29 de jun. de 2004

Bashô um santo em mim

Matsuo Bashô (1644-1694, Japão), é justamente considerado o pai do Hai-Kai. Não só foi o criador supremo como também jamais foi ultrapassado em competência na arte dos versos métricos 5-7-5, tratando da natureza. Via e descrevia as estações como ciclos pelos quais também passa a natureza humana. Em todos os caminhos de sua peregrinação a natureza e o ser humano cruzam pelas mesmas encruzilhadas. Neste sentido, poucos o sobrepujaram. Com pincel fez o épico da natureza através de ideogramas poéticos. Ninguém foi mais eficaz em dizer da importância da natureza na nossa vida. Sua senso de finitude cósmica transparece, sem nostalgia: "Estou só e escrevo para minha alegria". Era na escrita que registrava uma vida despojada mas consciente da transitoriedade: "Lembranças de um esqueleto exposto às interpéries". Suas viagens geográficas produziam viagem poéticas. Como não lembrar de Bashô através de sua discípula brasileira, Alice Ruiz, viúva de Paulo Leminski, a grande haicaista mais do que nunca viva:
"Que viagem
aqui parada!"


Nós, como as cigarras, deveríamos ler mais Bashô:
Sua morte próxima,
Nada a faz prever
No canto da cigarra.


O inverno, inclemente também no Japão, não congela sua capacidade poética:
A água é tão fria
Como pode a gaivota
adormecer?

Um vento glacial sopra
Os olhos dos gatos
pestanejam

As mãos no lume
... e na parede
a sombra de meu amigo

Separados pelas nuvens
Dois patos selvagens
dizem-se adeus


Para saber mais Caqui, o Hai Kai da Internet, em bom Português

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