10 de fev. de 2006

A entrevista de FHC e a lista do Dimas

TRIBUNA DA IMPRENSA, 10/02/2006.
"Para os mineiros, o publicitário Marcos Valério é malinha perto de Dimas Toledo, o diretor de Furnas que contou a Jefferson sobre o esquema de desvio de R$ 3 milhões mensais na estatal". (Márcia Petier, colunista do "Jornal do Brasil", julho de 2005)

Por que você acha que FHC veio correndo da Europa e concedeu uma entrevista à revista "IstoÉ" usando uma linguagem grosseira, que nunca esboçou antes. Na qual diz de forma direta que "a ética do PT é roubar"?

Não é uma estranha coincidência que isso tenha ocorrido no auge do grande escândalo sobre uma lista de propinas a que teria recheado por baixo do pano as campanhas de 156 políticos, a maioria do seu partido e de aliados?
Pelos cronistas da capital, a lista atribuída a Dimas Fabiano Toledo, diretor de Furnas que atravessou os governos de FHC e Lula, pode ser uma pá de cal em tudo o que se falou até agora nas comissões parlamentares de inquérito contra os acusados ligados ao PT.

Fernando Rodrigues, da "Folha de S. Paulo", comentou com a autoridade de um profissional realmente sério e competente: "A semana está terminando com a história da lista de Furnas no ar, ninguém sabe o que vai dar, nem se haverá a troca dessa lista com o depoimento ou não, na semana que vem, do publicitário Duda Mendonça. Há muita negociação para que Duda não venha mais depor em nenhuma CPI. Em troca, não vai ser chamado também Dimas Toledo, que vem sendo citado como a pessoa que ajudou tucanos e outros políticos a montarem um esquema de caixa 2."

Já no dia primeiro, o ex-deputado Roberto Jefferson havia confirmado na Polícia Federal que recebeu R$ 75.000,00 das mãos do ex-diretor de Furnas. Foi ele, aliás, quem deu os primeiros detalhes do esquema de corrupção na empresa, que teria contado com a colaboração de 800 empreiteiros e fornecedores para as eleições de 2002, num volume de R$ 39 milhões 910 mil.

Campanha milionária
O próprio Dimas teria se beneficiado dessa arrecadação. Com uma campanha milionária, elegeu o filho de 26 anos pelo PP como o terceiro deputado estadual mais votado de Minas: exatos 79.407 sufrágios. Oficialmente, o garoto, que fora vereador em Varginha, declarou ao TRE ter arrecado R$ 432 milhões e 200 mil.

Há uma idéia disseminada e aceita por muitos de que a tal lista não tem o menor cabimento. No entanto, o "Observatório da Imprensa" questiona:

"No que diz respeito ao trabalho da mídia, uma lacuna cresce a cada dia de silêncio. Trata-se da omissão da existência de um laudo do Laboratório de Perícias, empresa do perito Ricardo Molina de Figueiredo, professor-doutor da Unicamp, que assina o documento datado de 28 de outubro de 2005. Molina é um velho conhecido dos jornalistas".

No seu lado, de 28 de outubro de 2005, o perito conclui: "No caso em questão, é possível, dentro das ressalvas apontadas, afirmar que o documento questionado não apresenta indícios de manipulação fraudulenta. Existe alinhamento nos eixos vertical e horizontal, não há vestígios de inserções a posteriori¸ os espaçamentos são regulares etc. Uma verificação definitiva quanto à sua autenticidade, no entanto, dependeria da análise do documento original".

A história do documento original é confusa. Segundo o professor aposentado Luiz Fernando Carceroni, 58, de Minas Gerais, "o documento foi entregue ao delegado Zampronha, da Polícia Federal em Brasília. Eu mesmo fiz a denúncia eletrônica ao Ministério Público Federal e à Controladoria Geral da União, após receber a minha cópia".

