A Folha foi tosquiar e saiu tosquiada. Gostaria ver o rebuliço que daria se a reportagem tivesse sido feita com outras famílias. Até hoje ninguém explicou direito as famiglias do professor Cardoso. Ou de que vivem as filhas do sociólogo e ex-presidente. E José Serra? Como era a vida antes e depois de o PSDB ter chegado ao poder? Parece tão natural falar da família do Lula. Quanta decepção ao constatarem que não houve o mesmo compadrio de outros políticos. Gostaria de ler uma mesma reportagem a respeito da famiglia de Antônio Britto ou de Yeda Rorato Crusius. Se possível na frente das crianças. De Rigotto, nem se fala, que a matriarca vem de tacape em punho...
O ódio da direita, dos macarthistas gaudérios e dos coronéis além Mampituba, decorre da falta de compreensão. De que alguém possa ocupar os mesmos postos que eles e não usar isso em benefício próprio. Quando aparece algo, festejam como quem goza. Uma tapioca vira pauta nacional e ocupa furiosos espaços em todos os veículos da velha mídia. O coronelismo eletrônico, capitaneado pela VEJA, entra em transe. Freud explica.
Para nós gaúchos, a reportagem não nos é estranha. O jornalista Adão Oliveira registrou, em 2005, no Jornal do Comércio algo parecido sobre Olívio Dutra:
Ontem (16/08/2005), vi uma foto do ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra, tomando chimarrão, espremido na apertada sala de sua residência, na zona norte da cidade. Até aí nada de mais, não fosse o ex-bancário ter ocupado a chefia do Executivo gaúcho e o ministério das Cidades, durante mais de dois anos do governo Lula. Olívio não é mais governador e muito menos ministro, mas continua o mesmo sujeito simples de antes. O missioneiro, que mandou e desmandou em orçamentos altíssimos, não mexeu em nada que não lhe pertencesse. O cofre nunca lhe caiu nos pés. Terminadas as suas tarefas, Olívio voltava para o acanhado apartamento que um dia conseguiu comprar com os parcos salários que recebia como funcionário do Banrisul.
Olívio Dutra é, pois, um homem honesto! Nem sei porque estou escrevendo sobre isso, porque eu participo do princípio que honestidade não é virtude. Honestidade é inerente ao cidadão. Não ser honesto é um grave defeito de caráter mas, honestidade, não é virtude. Mas virtude ou não, a verdade é que Olívio Dutra é um homem intrinsecamente honesto.
Faltou acrescentar que Olívio também foi prefeito de Porto Alegre. O melhor que já tivemos.
Após 8 anos, irmãos de Lula mantêm vida modesta
Vavá tinha 108 canários do reino, hoje não resta nenhum. O motivo: os ratos de telhado que invadiam o viveiro do seu sobrado na periferia de São Bernardo do Campo, Grande São Paulo.
A casa simples onde mora Vavá, ou Genival Inácio da Silva, irmão do presidente Lula, é a mesma há 36 anos.
Às vésperas do segundo turno da eleição, ele conversou por uma hora com a Folha. De início, gritou para a mulher, que atendeu o portão, que não queria papo. Mas logo cedeu e convidou a reportagem a entrar.
Primeiro falou na apertada sala (5 m²), decorada com móveis tipo Casas Bahia, azulejo barato, uma TV grande e três quadros: uma foto oficial do presidente (com o autógrafo "Para o meu querido irmão Vavá, um abraço do Lula"); um retrato em preto e branco da mãe, dona Lindu; e um quadro bordado de uma mulher-anjo.
Lalo de Almeida/Folhapress
Genival Inácio da Silva, o Vavá, um dos seis irmãos vivos de Lula, no terraço de sua casa, em São Bernardo
Depois, no terraço do primeiro andar nos fundos da casa, onde havia a criação, contou que os ratos arruinaram os canários e ele foi forçado a dar os que restaram.
