como simpatizante y como persona, ya que su hermano había muerto de un paro cardíaco en 1970, viendo la final de la copa por televisión”.

El cineasta Jota Eme discrepa con el investigador Murilo Miguel en varios puntos. Cree que muchas de las confesiones que permitieron al juez condenar a los cuatro acusados en 1998 fueron logradas bajo tortura y que la versión final de los hechos ofrecida por la policía parece un montaje para calmar a la opinión pública que quería ver rodar cabezas. Murilo, en cambio, dice que “delante de mí nadie fue torturado y, en general, creo que los hechos están bien identificados por la investigación”.

La tercera discrepancia entre el autor del film y el ex funcionario del Ministerio Público deja un final abierto. Para Murilo Miguel “no hay ninguna duda de que la Jules Rimet fue convertida en lingotes de oro. Eso además es perfectamente lógico porque ningún ladrón se arriesgaría a permanecer con un objeto de ese tipo en su poder”.

Jota Eme en cambio tiene sus dudas. “Nunca terminé de convencerme de esa historia oficial, siempre me queda la sospecha de que algún coleccionista la compró pagando una fortuna y se la llevó lejos de aquí. Yo no investigué el asunto, pero mi intuición es que la Jules Rimet está enterita y bien lejos de Brasil, tal vez en Europa”.

20 de mai. de 2006

SórRindo

JOSÉ SIMÃO - FSP 20/05/006

Socuerro! A Tucanada tomou Doril e sumiu!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República. Direto do País da Piada Pronta!
Peguei a gripe Evo Morales: te deixa totalmente sem gás. E diz que toda vez que o Evo solta um gás, o Lula suja as carça! Rarararará.
E eu tô com pena do Lembo! Tô com pena do Mr. Burns. O PSDB deixou o véinho sozinho na fogueira. A tucanada tomou Doril e SUMIU! Pegaram um avião pra Nova York e sumiram. São aves migratórias.
Por isso que adorei a charge do Manga com o Lembo: "Me lembo com saudades de quando era vice". O Lembo saiu do limbo pra levar no lombo! Avisa pro Lembo que tucano só gosta de duas coisas: jantar e tomar vinho!
E agora é assim: vote no PSDB, eleja o PFL e seja governado pelo PCC! E o Lembo entrou pro PSTU? "Contra burguês, vote 16!" Rarará.
E agora celular é culpado de tudo. Por isso que adorei a charge do Pelicano com o celular falando: "Só falo na presença dos meus advogados". É verdade, hoje peguei meu celular e ele respondeu: "Só falo na presença dos meus advogados". E a grande ironia é que operadora de celular agora vai ter que ter dois sistemas: um pra funcionar e outro pra não funcionar. Aí, dá um pau e funciona no presídio e não funciona aqui fora! Rarará!
E a manchete da Folha: "PM diz que não matou inocentes". Acredito, mas eles saíram atirando até em roupa no varal. Todo mundo é do PCC até prove o contrário!
E a Bolsa Rebelião com as TVs de plasma. Saiu a campanha: "Queime um busão e ganhe uma TV de plasma".
E o vice do Alckmin Picolé de Chuchu? Escolheram o vice errado. Eu achava que só o PT era incompetente. Esse José Jorge foi o ministro do Apagão. Então vai dar uma bela dupla com o Alckmin; O APAGADO E O APAGÃO! Rarará. É mole? É mole, mas sobe. Ou como diz o outro: é mole, mas, se provocar, ressuscita!

4 de mai. de 2006

Tio Sam apóia Morales

Segundo matéria da Folha de São Paulo, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, citou o perigo de "demagogos e autoritários" no continente, em discurso em reunião no Conselho das Américas, ontem pela manhã, em washington.
Apoiada no em fatos históricos, a galinha deve ter se lembrado do Côndor, da Operação Côndor, quando os EUA apoiaram "demagogos e autoritários", como Pinochet. São duas palavras caras ao EUA, pois apoiaram ditadores no passado (todas as ditaduras da América Latina), como ainda apóiam no presente, como o regíme sírio. E ninguém é mais demagogo que George W. Bush!
Bastaria citar, para encerrar a questão do apreço Bushiano pela democracia, o apoio hostensivo a Pedro Carmona e asseclas no golpe que derrubou Hugo Chávez por um dia. Um dia, mas o suficiente para fecharem Congresso e a Suprema Corte daquele país. Chavez e Morales podem ser tudo o que dizem seus detratores, mas terão de aprontar muito para se igualarem ao fascínora do Tio Sam.
Evo Morales está coberto de razão, e se não fizesse mais nada em seu governo, já entraria na História pelo simples fato de ter buscado o melhor para seu povo. A desnacionalização dos bens naturais da Bolívia, desde o descobrimento, levou, literalmene, muita riqueza. Levou da Bolívia para outros países, pois o povo continua pobre.
Se a exploração das riquezas nacionais por empresas estrangeiras fossem benéficas, a Bolívia não seria tão pobre, não é mesmo?!
Veja o que fazem as multinacionais trazidas pelo professor Cardoso, enriquecem com serviços caríssimos e mandam os lucros para os países de origem. A Embratel manda seu lucro para a sua sede nos EUA. A telefônica, para a Espanha; o Santander, para a Espanha, para o FHC, em troca de palestras. E assim vai "o teu, o meu, o nosso dinheiro", como diria o ex-ministro do PSDB, Mendonça de Barros, dono da revista Primeira Leitura, e também primeira beneficiada pelas verbas do governo tucano do seu Alckmin.
Viva! Evo viu a uva!

