Antes, para introduzir, um bom Camões:
- Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
É tudo para dizer que “o mundo gira e a lusitana roda” (lusitana era uma empresa de transporte que se expandiu com este slogan), mas a RBS continua a mesma. Foram-se se os Mendelskis, os Barrionuevos, mas ficaram os Lasiers os Prates, e brotam os Coimbras… Este Coimbra, um pigmeu, é uma espécie de ventríloquo, uma piada que herdamos dos portugueses, mas que não gira nem roda. Abaixo texto que publiquei em 2002, com a troca de emails, oito anos atrás, num site que eu tinha no HPG (eu sou do tempo do Geocities….), que pertence ao IG.
At 09:08 23/01/02 -0200, you wrote:
> Oi, Nivaldo, no jornal Zero Hora de hoje saiu a seguinte nota:
"Aviso aos Navegantes
Um texto com dados falsos sobre a RBS levou o editor da Carta Capital, Mino Carta, a publicar em destaque na última edição da revista o seguinte alerta:
“Aviso aos Navegantes. Sites na Internet estão divulgando um artigo intitulado A Verdade Escondida, sobre o Grupo RBS, assinado por Nivaldo T. Manzano, que teria sido publicado em Carta Capital datada de 11 de janeiro. Esta edição simplesmente não existe e o artigo em questão não foi publicado e não será em qualquer outra”.
Não conheço o texto de que fala a RBS. Aliás, já que o assunto é este, gostaria de saber, se possível, como está aquele trabalho que estavas fazendo sobre a RBS.
Um abraço
gilmar crestani
Nivaldo T. Manzano" < n.manzano@pop3.uol.com.br >
Assunto: Re: Nota publicada na ZH
Obrigado pela notícia.
Ocorreu o seguinte: Escrevi a matéria sobre a RBS, que envio aqui. Como a empresa que me solicitou a matéria me informou que seria publicada em CartaCapital, escrevi-a como se fosse. Ocorre que a matéria foi entregue pela empresa à CartaCapital, que não a publicou. Alguém, que não sei quem seria, divulgou-a pela internet. Essa é a história.
Um abraço
Nivaldo
A Verdade Escondida
Para quem está acostumado a vencer a qualquer preço, a derrota é insuportável. Distinguida com concessões públicas e generosidades durante a ditadura militar, em troca de sua adesão ao regime, a Rede Brasil Sul (RBS) de comunicações — um complexo empresarial familiar integrado por mais de 60 emissoras de rádio e televisão e jornais — conquistou ao longo do tempo tal poder de influência sobre a opinião pública da região Sul do País que se acreditava um verdadeiro partido político, o partido da família Sirotsky.
Entre seus muitos feitos na política, o partido Sirotsky fez de um de seus ex-funcionários governador do Rio Grande do Sul (Antônio Brito) e de outro, porta-voz do Palácio do Planalto (Alexandre Garcia). Mas até hoje nenhum Sirotsky assumiu a política na primeira pessoa. Fiel à sua estratégia de amealhar fortuna mediante o aumento do poder de influir sobre a sua audiência, o clã sempre preferiu mandar em quem manda, com o que se poupou do desgaste eventual de quem se submete ao crivo das urnas. “Para que ser ministro, se disponho do poder de nomeá-los?” — argumentava o mago das comunicações Assis Chateaubriand, dos Diários Associados.
Foi assim até o momento em que o partido Sirotsky — com o lema “Rio Grande Vencedor” —, tendo como candidato à reeleição o então governador Antônio Brito —, perdeu para Olívio Dutra, o candidato petista da Frente Popular. Não estranha que o ressentimento tenha incubado o desejo de sentir o cheiro de sangue. O partido Sirotsky parece não se conformar com a nova realidade — uma democracia que se faz mais substantiva a cada dia.
Nas rodas de conversa na Assembléia Legislativa gaúcha, dominada pela oposição, comenta-se que até na região de Bagé, reduto do conservadorismo, os chefes políticos locais têm preferido encaminhar seus pleitos regionais via orçamento participativo, em virtude da relação positiva de seu benefício/custo, em comparação com o preço elevado cobrado pela intermediação clientelística do passado. Estaria aí a razão do estreitamento das afinidades eletivas entre a oposição ao governo petista e o partido Sirotsky. Se as comunidades se entendem publicamente sobre como aplicar os recursos do Estado, de forma descentralizada, para que serve quem se atribui o poder demiúrgico de decidir em conciliábulos sobre o destino do orçamento?
