21 de jul. de 2004

Padre Padrone

O filme dos irmãos Taviani, Padre Padrone, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, em 1977. Baseia-se na obra homônima, e autobiográfica, de Gavino Ledda. Na Itália passam das 17 edições, e no Brasil já ganhou duas: Uma do Círculo do Livro nos anos 80 e agora outra da Berlendis & Vertecchia, onde  faz parte da coleção Letras Italianas.
Livro e filme mostram a tragetória do autor, na Sardenha. Percorre o caminho que o leva da liberação da tirania paterna,  ascendendo de pastor a professor universitário de glotologia. Sem sair da Sardenha.
É quase uma figura mitológica devido à carga arquética de sua história. De algum modo, todos os que se sentem oprimidos por qualquer tipo de poder encontram neles, filme e livro, inspiração e acalanto. Para não dizer esperança.
Lembrei-me deste livro ao ver no nosso governo, que gosta de usar metáforas das relações familiares, um Padre padrone (“Um pai não pode sair castigando o filho sem saber o que aconteceu realmente”, disse Lula). Parole parole, como na canção francesa.
Teríamos de nos transformamos em glotólogos e psicanalistas para desvendar o emaranhado lulista de ser. Veja-se o discurso e a prática.
Logo após a posse, Lula declarou-se "o primeiro servidor público do meu país". No entanto, usa e abusa do chicote, castigando, na esteira do governo Collor, todos os  servidores, ativos ou inativos, jovens ou velhos, bons ou maus. A primeira e grande medida do governo foi exatamente castigar os servidores. A grande reforma ainda continua sendo o achatamento salarial e a desqualificação:
- "Se um cortador de cana tem que trabalhar 60 anos para se aposentar, por que umprofessor universitário se aposenta com 53?", filosofou Lula.
Um presidente que não consegue distinguir, não pode opinar. O que Lula quis dizer? Que a professora deve se aposentar aos 60 anos? (Lula se aposentou aos 42 anos, idem FHC...) Que não vale a pena estudar? Ou que uma cortadora de cana deveria se aposentar antes do 60? Não, Lula capitalizou toda sua ignorância nesta aplicação patronal. É aqui que o pai transforma-se em patrão.
Lula não estava demonstrando preocupação com a situação social da cortadora de cana, tampouco da professora. A tal ponto que equipara situações tão díspares quanto estas. Estava administrando um orçamento, pensando na conta da previdência.
Não houve condescendência com os servidores públicos. Os velhinhos foram às filas, os inativos passaram a contribuir com 11% de seus salários, e os servidores ativos agora precisam completar 60 anos para se aposentarem.
Após ter conseguido "tudo isso", o Padre Padrone se revela. As fraudes na previdência continuam, inclusive na sala ao lado da sua, no Palácio do Planalto.
E agora seu senso de justiça torna-se ainda mais claro: um simples aumento de 0,6% na contribuição patronal foi por terra.
Para cobrar 11% dos inativos transformou-se m Fausto, e agora ajoelha-se diante dos empresários. Padre padrone!
A liberação do discurso petista nos vem pelo domínio de sua linguagem.  O conhecimento liberta.
PT NUNCA MAIS!

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