11 de abr. de 2006

Carta Aberta de Sérgio Bermudes

MÁRCIO THOMAS BASTOS

Além da observação serena dos acontecimentos recentes, trinta anos de testemunho da sua conduta impecável, na vida pública e na advocacia, fundamentam a minha certeza de que você se conduziu com toda a propriedade, no episódio que envolveu a quebra do sigilo da conta do caseiro Francenildo Santos Costa, na Caixa Econômica Federal. Também aí, predominaram a sensatez, a prudência, a sabedoria que fizeram de você um líder notável da sua classe, que chefiou com dignidade e desassombro; o advogado que granjeou o respeito e a admiração dos seus colegas pelo modo como desempenhou o mandato, em tantas causas espinhosas; o homem público, que nunca recuou dos seus deveres, responsavelmente cumpridos com reflexão e sem o açodamento de outras pessoas que, ao longo dos tempos, levou ao malogro os propósitos mais elevados.
Para ler toda a carta, clique AQUI.

O Estafeta contra os Pobres

"Pobre, quando chega ao poder, pensa que é outra coisa."
Sabedoria perpetratada pelo cientista social e professor, Fernando Henrique Cardoso, no programa de outro metido a besta, Jô Soares.
Já se dizia que pobre gosta de rico, quem gosta de pobre é cientista social. Pois é, ou é mentira, ou o professor Cardoso não nem nunca foi cientista social. Parece estar mais para estafeta do que para qualquer outra coisa.
A assertiva do memorável proxeneta faz lembrar uma velha lição da direita troglodia: Dar a cada um o que é seu, aos ricos a riqueza, aos pobre a pobreza. Fernando Henrique Cardoso quis dizer que o lugar de pobre é na pobreza, que de riqueza entendo ele.

Sigiloso, mas nem tanto

Basta consultar a página do STF: www.stf.gov.br!
INQUÉRITO Nr.2221 (Sigiloso)
ORIGEM:RR RELATOR: MIN. CEZAR PELUSO
REDATOR PARA ACÓRDÃO: -
AUTOR(A/S)(ES): MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
INVEST.(A/S): ROMERO JUCÁ FILHO
ADV.(A/S): ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO E OUTRO(A/S)


Para quem não lembra, Romero Jucá foi Ministro da Previdência do "honesto" governo do PSDB & PFL...
O engrançado nisso tudo, é que a grande imprensa, a imprensa moralista, não publicou nenhum reportagem informando os leitores a respeito das práticas do ex-ministro do professor Cardoso. E depois ficam se perguntando porque, mesmo depois de tanta publicação das malfeitorias do PT, o povo continua votando no Lula.
Para os moralistas de plantão, não dá para entender, mas nem todo mundo é tão burro que não saiba que a mesma imprensa acobertou toda série de crimes praticados nos oito anos da gestão PSDB & PFL.
Lula e o PT são e estão numa merda, mas querer fazer pão com a mistura de bostas do PSDB & PFL já é demais!

6 de abr. de 2006

PSDBistas na Cadeia


Enquanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fazia pose de estadista e chamava a ética do PT de corrupta na capa da revista IstoÉ, uma pequena nota no pé da quinta e última página da seção “A Semana” passava facilmente despercebida até mesmo para os leitores mais atentos. Embaixo de três notas necrológicas, o pequeno texto informava: “Condenados a 11 anos de prisão pela 12ª Vara Federal do Distrito Federal o ex-presidente do Banco do Brasil Paulo César Ximenes e seis ex-diretores dessa instituição. Eles foram acusados de gestão temerária devido a irregularidades em empréstimos feitos à construtora Encol entre 1994 e 1995. Na quarta-feira 1”.
Assim como IstoÉ, a grande imprensa não deu muita bola para o caso. Veja, por exemplo, considerou a condenação de toda uma diretoria do maior banco público do país nada importante e não dedicou uma linha a respeito do assunto.
Os sete condenados formavam a diretoria colegiada do Banco do Brasil entre 1995 e 1998, com Ximenes no comando da instituição. Período que coincide com o primeiro mandato de FHC. Eles foram condenados em primeira instância por nove atos que caracterizam crimes de gestão temerária e de desvio de crédito ao emprestar dinheiro para a construtora Encol, que faliu em seguida e prejudicou milhares de mutuários.
Os acusados foram considerados responsáveis, entre outros crimes, por aceitar certificados de dívida emitidos ilegalmente pela construtora e por prorrogar sistematicamente operações vencidas e não pagas.
Veja e leia a matéria completa aqui.