Em defesa do governador, sobre quem paira um pedido de indiciamento por crime de responsabilidade e outras violações, partidários da Frente Popular reagem dizendo que se assiste ao início do desmantelamento do poder oligárquico no Estado e de sua promiscuidade com a coisa pública — e, nessas circunstâncias, a manobra parlamentar era previsível. No que diz respeito à RBS, aduzem que o grupo teria razões para temer: a sua familiaridade com a suspeita de sonegação fiscal e evasão de divisas é atestada, por exemplo, pelos inquéritos nº 9-0608/98 e nº 9-606/98, da Polícia Federal, que em 1998 investigava as circunstâncias em que os responsáveis pelas empresas South Service Trading SA e Zero Hora Editora Jornalística SA, ambas da família Sirotsky, teriam remetido valores de forma indevida para o exterior. É certo que seu diretor e acionista Marcos Dvoskin, ex-motorista de taxi casado com uma Sirotsky, foi autuado pela Receita por evasão de US$ 5 milhões; por coincidência foi transferido no mesmo ano para a direção da Editora Globo, em São Paulo.
Segundo Luís Fernando Veríssimo, ao sair vencedora nas urnas, a Frente Popular de Olívio Dutra cometera o desplante de contrariar interesses poderosos, na sua ousadia de ser eleita pelo voto. Daí o empenho da RBS, alegam os governistas, em se juntar à oposição para desviar os objetivos de uma CPI criada originalmente para investigar a “banda podre” da polícia, convertendo-a num processo político de impedimento do governador.
Ou o PT ou a RBS — assim parecem postas as coisas na política gaúcha pelo partido Sirotsky, que coordena a união das oposições na orquestração dos ataques ao adversário. “Se deixar o PT chegar ao fim de seu governo, a RBS não conseguirá fechar o seu balanço em 2001” — teriam comentado alguns executivos do grupo, demitidos recentemente por ganharem acima de R$ 15 mil mensais, na culminância de um processo de enxugamento dos quadros da empresa.
Uma das maiores empresas do RS, com um faturamento anual de R$ 1 bilhão e com 4.500 funcionários, a RBS, integrada à rede Globo de TV aberta, absorve mais de 60% dos investimentos feitos em publicidade nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Emprega um em cada dois profissionais de comunicação da capital gaúcha e domina os principais meios de comunicação das respectivas capitais e do interior. Em razão de sua onipresença no quinhão que lhe coube da partilha territorial pelo controle da opinião pública nacional, o poder relativo de influência da RBS+Globo nesses Estados, aferido pela unidade Globo de medida, valeria de duas a três vezes mais que o da própria Globo em relação ao resto da nação. Ou seja, para a audiência gaúcha e catarinense, a RBS+Globo apresenta-se com a força de uma Globo com expoente elevado ao cubo.
É o que basta para os militantes da Frente Popular de Olívio Dutra enxergarem sinais de conspiração por parte do “Rio Grande Vencedor”, como parte de uma estratégia mais ampla, que se estenderia para além das fronteiras regionais. É no Rio Grande do Sul que o candidato Lula venceu em 1994 e 1998 as eleições presidenciais. É ali, mais que em outra parte, que se jogaria o resultado do pleito de 2002. É ali que o estilo e o conteúdo da administração do PT e da Frente Popular testemunhariam perante o resto da nação a acolhida majoritária de seu programa, ao encaminhar-se para a conclusão de 16 anos ininterruptos de mandato à frente da administração municipal de Porto Alegre. “Se o PT e a Frente Popular conseguirem dobrar a oligarquia gaúcha, os eleitores de todo o País poderão encontrar aí razão para confiar em que a sua proposta é viável”, afirmou a este repórter Luiz Antônio de Sá Brito Domingues, advogado e funcionário aposentado do Tribunal Regional do Trabalho.