Personagem do noticiário em 2007, quando foi indiciado pela Polícia Federal por tráfico de influência e exploração de prestígio, na Operação Xeque-Mate (que investigou máfia de caça-níqueis), Vavá foi excluído da denúncia do Ministério Público.
"Os caras pensam que a gente é milionário, quebraram a cara. Desmoralizam você, te jogam no lixo. Se não tiver cabeça, acabou."
Aposentado como supervisor de transporte da Prefeitura de São Bernardo, pouco sai de casa. Ainda se ressente de seis cirurgias nos últimos anos (no fêmur e na coluna).
DUREZA
A poucos dias de Lula deixar a Presidência, após oito anos no cargo, os seus seis irmãos vivos moram em situação semelhante à de Vavá, alguns com maior dureza.
O primogênito, Jaime, 73, vive numa periferia pobre de São Bernardo, acorda diariamente às 4h30 e vai de ônibus para o trabalho, numa metalúrgica na Vila das Mercês, zona sul de São Paulo.
Marinete, 72, a mais velha das mulheres, que foi doméstica na juventude e hoje não trabalha, é vizinha de Vavá.
Quando a Folha o entrevistava, ela surgiu no terraço dos fundos do seu sobrado, colado ao dele, para checar um contratempo. "Não tem água. Acabou a água da rua e estou sem água", queixou-se. "Marinete do céu, nenhuma das duas [da rua ou do tanque]?", questionou Vavá.
O fotógrafo Lalo de Almeida subiu no muro para checar o registro da caixa d'água. "Ó o sujeito... Ah, você não vai subir, não. Filhinho de papai, não sabe subir em muro", gracejou Marinete.
Vavá, 71, é o terceiro. É seguido por Frei Chico (José Ferreira da Silva), 68, o responsável por introduzir Lula no sindicalismo. Metalúrgico aposentado, Frei Chico recebe ainda uma indenização mensal de R$ 4.000 por ter sido preso e torturado na ditadura. Presta assessoria sindical e mora em São Caetano.
Maria, a Baixinha, 67, e Tiana (cujo nome de batismo é Ruth), 60, a caçula --Lula, 65, está entre as duas--, completam a família. A primeira vive no mesmo bairro que Vavá e Marinete e não trabalha; Tiana, merendeira numa escola pública, mora na zona leste de São Paulo.
Esses são os sobreviventes dos 11 filhos de dona Lindu com o pai de Lula, Aristides --que teve vários outros filhos com outras mulheres.
SAÚDE
Todos os irmãos do presidente Lula têm problemas de saúde. Jaime e Maria enfrentaram cânceres. Frei Chico é cardíaco. Vavá tem complicações ósseas. Marinete está com uma doença grave que os irmãos não revelam.
"Só tem o Lula bom ainda", afirma Frei Chico.
Os parentes dizem não receber auxílio financeiro do presidente e não se queixam disso. "Ele não foi eleito presidente para ajudar a família. Seria ridículo se desse dinheiro", declara Vavá.
"Não tem o que dizer. O Lula tem a vida dele, temos a nossa. Ainda posso trabalhar, trabalho", diz Jaime.
Frei Chico conta estar aliviado com o fim do mandato de Lula na Presidência. Ele acredita que vai cessar o assédio aos irmãos em busca de atalhos até o Planalto.
"Para nós, só tem a melhorar. Vamos ficar mais tranquilos em relação à paparicagem. É muita gente enchendo o saco, gente que achava que a gente podia fazer alguma coisa", afirma.
Os irmãos não têm ilusão de que, ao deixar Brasília, Lula seja assíduo nas reuniões familiares. "Estamos envelhecendo, a família vai chegando ao fim e assumem os filhos e sobrinhos, a família lateral", diz Vavá.
O consolo é pensar que o irmão famoso estará mais perto. "Ele disse que não vê a hora de voltar [para São Bernardo] para descansar um pouco. Ele está muito cansado. O Lula tem trabalhado muito", afirma Marinete.
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