Meu expediente encerra às dezenove horas. Alguns minutos depois sigo por 43 km até minha residência. No caso, vou ouvindo, sempre a Voz do Brasil. É um costume que tenho desde os tempos da roça. Lá em casa só tínhamos rádio. A Voz do Brasil mudou da minha adolescência até os dias atuais. Já faz algum tempo. Talvez seja o espaço mais democrático de informação que dispomos.
E também pode ser divertida. Vou sentir saudades dos discursos do Artur Virgílio e do Pedro Simon. Uma dupla canastrões dos microfones. Não farão falta pelo muito que disseram e pelo pouco que fizeram. Pelo menos nos últimos quatro anos, os discursos do Pedro Simon pareciam ditados por um ET. Veio de Marte, estacionou em Brasília e desconhecia o RS. Uma pena. Muitos acontecimentos políticos relevantes estavam acontecendo por aqui. Mas Pedro, o Simon, preferiu não conhecer o RS, nem dar satisfação aos seus eleitores. Se é que eles não o escolheram exatamente por esta capacidade autista. E só a Voz do Brasil propiciava que nós gaúchos ouvíssemos Pedro Simon. Só aparecia por estas plagas clandestinamente. Não tínhamos conhecimento de suas abalizadas opiniões, através dos veículos de comunicação deste Estado, sob a batuta dos Varões de Sirotsky. Fizeram um pacto de silêncio e cumpriram.
Há quem não goste da Voz do Brasil. E é fácil de saber quem e porquê. A velha mídia, que perde espaço publicitário, leia-se dinheiro. E ela vive de dinheiro, e usa a publicidade para isso. E os títeres da velha mídia neste Bunraku sulista, estes gostam de ser manipulados, porque não têm luz própria.
Ontem, por exemplo, foi discutido no parlamento a PEC 300, que trata do piso nacional dos policiais e bombeiros. Só fiquei sabendo porque ouvi a Voz do Brasil. Ao mesmo tempo, ontem, o Rio de Janeiro vivia dias de guerra. Não houve conexão entre o que se discutia no Parlamento e o que acontecia na Cidade Maravilhosa. No entanto, tinha tudo a ver uma coisa com a outra. Isto é, sem condições mínimas para o trabalho dos policiais, não há como combater criminosos. E o que estava em discussão era o mínimo, não o máximo.
Porta-voz da RBS
A flexibilização da Voz do Brasil, o eufemismo como foi chamada a burka, é de autoria de um dos porta-vozes da RBS, Sérgio Zambiasi. Entendem que (só) o que é bom para eles é bom o Estado.
Este termo, flexibilização, é muito caro a títeres. Sempre que se aumentava algum imposto ou se retirava algum direito dos trabalhadores, o governo do prof. Cardosos chamava de flexibilização. Neste contexto, flexibilizar equivale a aplicar a mão-leve. Surrupiar! No caso, transferir o horário da Voz do Brasil equivale a censurar, impedir que um maior número de pessoas tenha acesso ao programa de interesse nacional. Esta mordaça imposta pela velha mídia diz muito do espírito democrático dos signatários do Instituto Millenium. Democracia, para as famiglias Sirotsky, Marinho, Frias, Civita & Mesquita é tudo aquilo que ELES têm a dizer, e tudo aquilo que eles querem esconder. O silêncio também é uma forma eloquente de se fazer ouvir.
Aos poucos, os Luís XIV das comunicações pretendem tomar conta do Estado. Só eles sabem o que é bom e o que é ruim para o Estado. "L'État c'est moi", dizem!
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