4 de abr. de 2006

Deu no JB

O professor Cardoso e a mídia financiada pela Nossa Caixa, vivem de apontar o dedo sujo para as sujeiras do PT. Mas tucano, que tem muito bico e pouco cérebro, não se encherga. O Jornal do Brasil desta terça, 04/04/06, põe a mão no rabo dos tucanos.

Ministros que caíram durante o governo FH


Eliseu Padilha
Denúncia: 8 de março de 2001. O ex-ministro de Fernando Henrique só caiu em 24 de outubro, mais de sete meses depois. Padilha foi acusado de envolvimento com esquema de remessas de recursos ilegais ao exterior. À época, as investigações assinalavam que o ex-ministro dos Transportes tinha informações sobre o pagamento de dívidas judiciais do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) pelo menos desde 1997.

Élcio Álvares

Denúncia: em 12 outubro de 1999 apareceram indícios de envolvimento com o crime organizado. Élcio deixou o governo em 19 de janeiro de 2000. O ex-ministro da Defesa foi acusado de encobrir traficantes no Espírito Santo.


Mauro Gandra

Denúncia: As transcrições dos grampos teriam sido descobertas por FH em 9 de novembro de 1995 e o ministro da Aeronáutica se demitiu no dia 19 de novembro. O ex-presidente do Incra Francisco Graziano teria ordenado grampo telefônico, que acabou flagrando o então embaixador Júlio César dos Santos ao arquitetar a escolha da empresa que forneceria os equipamentos do projeto Sivam. Na gravação ele cita o nome de Gandra. O embaixador também foi afastado.

Mendonça de Barros

Denúncia: Os grampos teriam sido feitos no dia 28 de julho de 1998, mas a crise só foi deflagrada em 8 de novembro. Mendonça pediu demissão no dia 21, 13 dias depois do início da crise. Durante a privatização da Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas de Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e o ex-presidente do BNDES André Lara Resende. Na gravação eles articulavam o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do banco Opportunity, que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FH entrou na história. À época, especulou-se que o ex-presidente teria autorizado o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão.

24 de mar. de 2006

De cães e gatos


Ulisses estava prestas a desembarcar em sua ilha. Já via a fumaça (fumus boni iuris) dos fogões em terra. Relaxou e cochilou, e vice-versa. Mas seus homens, enquanto dormia, abriram o saco onde julgavam estar os tesouros do chefe. Nela estavam os ventos adversos que o deus Éolo lhe entregara quando da passagem pela ilha flutuante Eólia. Soltos, os ventos afastaram Ulisses da ilha, devolvendo-o às vicissitudes porque já passara. Nenhum marinheiro sobreviveu, e só Ulisses retornou ao lar.
Depois de tanto tempo, somente o cão Argos o reconhece, abana o rabo e morre.
Mutatis mutandis, o PT viu a fumaça do poder, acendeu as churrasqueiras do Planalto ao Torto e à Direita, e assou os movimentos sociais em fogo brando. Enquanto festejava, os Paloccis, os Delúbios e os Genuínos, escoltados por uma malta que ia de Tarso Genro aos Tiãos Viannas, abriram os sacos das doideiras autistas. Era a Utopia do Possível ou o Pragmatismo da Sete Pragas. Enquanto isso, o comandante dormia.
Quando eu chego em casa, tenho quem me abane o rabo. Já quem preferiu afastar os melhores amigos do homem, e caçarem com gatos, já estão com o rabo entre as pernas, procurando um abrigo para se enconderem.

Carta aberta ao senador Eduardo Suplicy

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO

Meu caro Eduardo Suplicy: Temos uma longa amizade e um longo companheirismo político. Não me esqueço -e aproveito para agradecer publicamente- do corajoso apoio que você deu a minha candidatura a presidente do PT, numa hora em que isso iria lhe custar -como está custando agora- dificuldades com a oligarquia dirigente do partido.