Para se compreender o acirramento dos ânimos entre o governo petista e a oposição, parece necessário atentar para a correlação entre (1) a tentativa de impedimento do governador por suposta ligação de seu partido com o jogo do bicho, (2) a coincidência entre a desintermediação clientelística estimulada pela prática petista do orçamento participativo e a crise financeira da RBS e (3) a absorção remunerada do ex-governador Antônio Brito por um flanco do núcleo empresarial responsável no plano nacional pelo fundo informal de campanha do candidato situacionista ao posto de FHC, ao qual o falecido ministro Sérgio Mota delegara a responsabilidade financeira de manter por pelo menos vinte anos no poder os atuais partidos governantes.
Como se sabe, Antônio Brito, que na condição de governador torceu para que a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) fosse entregue ao consórcio do qual participavam os seus ex-patrões, passou a integrar a folha de pagamentos do grupo Opportunity em 1999, ano em que seu presidente, o banqueiro Daniel Dantas, comprava uma frota de três jatinhos executivos — um 750 Citation, prefixo PT WUN; um Beach King Air, prefixo PT WSJ; e um Excell C560 XL, prefixo PP RAA, os três no valor total de US$ 36 milhões — contrariando o parecer dos fundos de pensão Previ, Telos e Petros, seus sócios nas empresas de telecomunicações privatizadas. O “Consórcio Voa” encontra-se à disposição de Brito nas suas andanças pelo País, para a articulação das eleições presidenciais e estaduais de 2002. Ex-empregado de confiança da Globo e da RBS, Brito, apeado de seu “Rio Grande Vencedor”, abraçou a tarefa cívica de reunir capital político e financeiro para derrotar quem o derrotou. O partido Sirotsky não se dobra à vontade do eleitor.
O mais nebuloso dos três itens mencionados é o (2). Trata-se de explicar de onde é que a RBS, em estado de insolvência técnica, como se mostrará a seguir, continua retirando recursos financeiros para mover as suas empresas, de baterias assestadas na direção do governo Olívio Dutra. A exemplo do besouro, que pelas leis da aerodinâmica não teria condições de voar, uma análise dos balanços das empresas da RBS, referentes ao período de 1996-2000, mostra que o grupo Sirotsky continua zumbindo, muito tempo depois de esgotado todo o seu combustível.
Ao longo de 2001, pelo menos em duas ocasiões auditores da Globo instalaram-se nas dependências da RBS para estudar uma forma de injetar-lhe oxigênio, mediante rearranjo do controle acionário. Compreende-se a solicitude do parceiro: a RBS, a sua principal coligada e terceira maior empresa de comunicação do País, é o seu bastião estratégico na porção Sul do território nacional, com jus primae noctis sobre as audiências do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, Estados onde a Globo, por entendimento mútuo, somente pode entrar mediante assentimento prévio da repetidora gaúcha.
No andamento dessas negociações, a RBS foi atropelada pela notificação de indeferimento por parte do Refis a seu pedido de renegociação dos débitos de algumas de suas empresas junto ao INSS — entre as quais a Net Sul Comunicações Ltda., a Net Florianópolis SA, a Rádio Gaúcha SA, a RBS TV de Florianópolis SA, a Televisão Gaúcha SA, a Zero Hora Editora Jornalística SA e a Empresa Jornalística Pioneiro SA —, e por uma autuação fiscal da Receita cujo valor oscilaria entre R$ 160/200 milhões.
Diante de argumentos tão convincentes, as partes parecem ter julgado ser de melhor alvitre recorrer ao Palácio do Planalto, para que apressasse a Câmara dos Deputados a votar até o início de dezembro o projeto de lei que altera o artigo 222 da Constituição e permite o ingresso de capital estrangeiro nas empresas de comunicação nacionais até o limite de 30% do controle acionário. Não se encontrando a RBS em condições de esperar até lá, a Globo teria assumido a folha de pagamentos de sua coligada referente ao mês de agosto e, possivelmente, também de setembro, além de postergar sine die a cobrança pela retransmissão de seus programas, segundo informa um membro da diretoria do sindicato dos jornalistas do Rio Grande do Sul.
Nesse período, a RBS, sabidamente em dificuldades desde que se meteu na privatização da CRT e na NetSul, espalhou boatos sobre as suas novas frentes de expansão, como as supostas negociações para a compra do jornal Folha do Paraná, da família do ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira, de mais um jornal em Santa Catarina, e o seu ingresso no segmento de revistas.