O professor, fundador do PT (isso não quer dizer muito, mas serve para alimentar dúvidas), endereçou uma carta ao jornalista Élio Gaspari, cujo teor me foi repassado por um leitor. Em seu relato, o professor comenta:

"1 - Dimas Toledo é relacionado com o governador Aécio Neves. Aécio cobrou de Lula a manutenção de Dimas Fabiano Toledo na diretoria de Furnas, como o nome de Minas. Ao mesmo tempo, Itamar Franco também exigia o controle político sobre Furnas, com outros nomes. Prevaleceu o desejo do governador e Itamar ficou possesso. A disputa pelo cargo freqüentou a imprensa mineira. Dimas é conhecido pelas suas relações com as empreiteiras.

Ele ocupou, por anos, a diretoria de obras de Furnas e há muito é tido como arrecadador de recursos financeiros nas eleições. Para ser sincero, não há como duvidar, o nexo é forte. A surpresa seria se Dimas não fosse instrumento de caixa dois. Ele comandava a diretoria de obras de Furnas, que tem entre suas incumbências realizar as medições de serviços, a verificação da qualidade do material empregado e o acompanhamento da execução correta do projeto de todas as obras novas e da manutenção de Furnas.

Enfim, as suas decisões condicionam os milionários pagamentos das empreiteiras. É por isto que a ocupação do cargo é muito disputada. Neste tipo de trabalho é fácil ocorrer propina e a formação de caixa dois. O difícil é provar e temos uma porta entreaberta nesta cópia de relatório. O que está nele apontado é factível e apresenta uma linha clara de investigação."

Lobista da pesada
2 - É relevante saber que o relatório apareceu das mãos de Nilton Monteiro, conhecido lobista mineiro. Por duas vezes ele já mostrou que os documentos que consegue são sólidos. Foi o autor, em 2001, de acusações documentadas de irregularidades no governo do Estado do Espírito Santo, então sob controle do PSDB. Ficou comprovada a corrupção no governo capixaba. E agora, com os documentos que comprovam o caixa dois e corrupção de Eduardo Azeredo e seu vice (PSDB/PFL), que foram levados por ele à Polícia Federal em Brasília e tiveram a sua autenticidade atestada em perícia.

3 - No caso Furnas, ele mostrou o original do relatório, com firma reconhecida, a duas pessoas, e forneceu uma cópia do relatório e da perícia de Molina (me deram uma cópia da cópia). Molina recebeu pelo serviço e sabe quem encomendou e pagou. Nilton confirmou ao delegado federal de Brasília, dr Zampronha, que esteve com o original, mas alegou tê-lo devolvido para a esposa do advogado de Dimas Toledo, que faleceu. Antes de ir a Brasília, ele queria muito dinheiro pelo original, atualmente desconversa. Pode ter conseguido vender.

Eu creio que se a PF se empenhar, demonstra (elucida) este caso, a partir da cópia. Com a quebra de sigilo bancário e principalmente telefônico, chega-se ao forte relacionamento de Dimas com os coordenadores de campanha citados nos boxes do relatório. A própria cópia do documento é passível de confirmação relativa e pode servir como indício a ser confirmado pelas investigações.

4 - Finalmente a pergunta que já ouvi algumas vezes. Por qual motivo Dimas faria um relatório assinado e incriminando ele mesmo? De certo ele fez relatório e prestou contas a um superior, por escrito. A pergunta deve ser outra. Com qual propósito ele usou papel timbrado e assinou? Acredito que ele tinha um relatório e recentemente imprimiu em timbrado e assinou, a pedido de seu advogado.

Disseram a ele que seria apanhado pelas acusações de Roberto Jefferson, que provocou a sua demissão. Argumentaram com ele que, para se proteger, deveria incriminar com provas a oposição, para cessar as denúncias. Só que Nilton incentivou o advogado dele a obter o documento assinado para outra finalidade. Seria usado para juntos ganharem dinheiro de interessados pelo documento.

O reconhecimento da assinatura de Dimas foi feito no Rio em 22/09/2005. É recente. É o que Nilton disse para as duas pessoas e faz sentido. Ele usou o mesmo artifício no caso Azeredo e no capixaba".
Bom, esta é uma matéria que não pode morrer. Por isso, vale aprofundá-la.

porfirio@pedroporfirio.com


Esta coluna é atualizada às segundas e quintas-feiras.