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A desobediência civil é gesto extremo para despertar uma sociedade anestesiada, incapaz de ouvir os clamores do povo
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Por isso mesmo, sei que você receberá estas palavras como uma contribuição sincera de um velho companheiro.
Levanto duas objeções à carta aberta que você enviou ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), publicada neste mesmo espaço na última sexta-feira, a propósito da destruição de mudas de espécies florestais em um centro de pesquisas da Aracruz, no Rio Grande do Sul.
A primeira é a invocação das ações de Gandhi e Martin Luther King Jr. como exemplos de ações não violentas que o MST deveria seguir. No entanto, a ação das mulheres do MST, na Aracruz, se enquadra perfeitamente na tradição das lutas desses dois mártires dos oprimidos. O que elas praticaram foi um ato de desobediência civil -uma ação que desafia a lei, a medida ou a omissão injustas sem incitar agressão a pessoas.
Em seus respectivos contextos, os atos de desobediência civil comandados por esses dois grandes líderes foram considerados inaceitáveis e escandalizaram as pessoas sérias, honestas, cumpridoras das leis.
Ora, o objetivo das ações de desobediência civil é precisamente este: desassossegar consciências tranqüilas, como um meio de fazê-las ver a responsabilidade que têm na manutenção de situações inaceitáveis, porém admitidas como normais e corretas. Trata-se de um gesto extremo para despertar sociedades anestesiadas, incapazes de ouvir os clamores do povo.
Vejamos, por exemplo, em que deu a marcha pacífica que os sem-terra realizaram em Brasília, no ano passado, a fim de pedir, de forma respeitosa e ordeira, a reforma agrária. Que resposta obtiveram do governo? Que solidariedade receberam da sociedade? Que noticiário deram os jornais?
A não-violência de Gandhi e Luther King não diz respeito às coisas, mas, sim, às pessoas humanas. Repare bem no próprio texto transcrito na sua carta aberta: Luther King diz que o protesto "não pode degenerar em violência física". Não há menção a causar prejuízos ao capital. Por acaso, o boicote do sal e do tecido inglês na Índia, o dos ônibus segregacionista no Sul dos Estados Unidos e tantos outros movimentos de desobediência civil em todo o mundo deixaram de causar enormes prejuízos materiais aos capitalistas?
Violência física não houve no ato das mulheres. Houve a destruição de mudas destinadas a implantar a monocultura florestal no Rio Grande do Sul.
Sem falar nos danos que esse tipo de agricultura causa ao meio ambiente, é preciso que todos saibam que se trata de uma forma de agricultura extremamente nociva à pequena agricultura. Poucos sabiam disso. Agora, com a cobertura que a imprensa deu ao episódio, todos ficaram sabendo. Nisso consiste a desobediência civil. É selvagem porque a realidade é selvagem.
Minha segunda objeção a sua carta aberta se refere à falta de uma outra carta aberta: aquela que teria de ser enviada à Aracruz, reclamando da destruição da aldeia indígena dos guaranis no Estado do Espírito Santo e falando sobre a ameaça que representa atualmente a monocultura da celulose para os pequenos agricultores.
Essa forma de violência, sim, se volta contra a existência física das pessoas, na medida em que destrói o ambiente em que essas pequenas unidades familiares podem sobreviver. No entanto, isso se faz daquela forma disfarçada, asséptica, que o capitalismo usa para dar uma aparência de racionalidade à destruição dos grupos humanos que perturbam o "progresso" -o outro nome da sua fome insaciável de lucro e de acumulação de capital.
Prezado Eduardo, o MST vive uma hora dificílima, porque o governo depositário de suas esperanças não tem coragem de realizar a reforma agrária nem de enfrentar as forças políticas que tentam criminalizá-lo, como estamos vendo com a CPI da Terra.
Sei o quanto você já fez pelo movimento e sei também o apreço e o respeito que os sem-terra têm por você. Seu artigo, contudo, embora obviamente contra sua vontade, fornece munição aos adversários. Peço que o reconsidere e que venha somar conosco na defesa incondicional dos legítimos interesses dos trabalhadores rurais sem terra.
Por que não enviar uma carta aberta ao governo, a fim de exigir a publicação dos índices atualizados de produtividade da terra? Isso permitiria acelerar a reforma. Caso a reforma fosse acelerada -você o sabe tão bem quanto eu-, as pacíficas e extraordinárias mulheres do MST não seriam compelidas -como estão sendo- a realizar gestos extremos a fim de chamar a atenção da sociedade para o drama que vivem há muito tempo.



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Plínio de Arruda Sampaio, 75, advogado, é presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) e diretor do "Correio da Cidadania". Foi deputado federal pelo PT-SP (1985-91) e consultor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).

Carta ao MST

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY

Meu caro João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra):
Com o sentimento de quem tem sido solidário ao MST desde a sua fundação, como amigo da causa da reforma agrária e da realização de maior justiça em nosso país, gostaria de externar minha sincera opinião sobre os últimos acontecimentos em Porto Alegre (RS). Acredito que o MST consegue obter muito mais apoio do povo brasileiro para sua causa sempre que utiliza meios pacíficos, não-violentos, e de respeito aos seres humanos e ao que tiver sido construído honestamente por outros.