Céticos, analistas de mercado afirmam que nada disso poderia ocorrer, pois o passivo total das principais empresas do grupo supera o valor do ativo permanente. Se tudo permanecer como está, para pagar as suas dívidas, a RBS teria de vender, em bens de seu ativo permanente, prédios, máquinas, equipamentos, instalações, marcas e o que mais houver. O grupo dispõe de apenas R$ 0,38 de recursos próprios para pagar cada R$ 1,00 que deve. No jargão contábil, a sua situação é de iliquidez geral. Cruzando-se os vários indicadores do estado de saúde do paciente em 31 de dezembro de 2000, expressos nos seus balanços, é possível observar que a RBS encontra-se no plano inclinado da quebra, tanto mais iminente quanto mais o grupo alavancar recursos de terceiros.
A crise não é de agora. No período 1996-1998, o grupo realizou grandes operações de tomada de crédito, com o objetivo de pôr em prática um temerário plano de expansão. É o que confirma o exame dos atos societários arquivados na Junta Comercial gaúcha. De 1998 em diante, já no ocaso do governo Brito, uma radical inversão de expectativas determina a eclosão de uma grave crise financeira e operacional não apenas da Zero Hora — responsável pela edição do jornal do mesmo nome, de maior tiragem no Estado —, mas de todo o grupo RBS. Em 1999, quando adveio a desvalorização do Real, a empresa e todo o grupo estavam operando com vultosos financiamentos tomados em moeda estrangeira e títulos lançados no exterior. Com isso, os Sirotsky viram duplicados os seus compromissos por financiamento em moeda estrangeira. Assim, o balanço da Zero Hora Editora Jornalística SA, referente ao exercício de 1998, revela uma situação de baixa liquidez e baixa eficiência no emprego de capitais de terceiros, situação que não chega ainda a caracterizar as “posições gravíssimas”, na expressão dos analistas, que seriam registradas em 1999 e 2000. Em 2000, a Zero Hora obtém êxito na alavancagem de recursos de terceiros, ao mesmo tempo em que colhe prejuízos arrasadores, infletindo ainda mais a curva de resultados negativos.
A incapacidade atual da empresa de gerar lucros está associada ao custo financeiro insuflado pelas suas dívidas. Assim, a Zero Hora encontra-se envolvida num ciclo perverso de realimentação de perdas, com a conseqüente e veloz exaustão dos ativos, ao mesmo tempo em que as exigibilidades são puxadas para o alto, crescendo sem controle. De cada R$ 9,00 de custo, apenas R$ 1,00 provém do resultado das atividades da empresa, enquanto os restantes R$ 8,00 correspondem a juros e demais custos dos empréstimos e outras formas de recursos de terceiros.
O resultado é que o patrimônio líquido da Zero Hora foi tragado completamente em apenas um exercício (2000), passando de positivos R$ 45,84 milhões, em 31.12.99, a R$ 17,45 milhões negativos, no ano seguinte. Tudo indica que não se trata de episódio efêmero. No período 1996-2000, as despesas financeiras aumentaram 256%, ao mesmo tempo em que o lucro por ação (lucratividade do capital social) caiu de R$ 7,26 positivos para R$ 13,24 negativos. Em outras palavras, os esforços operacionais da empresa estão produzindo resultados em sentido contrário. Pela leitura de seus balanços, a Zero Hora está ligada em marcha a ré, gerando apenas prejuízos. Nessas condições, quanto mais tempo a empresa funcionar, pior, pois mais prejuízos serão produzidos. Não há, pois, como endividar-se ainda mais, já que a empresa não pode oferecer qualquer garantia a seus atuais e eventuais futuros credores. Todos os recursos são de terceiros e, como estão totalmente sem cobertura de ativos, a situação é de insolvência.
Quando a esse desempenho se juntam os de outras 14 empresas do grupo, segundo balanços do exercício de 2000, a metáfora do besouro retorna com igual propriedade:
— O déficit financeiro, em crescimento, atinge $$ 424 milhões, sendo R$ 51 milhões a curto prazo (até doze meses da data do balanço — 23 e 24 de abril de 2001) e R$ 373 milhões a longo prazo (além de doze meses);
— O valor total do déficit supera o valor total das receitas líquidas do exercício, de R$ 403 milhões, de todo o grupo RBS;
— Esse déficit gerou em 2000 despesas financeiras líquidas de R$ 150 milhões, correspondentes a 37% da receita líquida;
— Os valores a pagar a curto prazo somam R$ 242 milhões, sendo R$ 16 milhões na rubrica Instituições Financeiras, R$ 6 milhões na de Empréstimos no Exterior e o restante a diversos outros credores;
— Os valores a pagar a longo prazo somam R$ 448 milhões, sendo R$ 16 milhões a credores nacionais e R$ 343 milhões a credores no exterior;
— As dívidas totais somam R$ 700 milhões, correspondentes a 1,74 vezes o total da receita líquida do exercício.
— Na outra ponta, a geração de receitas líquidas dos últimos três exercícios é declinante, tendo caído de R$ 489 milhões em 1998 para R$ 440 milhões em 1999 e R$ 400 milhões em 2000;
— As despesas aumentaram ano a ano, com destaque para as despesas financeiras líquidas, que passaram de R$ 78 milhões em 1998 para R$ 150 milhões em 2000;
— O prejuízo operacional foi de R$ 182 milhões; e, mesmo subtraindo-se desse resultado as despesas financeiras, o prejuízo é de R$ 32 milhões, o que significa que as atividades do grupo estão gerando resultados negativos frente a um endividamento crescente (veja a situação patrimonial no quadro ao lado).
A conclusão dos analistas ouvidos por CartaCapital é que a RBS “encontra-se em estado de insolvência técnica, com crescente deterioração de sua posição econômica e financeira, que poderá levá-la do estado falimentar para a falência real”. Se a RBS vender tudo o que possui e, com os recursos obtidos pagar os seus credores, ainda assim haverá no final um rombo de R$ 43 milhões.
É nesse contexto que o partido Sirotsky abraçou com entusiasmo a causa do “Rio Grande Vencedor”, na campanha para a reeleição de Brito. Durante o governo Brito, os benefícios diretos auferidos do governo gaúcho pela RBS, na forma de publicidade e outros serviços de comunicação, montaram a pelo menos R$ 60 milhões por ano. Com a derrota do “Vencedor”, o grupo teve de se defrontar com um governo cioso de sua equanimidade na distribuição de recursos para a publicação de editais, comunicados e balanços entre os órgãos de comunicação gaúchos. Além disso, em contraste com o governo Brito, o de Olívio Dutra equilibrou as finanças do Estado, e em razão de sua eficiência acabou estimulando a cobiça de sanguessugas da privatização, ao valorizar alguns “objetos de desejo”, tais como a companhia estatal Sul Gás e o banco estatal Banrisul. A Sul Gás, que no período Brito não passava de uma empresa no papel, é avaliada hoje pelos petistas em R$ 850 milhões, depois de Dutra nela ter injetado pouco mais de R$ 30 milhões, enquanto o Banrisul tornou-se um banco solidamente ancorado.
Mas a prova dos nove é que o besouro voa. Segundo noticiou CartaCapital duas semanas atrás, Gustavo Franco, o mentor da engrenagem cambial que levou para a UTI grandes empresas de comunicação do País, é quem está agora à frente da Rio Bravo Investimentos, em busca de ganhar dinheiro oferecendo a esses mesmos grupos a engenharia financeira capaz de tirá-los do buraco.
Da engenharia política, posta em marcha pela campanha eleitoral, cuidará ele também, por afinidades ideológicas, e cuidam outros. Ah! como é reconfortante vislumbrar perspectivas ubertosas no fundo informal de campanha. Neste limiar de ano eleitoral, pode dizer-se que nada mais oportuno do que se apresentar ao comitê integrado por Brito em estado falimentar. Passando à frente de seus pares na disputa pelo botim, a RBS habilita-se assim a ganhar o primeiro bocado. Afinal, a máquina de controle da opinião pública na porção Sul do território Global, já avariada, encontra-se sob o risco iminente de enguiçar.
------------------------------------------------------------------------------
(quadro)
Situação patrimonial em liquefação
Capitais próprios: R$ 662 milhões
Capitais de terceiros R$ 705 milhões
Patrimônio líquido negativo R$ 43 milhões
Nenhum comentário:
Postar um comentário