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Acredito que o MST obtém muito mais apoio do povo brasileiro para sua causa sempre que utiliza meios pacíficos, não-violentos
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Falo isso por causa do episódio ocorrido na semana passada, quando as companheiras do Movimento de Mulheres Camponesas e da Via Campesina destruíram as mudas de eucaliptos e as instalações do laboratório da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul.
Bem sei que elas desejavam protestar contra um modelo de agronegócio que o MST tem criticado, uma vez que florestas homogêneas de eucaliptos para a produção de celulose podem prejudicar a biodiversidade. Também sei que essa atitude foi uma reação à destruição da aldeia indígena dos guaranis por tratores da Aracruz no Espírito Santo. Ou seja, agiram em solidariedade aos índios guaranis.
Reitero, entretanto, a recomendação que fiz quando, convidado pelo MST, em 10 de julho de 1999, administrei uma aula na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para mais de mil jovens -de quase todos os Estados brasileiros- pertencentes ao movimento.
Dei de presente àqueles jovens a tradução que eu mesmo fiz de uma das mais belas orações da história da humanidade: "Eu tenho um sonho", de Martin Luther King Jr., feita em 28 de agosto de 1963, em Washington, no dia em que foram comemorados os cem anos da abolição da escravidão nos EUA.
Naquela época, Luther King Jr. se preocupava com a necessidade premente da aprovação da Lei dos Direitos Civis e da Lei dos Direitos Iguais de Votação. Em muitos Estados do Sul dos EUA, não era permitido aos negros freqüentar os mesmos hotéis, restaurantes, escolas e banheiros ou usar os mesmos ônibus e calçadas que os brancos. Os negros nem sequer eram considerados cidadãos americanos, pois, em diversos Estados, não tinham o direito de votar, o que gerou movimentos de revolta, quebra-quebras e incêndios em inúmeras cidades.
Foi então que Martin Luther King Jr. conclamou seus compatriotas a seguirem os exemplos históricos de Mahatma Gandhi e outros, que realizaram movimentos assertivos não-violentos para alcançar objetivos importantes e difíceis, como o da independência da Índia, em 1947.
Naquele dia, perante mais de 200 mil pessoas, disse Martin Luther King Jr.:
"Esse não é o tempo de nos darmos ao luxo de nos acalmarmos ou de tomar a droga tranqüilizadora do gradualismo. Agora é a hora de tornar reais as promessas da democracia (...) agora é o momento de fazer da justiça uma realidade para todas as crianças de Deus. Seria fatal para a nação não perceber a urgência do momento".
E, adiante, disse: "Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. Precisamos sempre conduzir nossa luta no plano alto da dignidade e da disciplina. Nós não podemos deixar nosso protesto criativo degenerar em violência física. Todas as vezes -e a cada vez-, precisamos alcançar as alturas majestosas de confrontar a força física com a força da alma".
Pouco tempo depois desse discurso, o Congresso norte-americano aprovou -e o presidente Lyndon Johnson sancionou- as Leis dos Direitos Civis e dos Direitos Iguais de Votação.
O MST tem sido muitas vezes criativo. E, assim, granjeou forte apoio do povo para a justa causa da reforma agrária -quando, por exemplo, organizou as marchas para Brasília em memória das vítimas do massacre de Eldorado do Carajás ou em memória da irmã Dorothy Stang, morta no ano passado pelos interesses do latifúndio.
Para mostrar sua solidariedade aos índios guaranis, tenho a convicção de que as mulheres da Via Campesina poderiam -e podem ainda- escolher uma forma pacífica, criativa, utilizando muito mais a força da alma do que a força física.
De outra forma, daremos razão aos que, em pleno século 21, preferem utilizar os instrumentos bélicos em vez dos instrumentos civilizatórios do bom senso e da inteligência.



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Eduardo Matarazzo Suplicy, 64, doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA), professor da Eaesp-FGV, é senador da República pelo PT-SP. É autor do livro "Renda de Cidadania - A Saída é pela Porta" (Cortez Editora e Fundação Perseu Abramo).

22 de mar. de 2006

Opus! Doeu, Alckmin?!


ELIO GASPARI - Folha de São Paulo, 22/03/2006.

Depois da farsa petista, a farsa tucana
Quem acreditou no monopólio da ética pela nação petista fez papel de bobo e, com razão, zangou-se. Só falta agora que essas mesmas pessoas resolvam acreditar no monopólio da ética pelo tucanato. Em matéria de parolagem, vem aí uma sucessão presidencial onde se encontrarão Geraldo Alckmin e seu "banho de ética" e Lula com sua megalomania: "Está para nascer alguém que venha discutir ética comigo".
Tome-se um exemplo destes dias, quando se discute a palavra do caseiro Francenildo Costa, aquele que chama Antonio Palocci de mentiroso. Que opinião uma pessoa formará desse cidadão depois de ler o seguinte diálogo:
- No sábado, eu tô ai. (...)
- Taí, se esse dinheiro sair, você pega uma boa bolada. (...)
- Quanto o senhor tem? Seis, é?
- (...) Tenho não. Dá uns dois.
Pode formar a opinião que quiser, porque Francenildo não tem nada a ver com essa conversa. Ela reproduz um trecho da gravação de uma cabala do deputado federal Domiciano Cabral, do PSDB-PB, com o empresário Julião Medeiros, seu sogro. (A Paraíba é governada pelo tucano Cássio Cunha Lima.)
O diálogo, gravado pela Polícia Federal com autorização judicial e divulgado no sábado pelo repórter Felipe Patury, não mereceu um só comentário da casa de banhos do PSDB. Na tarde de ontem, passados quatro dias da revelação, a página que o partido mantém na internet tinha 32 notícias. Vinte e seis referiam-se às roubalheiras-companheiras. Nenhuma mencionava Domiciano Cabral. Nem para que ele se defendesse.
É a lógica do barão de Araruna (Osmar Prado na novela das seis), não se discute maracutaia da casa-grande na frente dos criados.
O PSDB repete a empulhação petista. Proclama-se monopolista da ética e manda ver. Quer colocar seu candidato no Planalto julgando-se beneficiado por um habeas caixa concedido pelo Padre Eterno. Fez isso no ano passado, quando impôs à choldra a permanência do senador Eduardo Azeredo na presidência do partido. Ele fora o cabeça de uma coligação partidária que recebeu R$ 9 milhões das arcas valérias. Pode-se admitir o argumento segundo o qual esse ervanário referia-se à campanha de 1998. Pode-se até admitir que, com a candidatura de Alckmin, a conta deveria começar no zero. Pois bem: o doutor Domiciano Cabral está na jurisdição básica de Alckmin.
O PSDB quer derrubar Palocci (a quem dedicou interessada idolatria, ao tempo em que até o caseiro Nildo sabia de seus feitos valorosos). É uma idéia. Querem encurralar o governo, confrontando-o com a prepotência que cultiva. É uma ótima idéia. Desde que não toquem trombetas no proscênio para fazer acordos nas coxias. Noves fora, a proteção dada a Palocci pelos grão-tucanos, o deputado João Paulo Cunha foi presenteado no Conselho de Ética com uma indulgência do deputado Bosco Costa (PSDB-SE). Nenhum tucano mostrou-se surpreso nem o partido noticiou o feito.
Uma coisa é lutar contra a corrupção, bem outra é manipular essa luta. Essa foi a principal bandalheira petista. O surto moralista dos tucanos é falso como os depoimentos dos comissários petistas nas CPIs. Suas denúncias devem ser estimuladas, pois é preferível um PSDB denunciando Palocci a seus senadores defendendo-o. O que não se deve é acreditar na animação desse baile de solteironas. Muito menos em "banho de ética". A um banho desses, é preferível lamber sabão.

20 de mar. de 2006

O Biombo


Informação é poder. Portanto, cuidado com quem a detém!
O pai da História, Heródoto, já da conta da importância esteganografia. Histio informava Aristágoras de Mileto enviando mensagens através de um escravo. Raspava a cabeça, escrevia onde o portador não podia ler, deixava o cabelo crescer, e o enviava. Lida a mensagem, morria o portador. Era a segurança da informação. Mas, cuidado, não se pode enganar todos todo o tempo. Percebendo que os mensageiros anteriores não voltavam, determinado escravo lhe fez lerem o conteúdo da mensagem. Aquela não chegou, pois, como as outras, terminava com a determinação de que o portador fosse morto.
Quando um jornal preserva o "sigilo da fonte", pode estar ocorrendo uma de duas:
a) ou o jornal está protegendo um informante diante de alguém mais poderoso;
b) ou o jornal está protegendo seus interesses com a desculpa do sigilo da fonte.
Por exemplo, ao preservar o sigilo de quem passou a informação de que o exército negociou com os traficantes para recuperar as armas roubadas, o jornal o estará protegendo de dois braços poderosos: a) do exército e/ou, b) do tráfico.
Agora, quando um Ministro, Secretário de Estado, Presidente, Prefeito, Governador for o informante, o sigilo da fonte é ou a defesa do interesse do jornal ou a defesa de interesses dos informantes. Isto é, interesses escuros. Neste caso, cabe a pergunta: "a quem beneficia"? Quando o informante é um agente público, das esferas mais altas do poder, o anonimato não se justifica. Tudo indica que o jornalista(jornal) está tentando proteger interesses próprios ou da fonte. Com isso propicia uma relação de interdependência e de troca de favores com a fonte. Não está em jogo somente a credibilidade da informação mas também a honestidade de propósito quanto aos eventuais reflexos do fato divulgado. Por exemplo, o Ministro/Secretário denuncia um colega ou o chefe do Executivo (Federal/Estadual/Municipal), e recebe em troca espaço na mídia para se promover politicamente. Embora seja da natureza da política, não é da razão de ser da informação.
Quando a grande mídia faz uma acusação usando o biombo do sigilo da fonte poderosa, pode ter certeza, está decepando a cabeça da verdade.

16 de mar. de 2006

Papelão da Mídia

MOBILIZAÇÃO POPULAR

As lágrimas da Aracruz

Ação da Polícia Federal apoiada pela Aracruz Celulose S/A destruiu duas aldeias e expulsou 50 pessoas dos povos Tupiniquim e Guarani de sua terra tradicional, no município de Aracruz-ES. Não se viu na imprensa nenhuma mãe indígena com seus filhos chorando...

Cristiano Navarro, da Agência Carta Maior

"Jamais esperava este tipo de violência", afirmou de um hotel de luxo em São Paulo, o presidente da empresa Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, ao jornal Zero Hora da última sexta-feira (10).

No dia 20 de janeiro deste ano, a empresa Aracruz Celulose S/A mobilizou helicópteros, bombas, armas e 120 agentes da Polícia Federal do Comando de Operações Táticas (COT), vindos de Brasília, para destruir duas aldeias e expulsar 50 pessoas dos povos Tupiniquim e Guarani de sua terra tradicional, no município de Aracruz-ES.

Sem sequer receber uma ordem de despejo, os Tupiniquim e Guarani foram surpreendidos com o violento ataque. A ação, que resultou na prisão arbitrária de duas lideranças e deixou outras 12 pessoas feridas, teve todo o apoio logístico da empresa Aracruz Celulose S/A. Os 120 agentes da Polícia Federal receberam hospedagem e utilizaram o heliporto e os telefones da multinacional.

Durante a ação ilegal da Polícia Federal – condenada inclusive pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados –, tratores da multinacional destruíram totalmente duas aldeias Tupiniquim e Guarani. Todas as casas foram derrubadas e muitos índios não puderam retirar seus pertences de dentro delas.

No noticiário das grandes empresas de mídia, não se viu nenhuma mãe Tupiniquim ou Guarani com seus filhos chorando, nenhum ministro do governo condenando a ação ou mesmo o dono da empresa lamentando a violência.

Mas se por aqui as grandes empresas de mídia não repercutiram o crime cometido pelo aparelho repressor do Estado e pela Aracruz Celulose S/A, a família real da Suécia resolveu vender suas ações da multinacional devido às denúncias e fortes pressões contra a violação de direitos humanos cometidos e o desrespeito ao meio ambiente no Brasil.

Mesmo com as denúncias, a empresa ainda conta com vultusos recursos do BNDES, banco estatal. Recentemente foi noticiado que a Aracruz Celulose S/A será beneficiada com mais de R$ 297 milhões de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O empréstimo, segundo os movimentos sociais, deverá resultar na perda de pelo menos 88 mil postos de trabalho. Essa informação também não foi repassada à opinião pública nacional.

O povo vai à frente
Avançando sobre valores que representam pilares do capitalismo, como a tecnologia e a propriedade privada, claro que a ação das mulheres camponesas contra o laboratório da Empresa Aracruz Celulose S/A seria rechaçada por diversos setores. Mas é assim que avançam as lutas populares no Brasil. O povo organizado vai à frente tomando porrada de todos os lados e respondendo às urgências do dia-a-dia, enquanto busca aqui, ali e acolá os seus aliados.

Imagine se os movimentos sociais pautassem suas agendas e ações a partir das possíveis repercussões nas grandes empresas de mídia? Demarcação de terra indígena e reforma agrária, sem retomada e ocupação de terras, não existem.



é jornalista do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

6 de mar. de 2006

Aos Goebbels da VEJA


EMBAJADA DE LA REPÚBLICA BOLIVARIANA DE VENEZUELA

EN LA REPÚBLICA FEDERATIVA DEL BRASIL

Brasília, 06 de fevereiro de 2006.

Sr. Roberto Civita
Editor

Revista VEJA

Senhor Civita, permita-me iniciar esta carta com o reconhecimento à tenacidade com que seus colunistas se dedicam à tarefa de impor a verdade da mídia. Nisto, tenho certeza, seriam a inveja do mesmo Joseph Goebbels. Não obstante, permita-me também lhe aconselhar que diminua o esforço para o bem da saúde mental de seus escreventes, uma vez que o mundo que lê VEJA está convencido de sua ária pureza jornalística, de que vocês, dentro do mais tradicional esquema de jornalismo conservador -tanto na técnica como no conteúdo- se sentem donos da verdade. Já sabemos, senhor Civita, que dentro de VEJA transita o dogma e a fortaleza própria do invulnerável, que qualquer coisa que esteja fora de sua linha ou do seu âmbito ideológico é errada, que vocês estão convencidos -e são capazes de morrer por isso- de que nada diferente do que escrevem pode existir fora de suas linhas.

É óbvio, senhor Civita, que VEJA é mais que uma simples revista. VEJA é um templo sem sacerdotes, ali só há deuses, pois somente os deuses geram verdades inquestionáveis. Esta condição divina é notória, por exemplo, nas fotografias que acompanham as colunas. Veja o senhor, repare bem, na postura esnobe de Tales Alvarenga, ou no olhar onipotente de Diogo Mainardi. ¡Coitado de quem entrar no âmbito de sua ira! ¡Será condenado para sempre ao inferno!

¿Ou não é verdade que somente eles conhecem aquilo que adoece o mundo e são capazes de condená-lo?

É, senhor Civita, também sabemos. Sabemos que a VEJA condena sem julgar, porque a verdade da mídia não requer trâmites desta índole, nem está aí para isso, ¿não é? Digo, para julgar, porque o jornalismo -segundo ensina a filosofia da comunicação e todos os códigos da ética- não está projetado para ser juiz, senão para se dedicar à tarefa de mostrar os diversos ângulos da realidade que é apresentada ao mundo e deixar que sejam outros os que julguem.

Mesmo assim, devo confessar-lhe que também não acredito muito nisto e que estou mais próximo de admirar um jornalismo menos frio y objetivo, a um jornalismo que não transforme os fatos humanos em simples coisas de tipografia, tinta e papel. Devo confessar-lhe que, igualmente a no meu país, prefiro um jornalismo mais combativo, distante dessa ficção que denominam "objetividade jornalística" e próximo àquela pro atividade ética que já indicava John Dos Passos na sua novela Paralelo 42 -que acredito que o senhor tenha lido alguma vez-: "o anelo de todo jornalista era desentranhar o significado exato de toda mudança operada na realidade".

Vê, senhor Civita, Dos Passos escreve "o significado exato", nós nos perguntamos de imediato ¿de que se trata isso? E ficaríamos órfãos de entendimento a respeito se não tivéssemos a capacidade de relacioná-lo com essa maravilhosa palavra que é "desentranhar", que significa, dentre outras cosas, averiguar, penetrar o mais difícil e escondido de uma matéria.

Cobra uma melhor e mais digna dimensão profissional e ética com isto a tarefa jornalística, ¿não é assim, senhor Civita? Veja, o jornalista é uma pessoa que se submerge na realidade dos fatos, esquadrinha as suas entranhas, examina os detalhes, se desliza com sigilo entre as aristas, observa atento seus diversos ângulos e os traz todos até a superfície, para dar a oportunidade de que qualquer um que passe perto de suas bordas possa senti-las e armá-las como uma realidade mais ou menos objetiva, mas principalmente humana.

E eis aqui um dos significados da palavra "desentranhar" de que mais gosto, aquele que a apresenta como um ato voluntário de desapropriação. Nada mais humano do que desapropriar-se de tudo que se tem e se conhece para entregar ao outro com a vontade ética, social e humana que possa ajudá-lo a compreender.

Lástima, senhor Civita, mas não vejo isto no olhar dos seus colunistas, pelo menos nesse que mostram as fotografias que acompanham suas colunas.

O que é bem certo é que VEJA também não crê nem pratica o contra-sentido da objetividade jornalística. O terrível é que também não responde a isto com sentido ético, porque para VEJA o mundo adoece de um mal universal: tudo o que é sensivelmente humano fede.

É por isso que entendemos esse afã por listar nomes que, repito, desde sua ária pureza jornalística, são indesejáveis, imprescindíveis, tolos, tiranos e vagabundos que devem ser exterminados para o bem do mundo que VEJA representa, um mundo uníssono, que avança na direção de um cenário globalizado de conseqüências únicas, perfeitas e sem objeção, onde uma nova religião começa a concretizar-se com rezas e acordos de compra e venda. É por isso que para vocês nosso presidente Hugo Chávez leva uma lista longa de qualificativos indesejáveis, como tirano, ditador, assassino, populista, palhaço, louco, etc, e Bush, George W. Bush, o mesmo da guerra no Iraque, é apenas um homem preocupado pela harmonia e a paz do mundo.

Pois bem, senhor Civita, nesta nova carta que agora lhe envio -e que sei que não será publicada na VEJA-, além de expressar-lhe os sentimentos acima descritos quero também aproveitar para fechar com duas coisas importantes.

A primeira é a formulação de uma queixa oficial contra sua empregada Daniela Pinheiro, quem entre a grande quantidade de mentiras que escreve no seu artigo "Com dinheiro do povo", edição N° 1941 de 01 de fevereiro de 2006, assegura que "o embaixador da Venezuela admitiu na semana passada que é possível que Chávez assista ao desfile da Marquês de Sapucaí", quando na realidade o que foi dito foi que era pouco provável que o presidente assistisse -mas é claro, tudo vale quando se trata de jornalistas que nã0 se apegam à objetividade, mas sim à interpretação jornalística pouco desapropriada de interesses... serão ¿econômicos ou ideológicos? -¿pode o senhor sanar esta dúvida, senhor Civita?

A segunda é uma simples recomendação, e a inicio com uma pergunta: ¿ouviu o senhor alguma vez Alfredo Bryce Echenique quando se refere à posição humana do homem diante da vida e da realidade? Repare, ele disse a respeito, que "na vida, a única objetividade possível é a subjetividade bem intencionada". Nós cremos o mesmo do jornalismo, cremos que este é o sentido exato que deve praticar-se nesta profissão frente a esse contra-sentido da objetividade a secas. ¿Por quê? Simples. Porque o jornalismo não é um templo de deuses, mas uma praça de vizinhança.

Julio García Montoya

Embaixador